No Festival Porta-Jazz são os encontros que importam

De 1 a 9 de Dezembro, o Porta-Jazz instala-se pela nona vez em várias salas do Porto, confirmando-se como um momento de troca de experiências entre a comunidade local e os músicos que a visitam.

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O ensemble do Porta-Jazz vai interpretar música composta expressamente para a ocasião por Ohad Talmor DR

Em cena de 1 a 9 de Dezembro em várias salas do Porto (Rivoli, Casa da Música, Faculdade de Engenharia, Passos Manuel, Sala Porta-Jazz, Igreja de Cedofeita, etc.), o Festival Porta-Jazz não é o habitual festival de jazz. Na aparência, tudo poderia indicar que sim. A programação assenta em concertos, workshops, parcerias inéditas entre músicos, apresentações de discos, todos os ingredientes de um festival tal e qual aqueles que conhecemos. Acontece que materializar de forma concentrada aqueles que são os princípios do movimento Porta-Jazz é incompatível com qualquer visão única de programação. Aqui os programadores são os músicos da comunidade que gravita em torno da associação, alinhando ao longo dos vários dias projectos aos quais estão ligados ou convidando outros protagonistas vindos de fora e com os quais gostavam de colaborar.

“Cada vez mais este é um espaço de intercâmbios artísticos, algo que vamos promovendo ao longo do ano, mas que aqui intensificamos porque conseguimos reunir um pouco mais de condições”, explica João Pedro Brandão, um dos fundadores do “movimento” Porta-Jazz, como lhe chama. É nesse sentido, o de “mostrar o que a Porta-Jazz faz em termos de promoção e de incentivo à criação artística”, que o festival acolhe as colaborações que são o prato forte destes dias: Marcos Cavaleiro convida o contrabaixista norte-americano Thomas Morgan para se juntar ao seu quarteto (Rivoli, dia 8); o MAP, quarteto liderado por Paulo Gomes, recebe a visita do saxofonista Chris Cheek (Rivoli, dia 7); Demian Cabaud, Ariel Bringuez e Angela Cervantes chamam pelo baterista Jeff Williams (Casa da Música, dia 2); a formação de Gonçalo Marques, de que fazem parte Jacob Saks, Masa Kamaguchi e Eliot Zigmund, integra Manel Fortià e Carlos Azevedo (FEUP, dia 5); o compositor Ohad Talmor compõe música original para o Coreto, o ensemble da casa (Rivoli, dia 8).

A ligação a Talmor não é nova. Muitos dos membros do Coreto integram também a Orquestra Jazz de Matosinhos, para a qual o músico franco-israelita baseado em Nova Iorque já anteriormente compôs. Desta vez, concretizando um desejo antigo da Porta-Jazz, Talmor assina uma série de peças originais, criadas expressamente para os 12 membros do Coreto, que serão o grande argumento do segundo fim-de-semana do festival.

Além disso, a Porta-Jazz desafiou o saxofonista português José Soares (Rivoli, dia 7), radicado em Amesterdão, a apresentar-se com músicos por si escolhidos na cena holandesa que agora frequenta, e abre as portas ao baterista Mário Costa, músico que costuma acompanhar Ana Moura e António Zambujo, sem ligação directa à Porta-Jazz (Casa da Música, dia 2), num concerto de apresentação do álbum Oxy Patina, em que se faz acompanhar por Benoît Delbecq e Marc Ducret. “Estes concertos permitem também trazer músicos estrangeiros que vêm conhecer o festival e o movimento, assim como nós vamos conhecê-los”, explica João Pedro Brandão, apontando sempre para essa dinâmica de trocas de que o festival é feito. “Tudo isto tem repercussões no futuro. As relações que aqui se criam – não necessariamente com os músicos com quem vieram tocar – mantêm-se e desenvolvem-se. Isso é o mais interessante para nós.”

Jazz na igreja

Muito lá de casa, haverá apresentações dos últimos álbuns lançados pela Carimbo Porta-Jazz (braço editorial do movimento), com assinatura de José Pedro Coelho, Alexandre Coelho e pLoo, assim como um concerto exclusivo na Igreja de Cedofeita, no dia 3, do trio composto por Susana Santos Silva, Torbjörn Zetterberg e Hampus Lindwall. Aproveitou-se a necessidade logística de encontrar um órgão de tubos para se dar “um passo muito importante” na vida da Porta-Jazz, a conquista de novos espaços para a apresentação da sua música – “não com uma pretensão de monopolizar”, ressalva Brandão, mas de ligar a associação, "de forma construtiva, à maior quantidade possível de espaços culturais no Porto”.

Em destaque estará também o espectáculo Cotovelo (Passos Manuel, dia 6), criado no âmbito de uma residência artística anual que a Porta-Jazz mantém no festival Guimarães Jazz desde há cinco anos, e que pressupõe um cruzamento do jazz com outra disciplina artística. No caso, trata-se de um espectáculo de texto e música, resultante do desafio lançado pelo músico Nuno Trocado ao dramaturgo Jorge Louraço Figueira, com interpretação de Catarina Lacerda. E porque cada edição tenta ir mais longe, uma das novidades deste nono Festival Porta-Jazz é a dimensão internacional prevista não apenas para o palco, mas também para a plateia, com a presença de vários promotores europeus com lugar reservado entre o público do festival.

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