Vítor Gaspar era e é o “special one” da troika

Tacho? Não, é mais que isso, ou seja, o melhor da turma do mestrado “Poder nos mercados: darwinismo estrutural da economia sobre o Estado”

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Hugo Correia/Reuters

Os grandes rapazes não choram. Alguns. Vítor Gaspar, o ex-ministro das finanças, foi nomeado, recentemente, director do departamento de assuntos orçamentais do Fundo Monetário Internacional (FMI). Tacho? Não, é mais que isso, ou seja, o melhor da turma do mestrado “Poder nos mercados: darwinismo estrutural da economia sobre o Estado”, pela faculdade de Miguel Relvas, na Universidade de Berlim, conseguiu um estágio profissional. Conseguiu-o com uma ajuda do Governo na promoção de estágios profissionais para os jovens licenciados portugueses. Ou melhor, um maravilhoso estágio.

O novo menino de ouro do FMI disse, também, que era insultuoso que o considerassem o quatro membro da troika. Ora, concordo em absoluto e, mais que isso, considero injusto que se faça tal distinção errónea. Vítor Gaspar era e é o “special one” da troika, além de ser o rosto desta nova perspectiva de Estado protector da economia em desfavor do cidadão. No fundo, não está muito longe da teoria do “Estado minimalitário”, de Benjamim Constant, e, numa versão mais modernizada da coisa, de um encontro com Molinari na visualização do Estado supérfluo (as privações sistemáticas de Margaret Thatcher, na Inglaterra, no final do século XX, são imagens de fantasmas que vão para além da película “Actividade Paranormal”).

Diga-se que Mario Draghi, o responsável pelo Banco Centra Europeu (BCE), é um verdadeiro menino no que concerne a este novo fanático liberalismo disfarçado (ainda sem caracterização pelos intelectuais) de Vítor Gaspar e das principais elites financeiras e políticas — a desculpa do aumento da dívida pública não cola. Em 2009, o Estado cumpria as suas responsabilidades de Estado Providência e a dívida pública era bem inferior.

Por sua vez, quando alguns membros do Governo defendem que pretendem devolver a economia à sociedade e isso só quer dizer uma coisa: tornar as obrigações do Estado, como a saúde, segurança, educação, do foro da iniciativa privada. Ideologias são ideologias, sim, é verdade. Respeite-se isso. Todavia, não faz sentido esta classe política induzir a população a uma ideia falsa de que gastaram muito e, agora, tiram, o pouco que ainda possuem, da carteirinha para liquidar tais dívidas, tal como não é correcto exigir contribuições dos cidadãos e, posteriormente, fazer um jogo de uma espécie de Estado travesti interventivo/liberal. Não faz sentido. Chama-se a isso enganar. Mas, é verdade, os grandes rapazes não choram, emigram e lutam (lutam a sério) por um futuro melhor — e depois ainda são insultados e apelidados de calimeros, porém isso é outra história.

Por fim, indica-se a todos os jovens a fazer um estágio oferecido pelo Governo. Se mentirem sobre a vossa licenciatura também não tem mal, opte-se por uma perninha até ao Brasil e os vossos pecados são perdoados pelo sacramento liberal. Por outro lado, se tirarem outra formação que não seja economia, aconselha-se a Goldman Sachs. A Mota-Engil também é uma empresa a ter em conta.

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