D’Bandada é o Porto a rebentar pelas costuras

Realizou-se no passado dia 13 a quarta edição do "São João da música" com lotação esgotadíssima. O P3 entrou na corrente sanguínea do festival

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Ricardo Castelo/nFactos

Miguel Araújo já está “a bordo” do Eléctrico 22. O dia começou — e vai ser longo. É ele quem inicia esta quarta edição do NOS em D’Bandada, a que o próprio prefere chamar “tocata”. A primeira música é dedicada ao protagonista deste trajecto: o guarda-freio Pedro. Foi ao som de “Pica do sete” que Miguel apresentou o nosso condutor.

Pedro Rocha agradece, tímido. O guarda-freio de 32 anos revela que guiar-nos nesta viagem está a ser um “autêntico prazer”. Não era fã de Miguel Aráujo. Agora é — “admirador convicto”, diz ao P3.

Eram cerca de 50 as pessoas que, uma hora antes deste concerto, já marcavam lugar na Rua do Carmo. Só dez iam entrar no eléctrico. Os espaços de actuação (muitos deles insólitos, exíguos e surpreendentes) serão sempre uma das partes boas e um dos inconvenientes deste festival efémero que faz circular multidões pela cidade.

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“Quem quiser ver o Miguel pode ir ao concerto dele no Coliseu”, informa a organização. 29 de Novembro. Está marcado na agenda. Com espaço e lugar sentado, mas sem a aventura que pode ser o D’Bandada, com mapas nos bolsos, pés ligeiros, espionagem e uma multidão que pára-escuta-e-olha e circula frenética como uma comunidade de formigas, atarefadas. Perdemos concertos. Encontramos concertos.

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Pouco depois, Teresa dança radiante dentro do veículo. Foi uma das sortudas que conseguiu entrar para ver o seu ídolo. Duas horas foram suficientes para guardar lugar ao pé de Miguel, que agora canta “Anda comigo ver os aviões”. Entretanto, algumas aeronaves fazem acrobacias do lado de fora, deixando os espectadores que enchiam a Praça de Parada Leitão de olhos voltados para o céu.

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Paragem seguinte. Café au Lait, a rebentar de cheio para ouvir Dear Telephone. Aqui já se troca a língua portuguesa pela universal nas vozes de André Simão e Graciela Coelho. O pôr-do-sol deu-se ao som de Hitchpop no Radio Bar. Enquanto se ouve o saxofone discutem-se sítios para jantar (boa sorte para a odisseia), para às 21h voltar em força para ouvir Monster Jinx.

E é enquanto nos dirigimos para a Praça dos Poveiros que reparamos na Tubitek, cheia para não variar. E admire-se: não há nenhum concerto marcado dentro da loja. São apenas pessoas que em dia de música gratuita por todo o Porto decidem ver as novidades do mundo discográfico. Pelos vistos este é um ponto para “intercalar entre espectáculos”, diz Ana. Já a Maria José e o José Maria fazem tempo até ao concerto de Manuela Azevedo.

E é finalmente ao som de Monster Jinx que se dá início à noite no D’Bandada. Depressa se arranja um protagonista para este espectáculo. Alguém grita para Stray, uma das vozes do colectivo, “és o maior!”, depois deste cantar à capela inesperadamente. Stray procura saber quem é o dono do desabafo. O desconhecido dá pelo nome de Jorge, que, afinal, contou ao P3, nem conhecia Monster Jinx, está apenas à espera de Dealema.

O fanático João também queria ter-se feito ouvir. O jovem de 22 anos, que mesmo antes do início do concerto já fazia a festa, admite-se como um grande fã de Monter Jinx. “Eles são grande cena”, sublinha. “Há sempre aquela ideia de que o hip-hop de Lisboa é que é, mas estes gajos partem tudo”, garante.

As ruas alargaram

A Monster Jinx sucedeu-se a prata da casa. Foi com Dealema que a Praça dos Poveiros encheu até não poder mais. “Até parece que as ruas alargaram”, ouve-se. Os portuenses cantaram clássicos como “Brilhantes diamantes” e terminaram desejando-nos “bom dia”.

Abandonar o recinto foi o problema do costume. Não havia por onde furar na Rua Passos Manuel. Há quem suba a avenida para ouvir os Mind da Gap e quem desça para guardar lugar na primeira fila de You Can’t Win, Charlie Brown, que já tinham lotação esgotada uma hora antes de começarem a tocar.

A maioria dos espectadores está lá para os “conhecer melhor”. Paulo Matos veio sozinho. Diz ter apanhado “uma grande seca” com as bandas anteriores de forma a garantir a sua cadeira no pequeno auditório do Passos Manuel. “Há outras coisas que eu gostaria de ver obviamente, mas muitas vezes estão concentradas em espaços muito confinados que albergam muito pouca gente e, de outros anos, tenho a experiência de que isso não funciona muito bem, muitas vezes ficamos cá fora. Portanto este ano preveni-me, vim mais cedo, vi algumas bandas que não gosto para ver agora You Can’t Win, Charlie Brown”, contou. E o facto é que havia uma sala cheia, encantada com as cinco vozes daquela banda.

A noite termina na baixa com Dj’s para todos os gostos — e já depois de Capicua se ter emocionado na Praça dos Leões e de ter trocado a sua "Casa de Campo" por uma "casa no Porto".

Se na Praça dos Poveiros a multidão era imensa, na Rua da Galeria de Paris o número de festivaleiros era indiscritível. Foi com Blacksea Não Maia, no Armazém do Chá, que dissemos “até para o ano D’Bandada”, que foi mais uma vez o verdadeiro “São João da música”.

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