Ministério Público está a investigar fuga e captura de detidos de tribunal do Porto

Procuradoria-Geral da República diz que não deixarão de ser investigados outros factos "susceptíveis de integrarem infracção de natureza pública”. Fotografias da detenção estão no centro da polémica.

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Nelson Garrido

O Ministério Público está a investigar as circunstâncias que rodearam a fuga de três detidos do Tribunal de Instrução Criminal do Porto e a sua posterior captura, informou a Procuradoria-Geral da República (PGR).

Em resposta ao PÚBLICO, a PGR reitera que, no âmbito deste inquérito, “o Ministério Público não deixará de investigar todas as factualidades susceptíveis de integrarem infracção de natureza pública, bem como todas as matérias dependentes de queixa relativamente às quais os respectivos titulares manifestarem intenção de procedimento criminal”.

Os três homens, dois irmãos gémeos, de 35 anos, e um cúmplice, de 25, suspeitos de dezenas de furtos violentos a idosos, evadiram-se, na tarde de quinta-feira, por uma janela do Tribunal de Instrução Criminal, no centro do Porto, depois de terem ficado a saber que aguardariam julgamento em prisão preventiva.

Foram capturados 24 horas depois pela PSP num parque de campismo em Medas, Gondomar. Na sua posse tinham 40 mil euros (em notas de 500 euros), o que leva as autoridades a crer que se preparavam para sair do país. Estavam detidos desde terça-feira, dia em que foram apanhados em flagrante delito em Baguim do Monte, no concelho de Gondomar.

A polémica tem-se prendido, no entanto, com as imagens que vieram a público dos suspeitos algemados e sentados no chão, partilhadas por dois sindicatos (Sindicato Vertical de Carreiras da Polícia e Sindicato Unificado da Polícia de Segurança Pública) e vários órgãos de comunicação. A divulgação das fotografias, considerada “absolutamente inaceitável” pelo ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, e igualmente reprovada por Marcelo Rebelo de Sousa, está a ser investigada pela Inspecção-Geral da Administração Interna e pela PSP. E abriu uma guerra entre a tutela e uma parte dos polícias.

Outras fotografias têm dado igualmente que falar. Um dos sindicatos, o Vertical, divulgou no sábado uma montagem fotográfica com idosos espancados, cobertos de hematomas, ao lado da uma imagem de Eduardo Cabrita e da frase em que este reprova a divulgação de fotografias de suspeitos capturados pela PSP. A publicação levou muitos, nas redes sociais, a crer que os idosos retratados tinham sido agredidos pelos homens detidos na sexta-feira — o que não corresponde à verdade. Não foram agredidos em Portugal, nem tão pouco recentemente.

Esta montagem motivou as críticas do Presidente da República e um alerta aos cidadãos para que estejam preparados para detectar, “nomeadamente nos meios mais expeditos de comunicação de imagens ou de informações”, conteúdos “que não correspondem à realidade”.

Já esta terça-feira, o Sindicato Unificado da PSP – que primeiro partilhou as imagens dos detidos e posteriormente as apagou da sua página de Facebook – divulgou a fotografia de um agente agredido e hospitalizado. Na descrição lê-se: “Para os defensores dos direitos, liberdades e garantias, isto é apenas o risco da profissão. Sabem qual o único dado inalienável da constituição? Espera-se uma reacção do senhor Ministro, já sabemos que ser polícia é ser cidadão de terceira.”

Tomando o lado dos polícias nesta questão, a Associação Sócio-Profissional Independente da Guarda referiu, na segunda-feira em comunicado, que “não fica indignada com as fotografias, expostas publicamente, pois considera que os criminosos — nelas identificados como tal — não são merecedores do mesmo respeito e consideração, por parte do Estado e da comunidade, atribuídos ao cidadão comum".

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