Stoltenberg foi aos EUA alertar para “ameaça” da Rússia e dizer que “é bom ter amigos”

Discurso do secretário-geral da NATO no Congresso norte-americano foi muito aplaudido. Jens Stoltenberg sublinhou a importância da solidariedade, mas também disse que os europeus têm de reforçar os seus orçamentos de Defesa.

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Jens Stoltenberg, na imagem com Mike Pence e Nancy Pelosi Reuters/JOSHUA ROBERTS

Na semana em que a NATO comemora o seu 70.º aniversário sem grande pompa e circunstância, graças ao clima de desconfiança entre os EUA e os seus aliados europeus, o secretário-geral da Aliança Atlântica foi ao Congresso norte-americano deixar uma mensagem de união. Num discurso muito aplaudido tanto pelo Partido Democrata como pelo Partido Republicano, Jens Stoltenberg resumiu em menos de uma hora a gestão de equilíbrio que tem feito nos últimos dois anos, desde que Donald Trump chegou à Casa Branca: por um lado, lembrou o Presidente norte-americano de que “é bom ter amigos”; por outro lado, avisou os líderes europeus de que essa amizade precisa de mais verbas dos seus orçamentos.

Foi a primeira vez que um secretário-geral da NATO discursou numa sessão conjunta do Congresso norte-americano, e nem o momento nem a origem do convite são irrelevantes.

Em Março, quando a líder da Câmara dos Representantes, a democrata Nancy Pelosi, pensou em convidar Stoltenberg, o líder do Senado, o republicano Mitch McConnell, juntou-se a ela sem pestanejar. Era uma boa oportunidade para o Partido Republicano sublinhar as suas diferenças de opinião com o Presidente Trump sobre a importância da NATO e o respeito pelos aliados dos EUA.

E essa defesa acérrima da NATO pelo Partido Republicano viu-se em cada ovação de pé com que os congressistas receberam o discurso de Stoltenberg. Em particular quando o secretário-geral acusou a Rússia de ser uma “ameaça cada vez mais assertiva”, mas também nas passagens em que recordou os EUA dos benefícios da aliança para a sua própria segurança – foi em Outubro de 2001, um mês depois dos atentados terroristas em Nova Iorque e Washington, que o famoso Artigo 5 foi invocado pela primeira e única vez na história da NATO, levando os aliados dos EUA a combaterem ao seu lado contra a Al-Qaeda e no Afeganistão.

“A NATO tem sido boa para a Europa, mas também tem sido boa para os Estados Unidos”, disse Jens Stoltenberg, uma ideia que foi repetindo em vários momentos, e que resumiu em quatro palavras para concluir o seu discurso: “É bom ter amigos.”

“A força de uma nação não se mede apenas pela dimensão da sua economia, nem pelo número dos seus soldados”, disse Stoltenberg, numa clara alusão aos EUA. “Mede-se também pela quantidade de amigos que tem.”

Para além das muitas referências ao passado comum dos dois lados do Atlântico, desde a II Guerra Mundial à queda do Muro de Berlim e ao fim da Guerra Fria, passando pelos atentados terroristas de 11 de Setembro de 2001 e a luta contra o Daesh, o secretário-geral da NATO apontou para o futuro da aliança e para os seus desafios “sem precedentes” – os ataques informáticos, a inteligência artificial, a computação quântica ou a gestão dos gigantescos arquivos online que guardam informações importantes sobre os cidadãos.

E outros, mais políticos e militares, como “o padrão de agressão da Rússia com a anexação da península da Crimeia, os ataques com veneno no Reino Unido, o apoio ao regime de Bashar al-Assad, as campanhas de desinformação e as tentativas de interferência na própria democracia” – uma referência às acusações dos serviços secretos norte-americanos, do Departamento de Justiça e do Congresso dos EUA de que o Governo russo interferiu nas eleições presidenciais de 2016, e que é desvalorizada pelo Presidente Donald Trump como uma tentativa de menosprezar a sua vitória.

“A NATO não tem nenhuma intenção de deslocar mísseis nucleares para a Europa. Mas irá sempre dar os passos necessários para proporcionar uma dissuasão credível e eficaz”, avisou o secretário-geral.

Mas o discurso de Jens Stoltenberg não viveu apenas de cotoveladas às posições mais desafiadoras do Presidente norte-americano em relação à NATO. Tal como tem feito nos últimos dois anos, o secretário-geral deixou claro que os aliados europeus têm de reforçar os seus orçamentos de Defesa, em linha com as exigências de Donald Trump.

Ao mesmo tempo que enaltece a união e a solidariedade entre os aliados, Stoltenberg tem elogiado a pressão da Casa Branca para que os membros da NATO paguem uma fatia mais elevada do bolo. Uma pressão que, segundo o secretário-geral, fez crescer o orçamento da NATO com mais 41 mil milhões de dólares da Europa e do Canadá nos últimos dois anos, um valor que vai subir para 100 mil milhões de dólares até finais de 2020.

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