Desenganem-se: Panic Attack é Lara Luís “feliz” e “resolvida”

Ilustradora interrompe o interregno de três anos com a exposição Panic Attack, que inaugura no dia 22 no Balneário, em Lisboa. É uma nova Lara Luís, mas é a mesma de sempre

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Lara Luís

Há três anos que não víamos Lara Luís assim. Aliás, talvez nunca tenhamos visto Lara Luís assim. Depois de 36 meses de interregno, a ilustradora de 27 anos, nascida no Porto, está de volta às exposições individuais com Panic Attack (Ataque de Pânico), nome que encerra em si toda uma missiva. A inauguração é na quinta-feira, 22 de Janeiro, no espaço Balneário (LX Factory), em Lisboa. “Estás nervosa?”, perguntámos, perante o impacto de tamanho título. “Estou super calma. Ainda noutro dia estava a dizer que não é normal, que é impossível ter uma exposição pronta a tempo (risos). Estou super tranquila.”

Sim, Panic Attack mostra outra Lara Luís, mas que é a mesma de sempre. Não tem de ser enigmático. Foram-se alguns gatos ("Mas ainda sou a Lara dos gatinhos"), as cores, a euforia, a ingenuidade, quiçá; mantêm-se os olhos fechados, os auto-retratos, o humor. “Esta exposição veio de uma necessidade. Não estava a conseguir lidar com o facto de estar parada há tanto tempo”, conta, ao telefone com o P3. Por isso, arregaçou as mangas e decidiu “ultrapassar o medo de fazer exposições” (desde a primeira que sentia uma certa “pressão” em expor as suas obras) e logo em Lisboa: “Está completamente fora da minha zona de conforto.” Mas tinha de ser assim. “Era uma necessidade que tinha. Não fazia sentido estar a continuar a deixar as coisas na gaveta.”

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Lara Luís

Foram três anos de muitas mudanças ("amores, desamores, depressões e problemas com certas substâncias que normalmente devem ser consumidas com moderação, mas que... neste caso não foram”, descreve a memória descritiva da exibição), em que a ilustradora desenvolveu uma nova linguagem. “[A anterior] já não me dava gozo. Havia um descontentamento da minha parte em relação ao que fazia e ao que me identificavam. (...) Não me sentia honesta com as pessoas e com quem comprava trabalhos.” A dada altura, quando começou a desenhar “coisas mais negativas ou menos coloridas”, deu por si a esconder-se um bocado. Até agora, pelo menos.

Panic Attack é, por isso, uma “salgalhada”, em tons preto, azul e branco. É uma mistura de trabalhos e ideias com alguns anos que já não cabiam na gaveta. Até pode ser um “bocadinho negativista”, mas com humor — tal e qual como a mesma Lara Luís de sempre. “É um diário gráfico destes últimos tempos”, resume a artista, abrindo a porta ao que se pode seguir: “Quero dedicar-me mais aos comics, fazer alguma BD, alguns projectos editoriais. Se calhar a temática ainda vai mudar outra vez”. Esta exposição, patente até 22 de Fevereiro, é uma maneira de mostrar que mudou, sim, de revelar a forma como está a olhar para as coisas agora. Mas, lá está, nada é definitivo: “Não quero rotular nada porque sou muito inconstante. Se calhar daqui a três anos vai ser uma coisa completamente diferente.”

Já lhe perguntaram se estava bem. “E então, estás?”, questionámos. Este ano, ainda vai tentar fazer mais uma ou duas exposições. E há ainda a nova galeria da Circus (inauguração a 7 de Março na Rua do Rosário, no Porto), projecto em que colabora, e os preparativos para o festival de arte urbana Push. "Estou óptima”, responde, entre risos. "Nunca desenhei tanto na minha vida. Estou mesmo feliz com isso. É uma Lara resolvida.”

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