O Congresso do PSD: o bom, o mau e o vilão

Por outro lado, das variadas intervenções, três destacaram-se: Marcelo Rebelo de Sousa, o bom, Passos Coelho, o mau, e Santana Lopes, o vilão

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Miguel Manso

A política tem, por vezes, um estilo “western” com tiros de pólvora seca e outros, indubitavelmente, certeiros e eficazes. Este congresso, em boa verdade, foi um grande espectáculo de transcendência de disparos de arte política e de estratégias de comunicação refinadas até ao limite dos limites. Quando nos lembramos do último congresso do CDS, verificamos o paradoxo daquilo que aconteceu no bem organizado evento dos sociais-democratas, num estilo morno, sem volte-face, sem brilho — o melhor momento foi o auto-flagelo de Anacoreta Correia e isso diz tudo. Por outro lado, das variadas intervenções, três destacaram-se: Marcelo Rebelo de Sousa, o bom, Passos Coelho, o mau, e Santana Lopes, o vilão.

O bom. Marcelo Rebelo de Sousa (MRS), num estupendo e brilhante discurso — ao jeito dos melhores — consegue mandar as suas farpas, na medida em que aquelas historiazinhas da carochinha tinham como principal objectivo dizer “eu estou aqui e eu faço parte disto, respeitem-me!”, conquistar os militantes com os constantes ataques irónicos e pujantes a António José Seguro e aos problemas internos do PS, tal como deixar uma mensagem para o exterior, ao tecer alguns comentários de uma pretensa pluralidade de opinião e de uma certa independência de ideias existente dentro do partido (aqui pareceu mais um duplo jogo, tendo em conta que o seu principal alvo é Passos Coelho, pois esta falsa verdade induz aquilo que Marcelo acha que deveria ser, e, o alvo secundário é o eleitorado, eleitorado que gosta desta pretensa independência de MRS). Ora, no filme de Clint Eastwood, “O Bom, o Mau e o Vilão”, MRS seria o próprio Eastwood, o pistoleiro de honra e de princípios, cuja coragem ultrapassa partidos e ideologias. Sem dúvida que o cofre de ouro é dele.

O mau. Passos Coelho teve sorte, no entanto não é só sorte. A escolha de Miguel Relvas para o Conselho Nacional, em grande medida — se tivesse estado presente, pelo menos, conseguiria o papel de vilão — é uma má predilecção, deixando uma mensagem frágil para o exterior e para o interior. A seguinte expressão de Passos "com a receita do PS, não, a dívida não é sustentável" esbarra noutra vontade do mesmo em quebrar com o cânone neo-liberal e em abraçar a social-democracia, ou seja, a crítica à social-democracia mais à esquerda do PS, além de ser seguida sem qualquer justificação coerente, não apresenta elos de ligação com essa opção de afastamento do ideal liberal do actual PSD. Diga-se que Passos Coelho, um Fiat Punto, foi, no mediatismo, ultrapassado pelos vários ferraris e porsches, desde Paulo Rangel, Nuno Morais Sarmento a Marcelo Rebelo de Sousa (que salvaram o Congresso). Por fim, como referi, não é só sorte, os vários militantes do “núcleo pesado” sentiram que lutam contra um PS fragilizado pelo contexto exterior (a Europa virou à direita) e no interino (com os golpes de António de Costa) e, como tal, uniram-se em peso.

O Vilão. Discordo completamente de alguns comentadores políticos ao elogio a Santana Lopes. Considero-o uma imitação em ponto pequeno daquilo que MRS projectou para a plateia. As histórias vividas no partido para se aproximar dos militantes, as críticas a António Capucho e Pacheco Pereira para colocar os militantes do seu lado e um discurso pró-governo sem novidades e, até, um pouco condescendente. Será um apelo a Passos Coelho? Um cargo no governo? Existem mini-presidenciais?

Em suma, apesar do destaque, pelos aspectos positivos e negativos, destas três personalidades, o Congresso valeu pelo seu todo, conseguindo fugir à “questão Relvas”, ao imbróglio de um país melhor/pessoas pior, às negas do FMI e de Draghi e deixar, inclusive, uma imagem de força e união.

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