Só a Liga italiana promove menos jovens do que a portuguesa

Estudo, que abrange 31 campeonatos europeus, aponta para uma diminuição generalizada do espaço reservado para os jogadores da formação.

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Nacional e V. Setúbal, as equipas com mais (22) e menos (10) jogadores estrangeiros nos plantéis da Liga LUSA/HOMEM DE GOUVEIA

A tendência é generalizada no continente europeu e os números da última década estão aí para o comprovar: a promoção dos jovens talentos às primeiras equipas das principais Ligas é hoje pouco mais do que uma miragem. Um estudo realizado pelo Observatório do Futebol (CIES) traduz um decréscimo transversal desta aposta nos 31 campeonatos analisados e coloca Portugal no penúltimo lugar dos países que melhor aproveitam os jogadores formados localmente.

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CIES

Antes de mais, enquadremos a definição aplicada pelos investigadores aos futebolistas em causa. Seguindo a interpretação da UEFA, para este exercício são considerados os atletas que representaram o clube em causa, pelo menos durante três épocas, entre os 15 e os 21 anos. E o que o CIES conclui é que de 2009 até hoje se registou uma quebra de 6,3% na utilização dos jovens da formação nas Ligas de topo do continente, com a agravante de a diminuição ocorrida ter atingido o pico justamente na última época (1,6%).

Geograficamente, também é possível separar as águas. O Norte e o Centro da Europa distinguem-se como as regiões com maior número de jogadores formados localmente nos plantéis dos clubes da I Liga, ainda que a quebra ao longo da última década (mais de 8%) tenha sido mais acentuada que a média dos 31 campeonatos. No polo oposto está, precisamente, o Sul da Europa, com a Série A italiana na cauda da tabela, contabilizando apenas 7,4% de jovens talentos no degrau mais alto do calcio.

Portugal surge logo a seguir, com 7,7% de aproveitamento contabilizado no passado dia 1 de Outubro, que representa uma queda de 2,2 pontos percentuais face à média da última década. O perfil de país exportador de talento ajuda a explicar o fenómeno, na medida em que os jogadores abraçam cada vez mais cedo uma carreira no estrangeiro, também fruto de uma prospecção mais profunda e precoce aplicada pelos clubes - 9,6% dos atletas que "emigraram" em 2018 eram menores de idade, quando há dez anos essa relação era de 8,2%.

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De todo o modo, esta "regra" do mercado não abafa uma outra, a de importar futebolistas em grande escala. Ao contrário do que acontece com a ligação entre os plantéis principais e os produtos da formação, a Liga portuguesa surge no topo da hierarquia quando o parâmetro é o número de estrangeiros inscritos. Actualmente, os futebolistas nascidos fora do país representam bem mais do que metade dos plantéis (61,3%), colocando Portugal no quinto lugar de uma tabela liderada por Chipre (66,2%), mas que tem a poderosa Premier League (62,7%) logo no segundo lugar.

De resto, entre as cinco mais fortes Ligas do continente (as chamadas Big Five), três apresentam mais estrangeiros do que jogadores nacionais. Para além de Inglaterra, a Itália (56,5%) e a própria Alemanha (50,8%) intensificaram as contratações de atletas de outras paragens, ainda assim denotando um crescimento mais modesto que o português relativamente à média da década (passou de 54,8% para os tais 61,3%).

Outro dado relevante do estudo prende-se com a mudança de perfil dos futebolistas contratados fora de portas, já que se constata um crescimento relevante de jogadores saídos de outros campeonatos europeus (um fluxo intracontinental) e uma redução, ainda que não muito expressiva, de contratações realizadas em qualquer outra confederação. Nessa perspectiva, os mercados brasileiro e sul-americano parecem estar a perder algum terreno.

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