O sistema de rankings transformou-se “num negócio de empresas que vivem das universidades”

Reitor da Universidade Complutense, de Madrid, Carlos Andradas considera que se criou um “ciclo vicioso” e questiona parâmetros de avaliação.

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Rui Gaudêncio

Os rankings internacionais de universidades que são publicados todos os anos não são reveladores do trabalho de facto desenvolvido nestas instituições. Este é o entendimento do reitor da Universidade Complutense de Madrid, Carlos Andradas, que assume não gostar de rankings.

Esta segunda-feira, em declarações ao PÚBLICO à margem do Quarto Encontro de Reitores Universia, que está a decorrer em Salamanca, o responsável afirmou que os rankings, como estão desenhados, “não fazem nenhum favor às universidades”. Este raciocínio é válido mesmo para as instituições que estão bem colocadas, entende, uma vez que o sistema de rankings “se transformou num negócio de empresas que vivem das universidades”.

No seu entender, gerou-se uma “espécie de ciclo vicioso em que as próprias empresas que fazem os rankings oferecem os seus serviços para melhorar” a classificação. E os parâmetros de avaliação podem ir da investigação científica ao número de prémios Nobel gerados por uma academia.

No entanto, Andradas admite que os rankings têm um papel naquilo que é o prestígio e imagem das universidades, tendo muitas vezes um papel na atractividade face a novos estudantes.

Na sessão de abertura do encontro de reitores discursou Marcelo Rebelo de Sousa. O Presidente da República entende que as universidades precisam de se abrir à sociedade e de antecipar os novos desafios. Se o chefe de Estado português identifica a “endogamia” ou o “fechamento” como problemas destas instituições de ensino superior, a “incapacidade de antecipar” coloca outro tipo de desafios. “Não antecipar, para uma universidade, é morrer.”

"Educar é um desafio universal de hoje"

A antecipação que defende relaciona-se com a “capacidade de ver e planear a médio prazo”. Para que tal seja possível, é preciso haver consensos. Neste ponto, tal como já fez em relação a outros sectores, Marcelo fala na necessidade de um “consenso de regime”, para que as políticas públicas de educação “não mudem com cada governo, com cada legislatura, com cada orçamento”. O horizonte precisa de ser mais distante. “Porque educar não é tarefa de um governo, de um político, de um partido, de um sindicato, de uma confederação patronal. Nem sequer de um país só. Educar é um desafio universal de hoje”, afirma.

Marcelo apontou o exemplo de Portugal, onde a alteração das estruturas das universidades resultou numa abertura às comunidades, disse numa referência ao Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior, cuja entrada em vigor levou à admissão de personalidades externas nos conselhos gerais das universidades.

“Mas fomos mais longe”, afirmou, para dar outro exemplo do papel que as universidades podem ter. O modelo apontado por Marcelo foi o do seu antecessor, Jorge Sampaio, que promoveu um programa de acolhimento de refugiados sírios nas instituições de ensino superior. É também neste campo que estas instituições têm que se abrir “para além das fronteiras de cada Estado”, entende. O chefe de Estado português, que discursava em frente a uma plateia de cerca de 600 pessoas no Palácio de Congressos da cidade espanhola, fez as contas: “Se cada universidade recebesse cinco refugiados, teríamos 300 lugares de justiça social.”

Para reforçar a necessidade de abertura à sociedade, Marcelo realça a importância que a educação tem para a coesão social. E a “crise dos dias de hoje, dos sistemas políticos, económicos e sociais, é uma crise de falta de coesão”. Essa ausência abre espaço ao populismo, à xenofobia e à demagogia, advertiu, acrescentando que, por isso, “não há universidade que não deva ser aberta ao mundo”.

Num auditório repleto de académicos de 26 países, a maioria dos quais do espaço ibero-americano, o presidente português fez uma declaração de interesses: iria “deixar falar” o “coração de professor”. Um cargo do qual se vai jubilar dentro de seis meses, referiu, ao atingir os 70 anos. Mas “presidente é-se por períodos limitados de tempo. Professor é-se para toda a vida”.

O PÚBLICO viajou a convite do Banco Santander

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