Já foram produzidos 8,3 mil milhões de toneladas de plástico no planeta

Cientistas estimam que, se a actual tendência de produção continuar, aproximadamente 12 mil milhões de toneladas de plástico usado vai acabar em aterros ou no ambiente em 2050.

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A produção global de plásticos aumentou de 2 milhões de toneladas em 1950 para 400 milhões em 2015 Reuters

É a primeira análise global da produção de plásticos no mundo, desde o início do seu fabrico em massa nos anos 50. As contas e estimativas que a equipa de cientistas norte-americanos publica na revista Science Advances mostram que o problema está longe de uma solução. Das 8,3 mil milhões de toneladas que se estima terem sido produzidas até 2015, 6,3 mil milhões já se terão transformado em desperdício e nesse monte de “lixo” apenas 9% foi reciclado e 12 % foi incinerado. Faltam 79%? Pois, essa é a fatia que estará depositada em aterros e no ambiente.

Se o passado recente não é animador, o cenário desenhado pelos cientistas para o futuro será menos ainda. Se a actual tendência continuar, aproximadamente 12 mil milhões de toneladas de plásticos vão amontoar-se em aterros e no ambiente em 2050. É um fardo pesado para o planeta Terra carregar.

“A maioria dos plásticos não é biodegradável em nenhum sentido e, por isso, o desperdício de plásticos que os humanos produziram podem ficar connosco durante centenas ou mesmo milhares de anos”, lamenta Jenna Jambeck, uma das autoras do estudo e investigadora na Universidade de Georgia (EUA), citada num comunicado sobre o estudo. No trabalho, foram analisadas as estatísticas de produção de resinas, fibras e aditivos de várias fontes da indústria.

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Segundo o estudo, 79% dos plásticos produzidos estará em aterros e no ambiente António Carrapato

Segundo referem no artigo, a produção global de plásticos aumentou de 2 milhões de toneladas em 1950 para 400 milhões em 2015, num crescimento que ultrapassa a maioria dos materiais produzidos pelo homem e que só ficará atrás de matérias-primas usadas no sector da construção como o aço e o cimento. O problema é que o “tempo de vida” de uma embalagem, de um saco ou de outro produto qualquer de plástico é bem mais reduzido do que algo construído com cimento e aço.  Segundo Roland Geyer, principal autor do artigo, “metade de todos os plásticos transforma-se em lixo depois de quatro ou menos anos de uso”. 

O estudo é sobretudo (mais) um alerta e um apelo à criação de uma base “para a gestão sustentável de materiais”. “Dito de forma simples, não se pode gerir o que não se está a medir e, por isso, consideramos que agora que que temos estes números as discussões de políticas ficarão com mais informação e apoiadas em factos”, sustenta Roland Geyer. Em 2015, Portugal juntou-se a um grupo de países que começou a taxar os sacos de plástico leves usados no comércio, sobretudo, em hipermercados, e que passaram a custar 10 cêntimos. A medida foi adoptada na expectativa de reduzir o uso de uns estimados 466 sacos per capita por ano para 50 sacos per capita por ano. 

A mesma equipa de investigadores tinha já publicado um estudo na revista Science em 2015 que apontava para as quantidades impressionantes de plástico que acaba mergulhado nos oceanos. Esse estudo referia que todos os anos, vão parar aos oceanos entre cinco e 13 milhões de toneladas de plásticos, com dados referentes a 2010 sobre 192 países costeiros. Nessa altura, no top dos países que mais plásticos deixam ir parar ao mar estava a China com um valor entre 1,3 e 3,5 milhões de toneladas. 

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Apenas 9% do plástico terá sido reciclado Gonçalo Português

Um outro estudo publicado este ano por uma equipa de investigadores da Faculdade de Medicina e Ciências da Saúde da Universidade Putra, na Malásia, na revista Scientific Reports, do mesmo grupo da revista Nature, analisou 17 amostras de sal de mesa vendido em oito países (incluindo Portugal) e confirmou contaminação com microplásticos. Uma das três amostras portuguesas testadas atingiu o máximo observado com dez microplásticos por quilo de sal.

“Há pessoas que ainda se lembram de um mundo sem plásticos. Mas hoje estão tão presentes que não conseguimos ir a lado nenhum sem encontrar desperdício de plásticos no nosso ambiente, incluindo nos oceanos”, constata Jenna Jambeck. 

Sem fundamentalismos, os investigadores não defendem uma limpeza total e definitiva dos plásticos da face da Terra – até porque, sustentam, existem áreas onde os plásticos são indispensáveis - mas antes uma “análise mais crítica” do seu uso e do seu valor que permita perceber onde faz sentido usar plástico e onde podemos prescindir dele. 

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