Em queda nas sondagens, CDU alemã debate quem deve ser candidato a chanceler

Irá Friedrich Merz liderar uma revolta contra Annegret Kramp-Karrenbauer? A União Democrata Cristã de Angela Merkel começa esta sexta-feira um congresso com muitos a afiarem as facas para pôr em causa uma regra não escrita: o líder do partido é o candidato a chanceler.

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Annegret Kramp-Karrenbauer deve passar um mau bocado neste congresso Michele Tantussi/REUTERS

Quando há um ano a CDU escolheu Annegret Kramp-Karrenbauer para sua líder após a retirada da chanceler, Angela Merkel, da posição mais importante do partido, sabia-se que tinha um caminho difícil pela frente. A sua vitória sobre Friedrich Merz, o candidato apoiado por Wolfgang Schäuble, foi curta. E a história tem mostrado que os sucessores de líderes fortes não duram muito tempo no cargo – Schäuble, que sucedeu a Helmut Kohl, é aliás um exemplo disso: foi afastado da liderança do partido por uma então pouco conhecida Angela Merkel.

A sucessora de Merkel à frente da CDU não conseguiu ajudar o partido a suster quedas nas eleições: nas europeias (28%), assim como três eleições em três estados federados do Leste do país, mostraram que estavam errados os que pensavam que o problema eleitoral do partido podia ser o cansaço de Angela Merkel.

Annegret Kramp-Karrenbauer começou por recusar integrar o Governo de Merkel para se concentrar em fortalecer a sua posição no partido e desenhar a sua estratégia. Mas acabou por ocupar o Ministério da Defesa deixado vago por Ursula von der Leyen em Junho.

Desde então, a popularidade da mulher conhecida pela sigla AKK tem caído, e nota a emissora Deutsche Welle, ela é hoje a última na lista dos dez políticos mais populares da Alemanha (Merkel é, ainda, a mais popular). Pior para a líder da CDU, o partido continua a descer nas sondagens a nível nacional, com 27% a 28% nas últimas sondagens.

Os políticos da CDU estão preocupados e alguns, sob anonimato, falam na enorme queda do SPD, que a nível nacional está com apenas 15% nas sondagens. “Ou mudamos de política, ou as pessoas vão mudar a composição do Bundestag”, o Parlamento nacional, disse o líder do partido e chefe do governo do estado federado da Saxónia, Michael Kretschmer.

Merz favorito

E mais alemães gostariam de ver Merz chefiar a CDU e a ser o potencial sucessor de Merkel (que prometeu manter-se na chefia do Governo até 2021, quando termina o seu mandato) do que a actual líder, segundo uma sondagem do instituto Emnid para o jornal de grande circulação Bild am Sonntag: 31% preferem Merz, 19% Kramp-Karrenbauer. Há dez meses, quando a líder foi escolhida, vencia ela por 33% a 28%.

Antes do congresso de dois dias em Leipzig, Merz disse que “não haverá qualquer decisão pessoal, nem discussões sobre personalidades” durante o encontro. Mas ao reagir ao resultado da sondagem de domingo não deixou de afirmar que se sentiu “encorajado”.

O analista político Frank Decker comentou à Deutsche Welle que a líder da CDU não conseguiu ter o partido consigo nem calar os críticos. Mais: “Quem quer concorrer pela União [CDU/CSU] tem de ser capaz de convencer que também vai conseguir a chancelaria”, comentou – e Annegret Kramp-Karrenbauer ainda não conseguiu fazê-lo.

A ala jovem da CDU chegou mesmo a propor o fim da regra não escrita de que quem lidera o partido é por defeito quem se candidata à chancelaria, sugerindo que o partido pusesse a questão a votação. A ideia parece não ter, no entanto, apoio suficiente no partido.

Desafiando as críticas, Annegret Kramp-Karrenbauer disse que quem quiser pôr em causa a sua liderança deve aproveitar essa oportunidade no congresso. É pouco provável que isso aconteça, apesar de tudo ainda está no cargo há pouco tempo. O que deve acontecer, antecipam muitos comentadores, é que Merz prepare um caminho no seu discurso – aproveitando a oratória, que é um dos seus pontos fortes.

No diário Süddeutsche Zeitung, o repórter parlamentar Robert Rossmann diz que o melhor que Annegret Kramp-Karrenbauer pode esperar deste congresso “é sobreviver sem ser ferida”.

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