Compra de carros caiu 2% em 2019, a primeira quebra em sete anos

Renault continua líder nos ligeiros, Nissan tem o maior trambolhão. Mercado nacional passa a acompanhar a tendência de descida lá fora, que já vem de 2018.

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Ricardo Lopes

Tal como se esperava, a venda de automóveis novos recuou em 2019, face a 2018. É a primeira quebra desde 2012, ano de recessão em Portugal. A compra de ligeiros de passageiros caiu 2% e nos ligeiros de mercadorias, a quebra foi de 2,1%. No total, foram comprados 262.253 carros ligeiros e 5575 pesados (-1,2%) nos 12 meses do ano passado. Facto novo: nos ligeiros de passageiros, o motor a gasolina pôs fim a 15 anos de reinado do motor diesel.

A Renault continua a ser a marca mais vendida, tanto nos ligeiros de passageiros como ligeiros de mercadorias. Porém, a marca francesa teve um comportamento desigual nesses dois mercados. Cresceu 13,4% nos ligeiros de passageiros, mas perdeu 17% nos comerciais ligeiros. No cômputo final, perdeu 6,6% do mercado de ligeiros em Portugal, mas com 37.007 unidades vendidas, manteve a liderança nacional, à frente da Peugeot que, encurtou distâncias para o líder, tal como a Citroën, que manteve o terceiro lugar.

As duas principais marcas do grupo PSA, que tem uma fábrica em Mangualde, venderam 31.043 (Peugeot) e 19.053 ligeiros (Citroën), registando crescimentos de 4,7% e 0,3%, respectivamente.

Helder Pedro, secretário-geral da ACAP – Associação Automóvel de Portugal, salienta que os dados agora divulgados, mostram que “se interrompeu um ciclo de crescimento”, apontando razões diversas. “É a primeira queda desde 2012, houve muitas notícias sobre restrições ambientais, há questões geopolíticas como o ‘Brexit’ e a guerra EUA-China, que podem ter levado consumidores e empresas a adiar a compra de automóveis ou a renovação de frotas”, afirma este responsável ao PÚBLICO.

Na tabela das dez marcas mais vendidas, apenas três ficam no vermelho em 2019. As vendas da Opel (7.ª) caíram 14%, as da Volkswagen (8.ª) recuaram 15,9% e as da Ford (9.ª) desceram 6%. Opel e VW ficam assim com quotas de mercado abaixo dos 5%.

A Nissan, que tem um dos eléctricos mais populares, não evitou o maior trambolhão do mercado nacional. Em 2018, os nipónicos que têm uma aliança com a Renault e a Mitsubishi viram as vendas recuar 30,5%. O que pode ter a ver com uma eventual perda de competitividade ambiental de modelos populares como o Qashqai, cujas emissões de CO2 passaram a ser mais penalizadoras com o início do ciclo de medições WLTP, que começou a ser aplicado em 2019.

Nas marcas de luxo, as vendas entre nove emblemas (Jaguar, Lexus, Porsche, Maserati, Ferrari, Bentley, Alpine, Aston Martin e Lamborghini) cresceram 24,9%. Estes fabricantes tinham vendido 1778 unidades em 2018; em 2019, cresceu para 2221 unidades.

O destaque aqui vai para a Porsche, que passou de 260 carros de 2018 para 749 em 2019, um crescimento de 188%, quase três vezes mais unidades vendidas, com uma ressalva: é que estes números da Porsche não incluem a totalidade das matrículas Porsche em 2018, segundo a ACAP. O que significa que o aumento de 2018 para 20198 poderá ter sido um pouco menos expressivo. 

Entre as marcas mais acessíveis, verifica-se que a Fiat reconquistou à Mercedes o quarto lugar que tinha perdido em 2018. As descidas acentuadas da Nissan e da Opel colocam a BMW no sexto lugar do mercado nacional. É uma subida de dois lugares, apesar de a marca bávara ter registado um pequeno crescimento de 0,9% nas vendas. A Seat também reentra para o décimo lugar, graças a um crescimento de 17,6% nas vendas. Nesta matéria, o campeão do crescimento foi a Jeep (+31,9%), mas a construtora americana que pertence à Fiat tem vendas pouco expressivas (1911 unidades em 2019, menos do que as 1979 da Tesla). Entre marcas com mais de cinco mil carros vendidos, o melhor resultado pertence à coreana Hyundai, que cresceu 26,9% em 2019, para 6229 veículos vendidos.

Nota ainda para a Mazda, que ganhou 24,2% nas vendas e agora ultrapassa as 3000 unidades comercializadas, e para a Ford, que está numa cura de “emagrecimento” mundial. O fabricante norte-americano anunciou em 2019 milhares de despedimentos e uma parceria com a VW. A avaliar pelas vendas no mercado nacional, a marca que esteve na fundação da Autoeuropa, a maior unidade de produção de carros em Portugal, bem precisa de ajuda: tem 4,38% de quota de mercado, a curta distância da Seat e da Toyota, que é a 11.ª em Portugal.

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