Negociações de paz entre EUA e taliban entram numa fase “crucial”

Arrancou este sábado a oitava ronda de conversações sobre o Afeganistão em Doha. Ambas as partes esperam anunciar acordo até 13 de Agosto.

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Escombros de um edifício atingido por uma bomba no passado domingo, nos arredores de Cabul EPA/HEDAYATULLAH AMID

Os representantes do Governo norte-americano e dos líderes taliban iniciaram este sábado, em Doha, no Qatar, a oitava e mais decisiva ronda de negociações, tendo em vista uma solução para o fim da guerra no Afeganistão que se arrasta há 18 anos. Fontes envolvidas nas discussões descrevem o momento como “o mais crucial” de todo o processo e acreditam ser possível haver um anúncio sobre um acordo nos próximos dez dias.

À chegada a Doha, na sexta-feira, o representante especial dos Estados Unidos nas negociações revelou que as partes estão “prontas” para fechar “um bom acordo”, que vá para além dos termos da retirada dos soldados norte-americanos do território afegão – anunciada por Donald Trump no ano passado.

“Queremos um acordo de paz e não um acordo de retirada; [queremos] um acordo de paz que possibilite essa retirada”, esclareceu Zalmay Khalilzad através do Twitter, antes de afiançar: “Os taliban estão a demonstrar que querem fechar um acordo e nós estamos prontos para um bom acordo”.

Duas fontes próximas das negociações disseram à Reuters que se espera que as partes cheguem a acordo antes do dia 13 de Agosto. Em troca pela retirada dos cerca de 20 mil soldados envolvidos na missão da NATO, liderada pelos EUA, Washington exige garantias securitárias ao grupo islamista que controla partes significativas do Afeganistão.

A presença de tropas estrangeiras no território é apontada pelos líderes taliban como o grande bloqueador do processo de paz no país. Sem a retirada dos soldados, dizem, não poderá haver negociações directas com o Governo do Presidente Ashraf Ghani – as conversas em curso são tratadas como informais, envolvendo normalmente membros de diferentes sectores da sociedade afegã, onde se incluem, por vezes, funcionários do Estado.

Por outro lado, as autoridades políticas afegãs temem que o abandono norte-americano reforce o poder dos taliban numa futura mesa de negociações oficial, com representantes de Ghani, para além de potenciar ainda mais o risco de atentados terroristas no país.

No dia em que arranca a oitava ronda de negociações de paz, a Missão de Assistência das Nações Unidas no Afeganistão (UNAMA, na sigla em inglês), anunciou mais um registo aterrador: só em Julho foram mortos ou feridos mais de 1500 civis, o mês mais mortífero da guerra nos últimos dois anos. Um relatório recente colocava nos 1366 o número de civis que perderam a vida nos primeiros seis meses do ano.

“Peço a todos os envolvidos que não intensifiquem as operações militares e que não actuem dessa forma para obter uma posição mais reforçada nas negociações de paz”, rogou Tadamichi Yamamoto, representante da ONU no Afeganistão, através de um comunicado. “Chegou a altura de demonstrarem contenção e respeito pelas vidas dos cidadãos afegãos comuns”.

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