Os cães de louça são a tela desta exposição no Porto

São dez cães de louça vestidos por dez artistas convidados. Organizada pela Circus Network, a Who Let the Dogs Out Again? é uma exposição no Porto que pretende valorizar o elemento kitsch.

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Nelson Garrido

“Todos nós temos avós que já tiveram cães de louça lá em casa”: as palavras são de Ana Muska, uma das fundadoras da Circus Network, mas (quase) todos se conseguem identificar com elas. Who Let The Dogs Out Again? é a mais recente exposição da galeria do Porto, que desafiou dez artistas portugueses a trabalhar numa nova tela — cães de louça. “Isto surgiu pela ideia de modernizarmos o elemento kitsch”, explica a directora de arte ao P3. “Queríamos tornar este elemento numa coisa fixe”, acrescenta.

Foi a partir desta ideia que, em 2016, dez artistas urbanos e ilustradores receberam o convite da Circus Network para pintar uma dezena de cães de louça. O sucesso “foi tanto”, diz Ana, que o interesse em repetir a exposição não desapareceu. “Começámos a ter pessoas interessadas em comprar os cães não só pintados, mas também em branco. Fomos buscar uma encomenda grande de vários e não tínhamos propriamente ideia para uma exposição agora, então veio-nos a ideia de aproveitar os cães e pintá-los.” Três anos depois é inaugurada a segunda edição da mostra colectiva. Agora, foi a vez de Bruno Lisboa, Chei Krew, Clara Não, DTLS, gonçaloMAR, Júlio Dolbeth, Lara Luís, Mariana Malhão, mynameisnotSEM e Tamara Alves emprestarem o seu traço a cada um dos animais.

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Cada cão de louça tem o seu estilo distintivo. Nelson Garrido

“Tentámos que os cães fossem diferentes entre si, não quisemos escolher artistas todos do mesmo estilo para não termos resultados semelhantes. E acho que o resultado se pode ver, os cães são todos muito diferentes.” Há quatro raças caninas em exposição, com as cores, linhas, desenhos e, nalguns casos, texto a variar de animal para animal. Mas os cães não estão sozinhos. A acompanhar cada obra está um desenho feito pelo artista responsável, que dá voz à arte canina. “As nossas paredes estão sempre muito cheias de coisas e se não pedíssemos aos artistas para fazer um desenho, iam ficar um bocado vazias só com os cães”, aponta Ana Muska. “Além disso, acho que acrescenta e faz com que o cão comunique mais se tiver um desenho.”

Todas as obras de Who Let the Dogs Out Again? estão à venda, com os preços a variar entre os 300 e os 1500 euros. O cão mais caro da exposição chama-se Iggy e é da autoria de Lara Luís. A artista visual de 31 anos inspirou-se na música I Wanna Be Your Dog, dos Stooges, que diz retratar “o lado mais animal do ser humano, quando em contexto sexual”, para dar cor e forma à obra.

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Iggy, o cão de Lara Luís. Nelson Garrido

Outro dos destaques da exposição saiu das mãos de Mariana Malhão — uma das fundadoras da galeria de arte Senhora Presidenta. Quem entra é logo recebido pelo animal com uma particularidade que os outros não partilham: está partido. “A primeira coisa que eu disse quando recebi o cão foi perguntar se podia parti-lo”, explica a ilustradora de 24 anos ao P3. Ao início não sabia o que fazer com ele, mas, após partir o animal de louça, Mariana ficou “muito mais entusiasmada”. O buraco nas costas da peça é, para a artista, uma forma de representar dualidades: “Uma coisa que era sólida antes e já não é assim tanto. E que por fora está bem, mas por dentro há milhares de coisas a acontecer.”

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A peça de Mariana Malhão. DR

A exposição foi inaugurada a 30 de Março, com um churrasco a acolher os artistas e visitantes. Desde então, muitos têm passado pela Circus Network, na Rua do Rosário, no Porto, para visitar a exposição que tem entrada gratuita e se prolonga até 2 de Maio.

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