A democracia está nas ruas, também na D'Bandada

A D'Bandada já começou, tem hora para acabar, não há tempo a perder. Há que correr pela música, mesmo que no final não se consiga ver o concerto. Não faz mal — sempre o podemos ouvir

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Este sábado realizam-se mais de 40 concertos em vários locais do Porto Amanda Ribeiro

No Passeio das Virtudes, o "jazz-está-de-chuva" dos SMaLL Trio faz-nos pensar duas vezes se será realmente o que ouvimos. É sábado, está sol, há relva e é difícil não acompanhar a dança de Carl Minneman no contrabaixo com um leve "bate pé" (salvo seja). Uma escala descontraída antes da manifestação para muitos, um comovente concerto para uns quantos melómanos, mais um jogo de cartas para outros. Sim, cartas.

"Valete quê?! Eu tenho a dama!" / "Já ganhámos! 53, com a dama 55." / "47? Que 47?! Abre os olhos" — e cresce um chorrilho de impropérios começados por todas as letras do alfabeto. Nada importa para eles. O Flea Market, que transformou este emblemático miradouro numa feira de refugos. Os cartazes, em digressão pelas ruas antes do tiro de partida na Avenida dos Aliados. A D'Bandada, que dá uma nova banda sonora ao habitual — e aguerrido — confronto reis e damas, valetes e áses.

A D'Bandada é isto. Mais de 40 concertos em várias partes do Porto numa agradável sintonia com os jogadores, com a avózinha sorridente que canta para o netinho num banquinho ("Quem é o bebezinho da avózinha, quem é?"), com os moradores, surpreendidos ou não, por tanta correria por música.

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Ianina Khmelik actuou na loja A Vida Portuguesa Amanda Ribeiro

Na Rua dos Caldeireiros, Miguel Araújo provocou a primeira, de muitas, enchentes do dia e, claro, da noite. Pessoas à porta, pessoas cá fora, pessoas lá dentro, de costas, sentadas, um pouquinho, mas quase todas apertadinhas, de olhar embevecido, sem deixar de cantarolar as canções que o cantautor compôs sobre todos nós.

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O jazz-está-de-chuva dos SMaLL Trio num dia de muito sol Amanda Ribeiro

O mesmo cenário em Black Bombaim, com a Rua da Galeria de Paris a receber a multidão que não coube no Café au Lait. A esta hora também já é impossível transpor as últimas escadas para vislumbrar a violinista Ianina Khmelik. Mas atenção, não há cá lugar para desalento. Isso é umas ruas abaixo. Fica-se cá fora, sim, com pouco para ver, mas muito para ouvir, muito para dançar, muito para conversar. É esta, aliás, uma das máximas da D'Bandada: a democracia está nas ruas. Também na música.

Os concertos continuam até às 5h00, com DJ Ride a fechar, com a chave de ouro, esta maratona. Só há uma pequenina alteração a ter em conta: por "motivos pessoais" os Mr. Miyagi tiveram de cancelar o concerto no Plano B. Os ALTO! tocam, assim, à meia-noite.

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