Rádio Nova: uma escola de jornalismo do Porto celebrou 30 anos

A Rádio Nova emite desde 1989 e celebrou, no passado dia 4 de Setembro, os seus 30 anos de existência. Assume-se como “uma antena urbana” do Porto.

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A Rádio Nova, a comemorar 30 anos, foi para muitos uma escola de jornalismo Rui Gaudêncio

Foi no dia 4 de Setembro de 1989, por volta das 5h30, com “o cantar do galo, o choro de uma criança e uma comunicação do director-geral da altura – Francisco José Oliveira – que nasceu a Rádio Nova”, contou ao PÚBLICO o actual administrador deste órgão de comunicação, Mário Jorge Maia. Agora mais focada na componente musical, a Rádio Nova continua a apostar na informação hora a hora (das 7h às 20h), nas informações de trânsito e “na música de qualidade”, recusando o mainstream.

Júlio Magalhães, João Fernando Ramos, Isabel Reis e outros jornalistas portugueses de renome têm em comum o facto de terem feito parte de um projecto novo, que pretendia “fazer uma rádio de informação completamente diferente do que existia até então, com uma programação muito rigorosa”, nas palavras do actual administrador. Foi na frequência 98.9 que deram os primeiros passos “a sério” na profissão, há 30 anos. No fundo, a Rádio Nova, a comemorar três décadas de existência, é um órgão de comunicação que foi para muitos uma escola de jornalismo.

Ao longo do tempo, esta “escola” foi largando a sua componente informativa para se tornar, gradualmente, uma rádio musical, dedicando à componente da música o mesmo rigor que [tinha] enquanto rádio de informação”. Segundo Mário Jorge Maia, esta rádio continua a ser “diferenciadora, quer a nível musical, quer a nível da programação”, embora se tenha visto obrigada a adaptar-se à realidade actual.

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Pela Rádio Nova passaram centenas de entrevistados como, por exemplo, Rui Reininho Fernando Veludo/NFactos

Como contou João Fernando Ramos, jornalista da RTP, este órgão radiofónico “representou o [seu] crescimento”: “Foi o sítio onde aprendi mais na minha vida, é uma referência para mim”. Também Júlio Magalhães, director-geral do Porto Canal e ex-colaborador da rádio, é da mesma opinião: “A Nova deu-nos uma grande visibilidade, bem como ferramentas para sermos profissionais completos” num mundo jornalístico que, na altura, estava segmentado.

Com cerca de 30 jornalistas, a Rádio Nova foi, nos primeiros anos, “um projecto inovador e fascinante”, asseguram. “Além de fazermos coisas com as quais nem sonhávamos, estávamos sempre em directo e fazíamos de tudo”, frisou Isabel Reis, professora de rádio na Universidade de Letras do Porto, cuja colaboração na Rádio Nova lhe deu a oportunidade de “cobrir acontecimentos que marcaram a história, como a junção das duas Alemanhas”. João Fernando Ramos, para quem “a rádio era e é uma paixão”, também admitiu que foi tudo vivido no imediato. “Tínhamos uma tecnologia completamente nova, onde nos pediam para investigar histórias, para fazer um jornalismo interventivo e actuante”, disse o jornalista, que fez de tudo um pouco. “Fui editor, repórter e terminei como director de informação da Rádio Nova”, adiantou.

Por sua vez, Joaquim Mota, actual coordenador da Rádio Nova, apaixonado pela música e pela rádio, “não [consegue] dissociar a vida normal da rádio”. “É uma profissão que eu gosto mesmo de fazer”, sobretudo pela “imprevisibilidade”, frisou. Para o responsável, a rádio continua a ter um papel importante na vida das pessoas, que “gostam de ouvir música e de andar informadas”.

Rádio Nova celebrou 30 anos de existência

Rádio Nova celebrou 30 anos de existência

O futuro da rádio visto pelos profissionais da área

Se, por um lado, a rádio continua a ser fundamental para muitos ouvintes, por outro lado está “empobrecida no que diz respeito à diversidade”. Quem o diz é Isabel Reis, convicta de que “há rádios que perderam a vertente da informação” devido a variados factores: “dificuldades económicas, publicidade difícil de arranjar (sobretudo em emissoras mais pequenas) e custos e recursos humanos de uma redacção”.

Júlio Magalhães é da mesma opinião e crê que, embora “a rádio [continue] a ser a companhia de muitos portugueses, deixou de se investir na informação”. “Tenho muita pena que a rádio tenha evoluído mais para a área musical e menos para a área do jornalismo”, finalizou o jornalista, entendendo que “faz falta rádio com palavra”.

Já Mário Jorge Maia tem uma visão mais optimista relativamente ao futuro da rádio, para quem este órgão de comunicação social “tem demonstrado um nível de resiliência e superação fundamentais para continuar a ser um meio querido e próximo das pessoas”. E se houver dúvidas, João Fernando Ramos esclarece-as: “Este meio continua a ser muito procurado pelos consumidores de informação”, não se tendo registado “quebras nas audiências de rádio nos últimos anos”. No entanto, rematou, perdeu-se muita da essência radiofónica ao longo do tempo.

Texto editado por Ana Fernandes

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