A Oficina regressa ao seu primeiro espectáculo, 25 anos depois

Em 1994, a companhia estreava-se com um espectáculo para cerca de 40 actores, A Grande Serpente. Agora será um intéprete sozinho em palco a encarná-las: João Pedro Vaz.

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A Grande Serpente inaugurou em 1994 a actividade do Teatro Oficina DR

O Teatro Oficina vai encerrar as comemorações do seu 25.º aniversário com uma viagem de regresso ao momento em que tudo começou. A 2 de Julho de 1994, a companhia apresentava-se pela primeira vez ao público, na Fábrica Âncora, que hoje alberga o centro Ciência Viva de Guimarães. O espectáculo de veia comunitária com que se estreou, A Grande Serpente, com encenação de Moncho Rodríguez, o primeiro líder da companhia, reuniu então um elenco de cerca de 40 actores, entre os quais Victor Hugo Pontes, que viria a tornar-se um reconhecido coreógrafo. Um quarto de século depois, o actual director artístico, João Pedro Vaz, vai trocar de pele e recriar essa obra, a solo, no palco do Centro Cultural Vila Flor, nos dias 13 e 14 de Dezembro.

“Este ano andámos a revisitar o teatro da memória e isto é uma espécie de epílogo”, explicou o actor e encenador ao PÚBLICO, à margem da apresentação do programa da cooperativa municipal Oficina para os meses de Setembro a Dezembro. Para remontar esse espectáculo que nunca viu, encarnando agora sozinho a multidão que originalmente lhe dava corpo, João Pedro Vaz já entrevistou Moncho Rodríguez e 11 dos actores. O objectivo, porém, é entrevistar todos os intervenientes para que a peça possa sinalizar a capacidade do teatro para prevalecer para lá do aqui e agora. “Queremos que o teatro vença o tempo e seja mais imortal do que nós, vencendo a efemeridade. Isto ficou no corpo das pessoas que o fizeram. Agora vai para o meu corpo e vamos ver o que vai dar”, diz.

A Grande Serpente encerrará um ano marcado por criações a partir de arquivos e testemunhos ligados ao passado da companhia. Mas o último quadrimestre da Oficina também olha para Portugal e para o mundo a partir de Guimarães: em cena estarão também Vão, espectáculo de novo circo da companhia Erva Daninha que passará pela cidade a 2 de Novembro, através da rede 5 sentidos, que inclui vários outros equipamentos culturais espalhados por Portugal, e Opus, coreografia de Christos Papadopoulos, nome emergente da dança grega, que se apresentaráa 12 de Outubro no âmbito do programa internacional Aerowaves. 

O programa de Setembro a Dezembro, vincou João Pedro Vaz, “compatibiliza dois eixos que as pessoas têm a tendência, de maneira provinciana, a achar incompatíveis”: o “trabalho profundo no território” e a “projecção no mundo”.

CIAJG: novo director só a partir de Outubro

O Centro Internacional de Artes José de Guimarães (CIAJG), outro dos pólos de actuação da Oficina, ficou entretanto sem director artístico e assim vai continuar até Outubro, pelo menos. Responsável pela programação do espaço cultural nos seus primeiros sete anos, Nuno Faria é desde Maio o director artístico do Museu da Cidade, título genérico que recentemente passou a designar os vários museus tutelados pela Câmara Municipal do Porto. O curador vai, no entanto, comissariar algumas das exposições já previstas para o centro de arte contemporânea e integrará também o novo conselho consultivo do CIAJG. Esse grupo, composto por “pessoas com ligação ao território” e por outras “com experiência no contexto museológico”, vai ser criado no próximo mês, antes de ser escolhida uma nova cara para liderar o CIAJG, revelou João Pedro Vaz. “Queremos fazer essa primeira reunião do Conselho Consultivo porque mais importante do que um nome é uma estratégia. Há um saber acumulado nestes sete anos”, realçou o director da Oficina.

Responsável pela escolha do novo director artístico, em diálogo com o município e com o próprio José de Guimarães, a Oficina quer preservar a “herança ímpar” de Nuno Faria na curadoria, sublinhou João Pedro Vaz; um dos trabalhos a cargo do curador para 2020 será a exploração do legado da exposição inaugural daquele espaço, Para além da história, ali apresentada em 2012.

Ainda no último quadrimestre deste ano, o CIAJG vai acolher a exposição Plant Revolution, de Margarida Mendes. Sob o mote “resgatar a diversidade”, o centro de artes teve, para João Pedro Vaz, uma “programação extremamente pertinente do ponto de vista político” em 2019, que prossegue a partir 19 de Outubro com uma abordagem à relação entre o homem e os ecossistemas. “Vamos fazer do piso 0 uma espécie de planeta, com um programa de conferências associado”, antecipou.

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