Hospital Amadora-Sintra com escalas “ilegais” na urgência de obstetrícia

Sindicato diz que a falta de anestesistas obriga a um “plano de contingência” durante o mês de Agosto no serviço de urgência de obstetrícia do hospital Amadora-Sintra — o que põe “em risco a prestação de cuidados”.

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Rui Gaudêncio/ARQUIVO

O hospital Amadora-Sintra tem escalas de urgência de obstetrícia que são “de todo ilegais”, com os médicos a fazer sete bancos de 24 horas em cinco semanas, denunciou esta sexta-feira a Ordem dos Médicos (OM).

Segundo o Sindicato Democrático dos Enfermeiros de Portugal (Sindepor), a urgência de Obstetrícia e Ginecologia deste hospital irá funcionar de forma condicionada pelo menos até 19 de Agosto “por falta de recursos médicos de anestesiologia” — o que põe em causa “a saúde de todos os portugueses e põe em risco a prestação de cuidados”.

Contactado pelo PÚBLICO, fonte do gabinete de comunicação do hospital Amadora-Sintra diz que “não estão previstos problemas” e remeteu esclarecimentos para a Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (ARSLVT), com quem o PÚBLICO ainda não conseguiu falar.

“As urgências do Fernando Fonseca não correspondem a uma escala mínima. As maternidades do país deviam ter oito equipas com cinco elementos para cobrir todo o mês. Há hospitais que tiveram de passar para sete equipas. O Fernando Fonseca [Amadora-Sintra] passou para seis equipas com quatro elementos e fazem sete bancos de 24 horas em cinco semanas. É de todo ilegal”, declarou à agência Lusa o presidente da secção regional do Sul da Ordem dos Médicos.

Alexandre Valentim Lourenço indica que, em 50 fins-de-semana, os médicos da urgência de obstetrícia do Amadora-Sintra “estão ocupados em 30 fins-de-semana”.

Este é um dos exemplos do esforço dos médicos feito nas maternidades do Sul do país, que tem ocorrido ao longo do ano e que se agrava no período de Verão, quando é necessário suprir férias de colegas.

“Em Agosto, nas maternidades do Sul, temos maior quantidade de equipas que têm menos gente. E não existe conhecimento, entre os profissionais, do que está a acontecer nas outras maternidades de forma prévia, não existe concertação”, critica Valentim Lourenço.

“Esforço sobre-humano” 

Durante o último mês e em Agosto aumentaram as transferências de grávidas entre hospitais e os tempos de espera estão a ser mais prolongados.

O representante da Ordem dos Médicos avisa que as maternidades estão já a ultrapassar a situação limite, com profissionais a fazerem um “esforço sobre-humano” e a fazerem num mês mais de 100 horas de serviço de urgência além do habitual.

Alexandre Valentim Lourenço, que é médico obstetra, alerta que as equipas estão esgotadas e que há até médicos a desistir do sistema, como o caso de um director de obstetrícia que pediu reforma compulsiva aos 59 anos.

À Lusa, Alexandre Valentim Lourenço queixou-se da ausência de medidas da tutela para resolver os problemas identificados pelos profissionais, sobretudo em relação ao período do Verão, depois de em final de Junho terem sido apresentadas propostas pela Ordem.

“Estamos a viver a síndrome da avestruz. Pomos a cabeça na areia para fingir que o problema não existe. E o problema está a agravar-se e qualquer dia a avestruz morre. Não se reconhecem os problemas e não se faz esforço. Não se recompensam os profissionais pelo esforço sobre-humano que fazem”, lamentou o representante da Ordem na região Sul, onde a falta de profissionais nas maternidades é mais sentida.

O CDS disse que “encarava estes factos com muita preocupação” e pediu à ministra da Saúde, Marta Temido, que justificasse estas escalas e que dissesse quais as medidas que foram tomadas para resolver o problema. “Entendemos ser da maior pertinência e urgência que o Governo preste esclarecimentos sobre este grave problema no Hospital Amadora-Sintra”, refere o CDS.

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