Vai o SPD escolher um líder pró ou anti-coligação com Merkel?

Partido Social Democrata anuncia neste sábado resultado de votação depois de maratona de campanha com seis pares de concorrentes.

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Olaf Scholz é o mais proeminente candidato, mas a sua defesa de disciplina orçamental torna-o pouco popular no SPD FELIPE TRUEBA/EPA

O dilema hamletiano do Partido Social Democrata – continuar ou não no Governo de Angela Merkel – estendeu-se para a corrida à liderança dos social-democratas, que este sábado anunciam o resultado de uma votação dos seus membros a seis equipas de candidatos à liderança. É improvável que uma das candidaturas tenha uma maioria para vencer de imediato, tendo que haver uma segunda volta​.

A liderança dual com um homem e uma mulher é, na Alemanha, uma tradição dos Verdes, que têm tido sempre uma equipa de um homem e uma mulher à frente do partido. O SPD está a adoptar este modelo pela primeira vez, fazendo ainda da escolha da liderança um exemplo de participação das bases, levando os candidatos pelo país num tour de 23 conferências regionais.

Se este sábado não houver uma maioria absoluta para um duo de candidatos, os membros do partido vão poder pronunciar-se numa segunda votação, cujo resultado deve ser conhecido no final de Novembro. A equipa mais votada deve receber a confirmação do partido num congresso em Dezembro – uma reunião em que os delegados votam ainda directamente sobre a continuação do partido na “grande coligação”, uma espécie de bloco central, com a CDU de Angela Merkel.

O partido não tem uma escolha fácil: ou se mantém coligado com Merkel e arrisca continuar a perder votos, ou sai, e arrisca perder apoio por ser o responsável por uma eleição antecipada.

O caminho para o SPD ser o maior partido da oposição parecia traçado quando, após as últimas legislativas em que conseguiu 20,5% (o pior resultado da história do pós-guerra), Merkel negociava com Verdes e o Partido Liberal Democrata (FDP) a formação de uma coligação. Mas os partidos tinham grandes diferenças entre si e os liberais anunciaram que desistiam das negociações, deixando o SPD perante o difícil dilema de voltar a ser o parceiro de Merkel ou ser o responsável por uma nova eleição (o FDP, que desistiu das negociações de coligação, caiu entretanto nas sondagens; os Verdes subiram).

Em referendo, os membros do SPD decidiram-se então pela continuação no executivo de “bloco central”, com uma condição: que esta fosse avaliada a meio do mandato, o que acontece em Dezembro.

O mau resultado das eleições europeias (15,8%) precipitou entretanto a demissão da líder, Andrea Nahles.

Nesta disputa pela liderança, o candidato mais proeminente é o ministro das Finanças, Olaf Scholz, que se canddiata com Klara Geywitz, da região da antiga RDA (República Democrática Alemã).

Scholz é o rosto da continuidade, protagonizando a defesa das restrições orçamentais, contrariando uma linha no SPD que defende que o país tem de passar, sim, a investir. Scholz tem sido defensor da “grande coligação” – afinal, é vice-chanceler – e esse é considerado um dos seus pontos fracos. Mas agora, na campanha, tentou mostrar-se ambivalente.

Se é esperado que este duo tenha muitos votos, o risco para Scholz é que numa segunda volta tenha que enfrentar candidatos contra a grande coligação que recebam todos os votos anti-Scholz.

Outro dos duos que tem boas hipóteses de passar a uma segunda volta é o composto por Norbert Walter-Borjans e Saskia Esken, que têm o apoio da Juventude do SPD e da ala da Renânia do Norte-Vestefália, importante bastião do partido – e são contra a continuação no Executivo com Merkel. “O compromisso eterno está a tirar-nos o ar para respirar”, disse Esken, citada pelo jornal Die Zeit.

Há ainda Michael Roth, responsável pelas questões europeias no Governo, e Christina Kampmann, política regional da Renânia do Norte-Vestefália, que são os mais jovens candidatos e geraram uma pequena onda de entusiasmo. 

No total, há dois duos pró-continuação no Governo, dois contra, e dois que, embora de figuras mais ligadas à ala esquerda do SPD, não têm uma posição sólida na questão. Uma sondagem do diário Die Welt do início de Outubro dava quatro duos com entre 19 e 21%, ou seja, a corrida parecia estar muito aberta.

Entretanto, à espera, está o humorista Jan Böhmermann, que tem um programa de sátira política, que fez uma muito pública entrada no partido em Outubro. Já não foi a tempo para concorrer à liderança, mas isso não o preocupa. “Até à Primavera de 2020 o SPD vai estar à procura de um novo líder, e a minha equipa, e eu, estaremos ainda mais bem preparados”, disse.

Desde a primeira vez que entrou numa “grande coligação” com Merkel, em 2005, o SPD teve seis líderes – e a sua votação nunca mais chegou perto dos 34% que obteve nesse ano, tendo descido para o pior resultado, 20,5%, nas últimas eleições em 2017, estando actualmente com apenas com 13,5% nas sondagens.

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