Resultados num minuto para VIH e sífilis. Programa Focus chega a Lisboa

O GAT é a primeira organização não-governamental portuguesa envolvida no programa Focus. Reduzir o tempo da consulta de rastreio e melhorar a ligação aos cuidados de saúde também fazem parte dos objectivos.

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O GAT vai receber 50 mil euros para desenvolver o projecto. Rita Rodrigues

Vai haver mudanças na forma como os rastreios de VIH, hepatites B e C e sífilis são feitos no Checkpoint Lx, no In-Mouraria, no Espaço Intendente e no Move-se — os centros de proximidade do Grupo de Activistas em Tratamento (GAT) onde podem ser feitos testes a estas infecções sexualmente transmissíveis (IST). Tudo por causa da implementação do programa Focus, que tem como objectivo aumentar o número de rastreios das IST, diminuir o tempo de duração de cada sessão e promover o acesso rápido aos cuidados de saúde. A iniciativa é apresentada nesta terça-feira no Checkpoint Lx, em Lisboa.

Primeiro, os questionários aplicados pelos técnicos de rastreio vão passar a ser respondidos através de um tablet. “Algo que [actualmente] ocupa 15 a 20 minutos” das consultas nestes centros, diz Ricardo Fernandes, director-executivo do GAT. Depois, o rastreio aplicado, que produz resultados num minuto, vai passar a testar duas doenças: VIH e sífilis. 

As alterações a estes procedimentos vão permitir a redução da duração da sessão em 50%, apontam os responsáveis. A optimização do tempo também permitirá que se realizem mais testes. A expectativa é que se façam 21 mil rastreios nos centros do GAT só no primeiro ano de implementação do programa (um aumento de 50% em relação aos números actuais).

E fazer mais testes significa encontrar mais infecções? Ricardo Fernandes admite que sim. Mas sublinha: “Agora vamos ter de rastrear mais pessoas para encontrarmos mais casos. Se antigamente rastreávamos 5000 pessoas e encontrávamos 200 casos, neste momento precisamos talvez do dobro para encontrar metade desses casos. O nosso esforço também tem de ser maior para conseguirmos atingir as metas.” 

O Focus é promovido pela farmacêutica Gilead, uma empresa que também fabrica e fornece alguns dos medicamentos usados na prevenção e tratamento do VIH e hepatites virais. Nos Estados Unidos, o programa existe há nove anos. Desde 2010, já se realizaram oito milhões de rastreios através desta iniciativa. “É um programa internacional para o qual as associações são convidadas a concorrer. Não é completamente aberto. Eles vêem serviços e projectos que sejam promissores e abrem uma candidatura”, explica Ricardo Fernandes. A organização vai receber 50 mil euros para desenvolver o projecto.

Uma hora para confirmar diagnóstico 

Uma limitação destes testes rápidos é o facto de necessitarem de uma confirmação com análises mais demoradas. Para encurtar esse tempo de espera, o GAT também vai ter um teste molecular (o Cepheid GeneXpert) para a detecção de alguns destes vírus — especialmente o VIH e a hepatite C.

“Os testes de anti-corpos são quase 100% eficazes, mas temos de os confirmar”, nota Ricardo Fernandes. “Antes, mandávamos as pessoas para os hospitais e demorava cerca de 60 dias”, nota. “O que propomos é fazer esta confirmação no local, no próprio dia, em cerca de 60 minutos”, o que permite que “as pessoas possam sair de lá com uma confirmação de que têm a doença”. 

“Os hospitais podem decidir confirmar de novo, mas do ponto de vista técnico isto é uma confirmação. É um teste que procura o RNA do vírus e diz-nos logo se há ou não há” infecção, garante o responsável do GAT. 

No âmbito do programa Focus, o GAT também estabeleceu um acordo com o Serviço Nacional de Saúde (SNS), que permitirá que os centros comunitários tenham acesso ao software de marcação da Consulta a Tempo e Horas. Assegurando assim que os doentes diagnosticados acedem aos cuidados de saúde. O objectivo é que 90% das pessoas diagnosticadas sejam ligadas aos hospitais (actualmente, serão cerca de 80%).

A última dimensão do programa tem a ver com o acompanhamento por pares de alguns casos identificados pelos profissionais. “Vamos ter um grupo de pares treinados que vão acompanhar em todos os passos estas pessoas que identificamos como tendo mais dificuldades a serem ligadas aos cuidados de saúde”, detalha Ricardo Fernandes. Estas pessoas são, por exemplo, alguém “que não fala a língua, alguém que tem condições sócio-económicas muito complexas e não se consegue transportar”.

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