Afinal, a ilha sem relógios da Noruega fazia parte de golpe publicitário

Autoridades norueguesas já pediram desculpa pela campanha encapotada. A ideia inicial dos habitantes de transformar a ilha de Sommarøy no primeiro lugar do planeta sem relógios integrava campanha publicitária para atrair turistas.

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É verdade que os habitantes de Sommarøy (que significa, literalmente, ilha do verão) suportam entre Novembro e Janeiro as longas e gélidas noites do Árctico, quando as horas de sol são escassas. Também é verdade que querem aproveitar o máximo dos meses de sol sem terem de preocupar-se com o fuso horário convencional.

No entanto, nem toda a história de Sommarøy, a ilha norueguesa que os habitantes queriam transformar no primeiro local do planeta sem relógios ou fuso horários, é verdade. Tudo não terá passado de uma campanha publicitária para atrair visitantes, segundo reconheceram esta quinta-feira as autoridades do país envolvidas no acontecimento, que já pediram desculpas.

“Toda a história nasceu de uma proposta para lançar uma campanha publicitária. Os habitantes de Sommarøy mostraram-se bastante entusiasmados com a ideia e quiseram participar. O problema foi não termos deixado claro que a nossa agência estava por trás e que esta não era uma iniciativa exclusiva dos moradores”, disse Kjetil Svorkmo Bergmann, porta-voz da agência à agência de notícias espanhola EFE.

De acordo com a mesma fonte, a Innovation Norway, empresa pública dedicada ao apoio a empresas e indústria (incluindo promoção), projectou toda a campanha que tinha como objectivo promover o turismo na região Norte da Noruega. Como mote, a empresa utilizou a ideia de um local “sem tempo” e os esforços dos moradores da ilha onde o sol não se põe entre 18 de Maio e 26 de Julho, completando um ciclo de 69 dias. 

“Entendemos as críticas e é lamentável o que aconteceu. Pedimos desculpa, mas a nossa intenção não era enganar ninguém" disse Bergmann, referindo-se às muitas notícias que foram sendo publicadas em meios de comunicação por todo o mundo, da CNN à Fugas. Um quase pleno noticioso que se tornou viral.

A associação de imprensa norueguesa, também afectada pelo acontecimento, além de vários organismos empresariais do país, já criticaram a iniciativa, uma vez que consideraram que se trata de um truque e que retira toda a credibilidade à iniciativa da ilha e dos seus moradores. 

Kjell Ove Hveding, o morador da ilha que se tinha tornado no rosto da iniciativa, disse ao canal de televisão pública norueguês NRK que o projecto não se tratou apenas de um “truque” publicitário, e que os habitantes queriam de facto acabar com os horários na ilha, pelo menos durante o Verão. “Se isto fosse apenas um truque teríamos dito ‘não, obrigado’. O plano era tornar Sommarøy na embaixadora de turismo de toda a região Norte da Noruega”, disse.

No entanto, um e-mail enviado pela Innovation Norway ao Ministro do Comércio e da Indústria do país conta uma história diferente. Em Maio, a agência contactou aquele ministério no sentido de convidar o ministro Torbjorn ​Røe Isaksen​ a participar num vídeo promocional de Sommarøy.

A NRK divulga parte do e-mail enviado pela empresa. “A ideia é divulgar fotografias e um vídeo da iniciativa onde Kjell Ove Hveding, o rosto da campanha, entrega as assinaturas dos moradores de Sommarøy que querem acabar com os horários na ilha, algo que já fazem de qualquer maneira no Verão. O abaixo-assinado é apenas uma forma de formalizar a iniciativa. O vídeo deve mostrar o brilho nos olhos dos moradores e ser usado para documentar toda a iniciativa. Não é um desejo real, mas sim uma maneira de promover o solstício de Verão junto dos visitantes estrangeiros.” Isaksen acabou por recusar o convite da empresa por se tratar de um truque publicitário.

Também Marianne Mork, chefe do departamento comercial da Visit Norway, o organismo oficial de turismo do país, confirmou à CNN que a iniciativa da ilha “sem tempo” teria partido dos ilhéus, com Kjell Ove Hveding a representar o grupo. No entanto, a equipa da Innovation Norway acabou por pegar na ideia e trabalhá-la com os habitantes para a capitalizar e transformar numa campanha de turismo.

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