OMS: microplásticos na água para consumo não são (para já) um risco

Relatório da Organização Mundial da Saúde destaca que o tratamento de águas residuais pode remover mais de 90% dos microplásticos dessas águas, mas muitos países não têm acesso a esses tratamentos.

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Segundo o relatório da OMS, as informações sobre o impacto dos microplásticos na água para consumo ainda são limitadas Eric Thayer/Reuters

Nos níveis actuais, os microplásticos na água para consumo humano têm um baixo risco ou parecem mesmo não representar um perigo para a saúde. Contudo, as informações sobre este assunto ainda são limitadas e é preciso mais investigação. Esta é uma das conclusões do relatório “Microplásticos na Água para Consumo” divulgado esta quinta-feira pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Juntando vários resultados de estudos científicos e recomendações, este é o primeiro esforço da OMS para analisar os potenciais riscos para a saúde humana associados à exposição dos microplásticos no ambiente.

“Ao longo dos últimos anos, muitos estudos reportaram a presença de microplásticos na água da torneira ou engarrafada, o que levanta questões e preocupações sobre o impacto que os microplásticos na água para consumo poderão ter na saúde humana”, lê-se no início do relatório, que faz um resumo de provas científicas, resultados-chave e recomendações sobre estas micropartículas, que podem ir de poucos micrómetros (cada micrómetro equivale à milésima parte do milímetro) até aos cinco milímetros.

Sobre os possíveis riscos para a saúde, foram considerados os perigos associados às partículas, aos químicos e aos microorganismos agarrados ou que colonizam os microplásticos, os biofilmes. Quanto às partículas, refere-se que, provavelmente, microplásticos maiores do que 150 micrómetros não são absorvidos pelo corpo humano e calcula-se que a assimilação das partículas mais pequenas seja reduzida. Ainda assim, considera-se que a absorção de microplásticos mesmo muito pequenos pode ser mais elevada. Contudo, as informações até agora ainda são muito limitadas e os estudos em animais mostram que isso acontece em situações em que existem “exposições extremamente altas” de microplásticos, o que não ocorrerá na água para consumo. Portanto, “conclusões sólidas do risco associado à ingestão de partículas de microplástico através da água para consumo ainda não estão determinadas”.

Já sobre os químicos e os biofilmes assinala-se: “Com base nas provas disponíveis, os químicos e os agentes patogénicos microbianos associados aos microplásticos na água para consumo constituem um baixo risco para a saúde humana.”

Outros dos pontos destacados neste relatório vai para os sistemas de tratamento de águas residuais e de água para consumo. Segundo o relatório, estes sistemas são “altamente eficientes” a remover partículas com características semelhantes aos microplásticos. De acordo com os dados citados pela OMS, o tratamento de águas residuais pode remover mais de 90% dos microplásticos dessas águas, sobretudo durante a filtragem. E destaca-se que o tratamento convencional da água para consumo – que inclui a coagulação e a filtragem – pode remover partículas mais pequenas do que um micrómetro. Mas, mais uma vez, recomenda-se que é preciso mais investigação.

Além disso, alerta-se que o tratamento de águas residuais e para consumo não está disponível em muitos países. Por exemplo, 67% da população de países de baixo e médio rendimento têm falta de acesso a redes de esgotos. “Nestes sítios, os microplásticos podem existir em grandes concentrações nas fontes de água doce para consumo”, lê-se, frisando-se que, ao combater-se o problema da exposição humana à água contaminada com fezes, essas comunidades também minimizam o problema dos microplásticos.

Uma melhor gestão

Havendo ou não qualquer risco para a saúde humana vinda dos microplásticos, o relatório da OMS assinala a necessidade de se melhorar a gestão dos plásticos e de se reduzir a sua poluição tanto por parte dos decisores políticos como dos cidadãos. Afinal, só assim se poderá reduzir a exposição humana a estas micropartículas e a sua contaminação no ambiente.

Como recomendações, o relatório destaca que os reguladores e fornecedores de água devem ter como prioridade a remoção de agentes patogénicos microbianos e químicos que coloquem em risco a saúde humana, como os que causam diarreias mortais, o que também ajudará a remover microplásticos. Quanto à monitorização rotineira de microplásticos na água para consumo, não é recomendada até que existam provas que mostrem o seu risco para a saúde humana.

Por isso, como sublinha todo o trabalho, é preciso mais investigação “com qualidade” para se obter informação mais precisa dos impactos na saúde vindos dos microplásticos na água de consumo. Por exemplo, a OMS sugere que se desenvolvam métodos padronizados para medir os microplásticos na água – evitando assim investigações com diferentes procedimentos – ou estudos que compreendam melhor a ocorrência destas micropartículas nas redes de abastecimento de água, a eficácia de diferentes tratamentos, as suas fontes na água doce ou os efeitos toxicológicos após à sua ingestão. 

“Precisamos de saber urgentemente mais sobre o impacto dos microplásticos na saúde, porque eles estão em todo o lado”, afirma Maria Neira, directora do Departamento de Saúde Pública da OMS, num comunicado da organização. “Com base na informação limitada que temos, os microplásticos na água para consumo não parecem constituir um risco para a saúde nos níveis actuais, mas precisamos de saber mais.”

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