O que se passa em Hong Kong?

Há dois meses que há manifestações nas ruas do território que a China administra com a promessa de manter a política “um país, dois sistemas”. Os protestos estão a chegar a um ponto em que se torna crível a intervenção militar de Pequim. Aqui fica uma revisão do que está em causa.

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A polícia de Hong Kong usou bastões contra os manifestantes no aeroporto THOMAS PETER/REUTERS

Porque começaram os protestos?
Em Junho, contra a aprovação iminente de uma lei que permitiria a extradição de suspeitos de qualquer crime para a China continental, para serem lá julgados. Os opositores à lei consideram que punham em perigo os críticos de Pequim, que poderiam enfrentar o sistema judicial chinês, em que a detenção arbitrária e a tortura são comuns, segundo as organizações de defesa dos direitos humanos. O executivo de Hong Kong acabou por suspender a legislação, face à grande dimensão dos protestoschegaram a ter dois milhões de pessoas – mas não a retirou completamente.

É só por causa desta proposta de lei que os manifestantes continuam na rua?
Não. Os protestos deram corpo a um sentimento generalizado de que o “governo do território não trabalha a favor da população, antes para aplicar uma agenda de Pequim”, como diziam manifestantes em Julho ao Washington Post. Agora, o movimento tem um caderno reivindicativo com cinco pontos principais: a retirada da lei da extradição; que o governo de Hong Kong se retracte de ter descrito as manifestações como um “motim”; que sejam retiradas as acusações contra os manifestantes; que seja lançada uma investigação sobre o uso de força durante os protestos; e o “sufrágio universal”, que permita aos eleitores de Hong Kong eleger directamente os seus líderes, ao contrário do processo actual, que implica o envolvimento de Pequim.

Houve uma grande escalada dos protestos?
No início de Junho, centenas de milhares de pessoas saíram à rua para protestar. A polícia respondeu em força, com gás lacrimogéneo e bastões para dispersar a multidão. Esta resposta inspirou mais protestos. Em meados de Junho, dois milhões de pessoas participaram no que terá sido a maior manifestação de sempre em Hong Kong. Em Julho, começou a registar-se alguma violência – os manifestantes vandalizaram-se a Assembleia Legislativa. Foi um ponto de viragem. Um ataque de um grupo de mafiosos chineses a manifestantes e utilizadores de uma estação de comboio, sem que a polícia protegesse quem passava, indignou os simpatizantes do movimento.

No fim desse mês, mais de mil manifestantes juntaram-se no aeroporto. Houve protestos de funcionários públicos, de famílias, uma greve geral que paralisou boa parte do território. Canta-se a música Do you hear the people sing?, do musical Les Misérables – um hino revolucionário dos estudantes revoltosos na Paris de 1932. A China censurou a canção. Na noite de terça-feira, a violência entre manifestantes e polícia no aeroporto atingiu um ponto alto: os manifestantes atacaram e expulsaram um homem que diziam ser um polícia infiltrado, e um jornalista do diário chinês Global Times.

Como respondeu o governo de Hong Kong?
Carrie Lam, a chefe do executivo de Hong Kong, disse que a lei de extradição está “morta”. Os activistas pró-democracia disseram que esta expressão era “um truque”, uma “mentira servida ao povo de Hong Kong”, e pediram a sua demissão. Ela, no entanto, mantém-se no cargo, e esteve bastante tempo sem ser vista em público. Na semana passada, voltou a aparecer, apelando ao fim “da violência”. Disse que Hong Kong pode estar “a ser arrastada para o abismo”.

Qual a resposta do Governo de Pequim?
O Governo central manteve-se firme no apoio ao executivo de Carrie Lam. O exército tem feito ameaças de ordenar às forças colocadas em Hong Kong para intervir, se o executivo local o pedir. “Hong Kong enfrenta a mais grave situação desde a passagem para a China”, disse na semana passada Zhang Xiaoming, um dos mais importantes responsáveis chineses pelos assuntos de Hong Kong. Esta semana, os protestos “começaram a mostrar sinais de terrorismo”, disse o porta-voz do Gabinete de Ligação com Hong Kong e Macau.

Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post

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