Surto de ébola na RD Congo pode alastrar aos países vizinhos, avisa OMS

Epidemia foi declarada no Verão passado e já matou mais de 700 pessoas, mas OMS não a classificou como emergência pública internacional.

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Mulher congolesa e os filhos aguardam num centro de tratamento de ébola em Butembo Reuters/BAZ RATNER

A Organização Mundial de Saúde (OMS) determinou, “quase de forma unânime”, que o surto de ébola na República Democrática do Congo que matou mais de 700 pessoas não constitui uma emergência médica de preocupação internacional. Porém, o comité de emergências do organismo manifestou “profundas preocupações” com o aumento das transmissões em certas áreas e alertou para o perigo de alastramento a países vizinhos, sobretudo o Ruanda, Uganda e Sudão do Sul.

Uma declaração do surto como uma “emergência médica de preocupação internacional” iria obrigar à canalização de mais recursos e, potencialmente, à aplicação de restrições de viagens e comércio nas áreas afectadas. Nos últimos dez anos, foram declaradas quatro emergências deste género: o vírus H1N1 que causa a pandemia de gripe (2009); uma grande epidemia de ébola na África Ocidental (2014), poliomielite (2014), e o vírus do zika (2016).

A epidemia de ébola – de longe a mais extensa que a RD Congo já assistiu, e a segunda maior em todo o mundo – foi declarada pelas autoridades nacionais em Agosto do ano passado. Está concentrada nas províncias do Kivu do Norte e Ituri.

Já afectou pelo menos 1206 pessoas, das quais 764 morreram, o que equivale a uma taxa de mortalidade de 63%. Estão incluídos 20 novos casos confirmados, revelados pelo Ministério da Saúde na quinta-feira, num dia em que foi batido o recorde de 18 novos casos registado na véspera. Dois funcionários do aeroporto de Butembo foram testados como positivos, disse o Governo.

A transmissão intensificou-se em Butembo e Katwa, no nordeste do Congo, levando a um aumento dos casos relatados nas últimas semanas, após um período de descida, segundo a OMS.

Ataques de grupos armados, incluindo o incêndio de um centro de tratamento de ébola gerido pelos Médicos Sem Fronteiras, em Fevereiro, impediram o acesso de profissionais de saúde a algumas áreas. “É normal que quando se volta a ter acesso se comece a ver esses casos, e isso explica parcialmente o aumento dos números”, disse o porta-voz da OMS, Tarik Jasarevic, durante uma conferência de imprensa em Genebra.

Cerca de cem mil pessoas foram vacinadas até agora. O ébola espalha-se através do contacto com fluidos corporais. Causa febre hemorrágica com vómitos graves, diarreia e sangramentos. Uma epidemia devastadora desta doença viral espalhou-se pela Libéria, Serra Leoa e Guiné-Conacri, na África Ocidental, entre 2014 e 2016, matando mais de 11.300 pessoas.

Os especialistas dizem que um factor a afectar os esforços para controlar esta epidemia é a falta de confiança das comunidades afectadas nos profissionais de saúde. “A comunidade no Kivu do Norte deve estar no centro da resposta, a sua confiança e liderança do processo são decisivas e extremamente desafiadoras”, disse o director do Britain’s Wellcome Trust, uma organização não-governamental global de saúde, Jeremy Farrar.

As medidas fundamentais incluem confiança, comunicação, cuidados prestados aos doentes e às suas famílias, controlo de infecções, procura de contactos, vacinação em anel e enterros seguros. “No fim de contas, são estas medidas que podem pôr fim à epidemia”, afirmou Farrar.

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