Primeiro-ministro australiano criticado por considerar reconhecer Jerusalém como capital de Israel

“A Indonésia pede à Austrália e outros países que apoiem as conversações de paz…e que não tomem medidas que ameacem o processo para a paz e a estabilidade da segurança mundial”, disse Retno Marsudi.

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Scott Morrison EPA

O primeiro-ministro australiano, Scott Morrison, cujo Governo enfrenta uma eleição parcial daqui a quatro dias, disse nesta terça-feira que Camberra estava disponível para reconhecer Jerusalém como a capital de Israel, espoletando preocupação por parte dos funcionários dos governos indonésio e palestiniano.

Reconhecer Jerusalém e possivelmente transferir a embaixada australiana, à semelhança da decisão controversa do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em Dezembro, irá reverter décadas de política externa e aumentar a tensão com alguns dos vizinhos asiáticos da Austrália.

A Austrália deverá assinar um acordo comercial com a Indonésia este ano, o país com mais muçulmanos do mundo, onde a questão palestiniana é um assunto sensível e onde dezenas de milhares protestaram contra a decisão de Trump.

Durante uma conferência de imprensa conjunta com o ministro dos Negócios Estrangeiros palestiniano, Riyad al-Maliki, em Jacarta, a ministra dos Negócios Estrangeiros, Retno Marsudi, reafirmou o apoio da Indonésia para a solução de dois Estados para a disputa no Médio Oriente e avisou a Austrália do risco de insegurança que poderá surgir.

“A Indonésia pede à Austrália e outros países que apoiem as conversações de paz…e que não tomem medidas que ameacem o processo para a paz e a estabilidade da segurança mundial”, disse Marsudi.

Na terça-feira, Morrison disse ao parlamento que tinha entrado em contacto com o Presidente indonésio, Joko Widodo, para explicar a sua posição.

Maliki disse sentir-se triste, uma vez que a Austrália poderá violar o Direito Internacional e desrespeitar uma resolução do Conselho de Segurança da ONU.

“Estão a arriscar as suas relações comerciais com o resto do mundo, e em particular com o mundo árabe e muçulmano”, disse.

Nesta terça-feira, embaixadores de 13 países árabes reuniram-se em Camberra e acordaram enviar uma carta expressando a sua preocupação à ministra dos Negócios Estrangeiros australiana, disse o embaixador egípcio na Austrália, Mohamed Khairat.

A receptividade de Morrison em reconhecer Jerusalém e mudar a embaixada australiana surge 4 dias antes de uma eleição parcial em Sydney, em que a sua coligação centro-direita corre o risco de perder o pouco poder que ainda tem.

A eleição parcial é para o lugar em Wentworth que ficou vazio depois do antigo primeiro-ministro Malcolm Turnbull ter sido afastado por um golpe dos membros do Partido Liberal de Morrison, o parceiro sénior de uma coligação entre o Partido Liberal e o Partido Nacional, em Agosto.

Os censos demonstram que 12,5 por cento das pessoas em Wentworth são judias, uma percentagem significativamente maior do que em qualquer outra região na Austrália. O candidato liberal que irá disputar a eleição parcial de sábado, Dave Sharma, é um ex-embaixador da Austrália para Israel que já tinha comentado a mesma ideia anteriormente.

Se a coligação perder a eleição parcial de sábado, Morrison terá de negociar com deputados independentes para poder continuar a governar numa minoria.

Bastante óbvio

Morrison disse na terça-feira que a ortodoxia política que orientou tantos debates deu a ideia de que a discussão sobre a capital israelita é tabu. Acrescentou que nenhuma decisão havia ainda sido tomada e que simplesmente estava receptivo à ideia. O diário Sydney Morning Herald descreveu a aparente mudança de opinião do primeiro-ministro como “sem princípios e cobarde”.

O analista político da Universidade de Sydney, Rod Tiffen, disse que a mudança de posição se devia a questões de política interna.

“É uma grande mudança, diferente das restantes opiniões, excepto da América”, disse Tiffen.

“Mas três dias antes da eleição parcial de Wentworth, é bastante óbvio… como existe eleitorado judaico na região, provavelmente ajuda.”

O estatuto de Israel é um dos maiores obstáculos ao acordo de paz entre Israel e os palestinianos. Israel reivindica a cidade, incluindo o sector mais a este que anexaram depois da Guerra dos Seis Dias, em 1967, como sendo a sua capital. Em Dezembro, a decisão de Trump enfureceu os palestinianos e abalou o mundo árabe e os seus aliados ocidentais. A Austrália recusou seguir os passos do seu aliado mais próximo e manteve a sua embaixada em Telavive.

A aparente mudança foi bem-recebida por Israel, mas foi rapidamente criticada por representantes palestinianos.

O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, a quem Morrison telefonou para explicar a sua mudança de opinião , disse no Twitter estar “muito agradecido” que Morrison estivesse a considerar a mudança.

Os palestinianos, com o apoio geral internacional, querem que Jerusalém Oriental seja a capital de um futuro estado que pretendem estabelecer na ocupada Cisjordânia e Faixa de Gaza. As conversações para a paz entre os dois lados falharam em 2014.

Em Maio, a embaixada dos Estados Unidos tornou-se a única embaixada estrangeira em Jerusalém, mas Netanyahu tem tentado persuadir outros governos a fazer o mesmo.

Tradução de Ana Silva

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