Futuro dos jovens médicos em análise no Porto

"Já há médicos a emigrar e a actual conjectura socioeconómica deve agravar o cenário e levar o país a perder recursos humanos de elevada qualidade e cuja formação foi essencialmente financiada pelo Estado"

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Daniel Rocha

O numerus clausus excessivo, a falta de vagas para o acesso ao internato médico e o congelamento das contratações do Estado são assuntos em debate numa conferência a realizar quarta-feira, no Porto, sobre “O futuro dos jovens médicos”.

“É esta a situação vivenciada pelos jovens médicos em Portugal. O futuro poderá ter de passar pela emigração”, afirmou António Marques Pinto, presidente pela Associação dos Jovens Médicos (AJOMED), que organiza o encontro.

O dirigente da AJOMED salientou que a abertura de um elevado número de vagas nos cursos de medicina portugueses, mesmo contra a indicação das escolas médicas, gerou um excesso de médicos recém-formados que não poderão ser devidamente treinados. “Não existe capacidade formativa suficiente, no âmbito do internato médico, para assimilar o número de estudantes que termina os cursos de Medicina. Por isso, estes jovens, que ingressaram num dos cursos mais exigentes do país e obtiveram qualificações de elevada qualidade, poderão ficar sem emprego e sem alternativas, porque não poderão exercer a sua profissão sem realizar o Internato”, acrescentou.

A Associação dos Jovens Médicos considera que “a situação resulta da falta de articulação que existe entre o Ministério da Saúde e o Ministério da Educação e Ciência. Há um desajuste significativo entre a oferta e a procura. Os argumentos das faculdades de medicina nacionais, que têm sido obrigadas a abrir vagas para mais alunos do que aqueles que conseguem suportar, não têm sido suficientes para travar a situação”.

Assim, refere o dirigente da AJOMED, “contrariamente ao que se verificava há poucos anos, já há médicos a emigrar e a actual conjectura socioeconómica deve agravar o cenário e levar o país a perder recursos humanos de elevada qualidade e cuja formação foi essencialmente financiada pelo Estado”.

Na conferência participam Agostinho Marques (diretor da FMUP), Álvaro Almeida (ex-presidente da Entidade Reguladora da Saúde), Roberto Pinto (coordenador do Conselho Nacional do Médico Interno), Luís Portela (presidente do Grupo BIAL e do Health Cluster Portugal), Miguel Guimarães (presidente da Secção Regional Norte da Ordem dos Médicos) e Manuel Pizarro (ex-secretário de Estado da Saúde e actual deputado à Assembleia da República). Conta também com representantes de vários sindicatos médicos, membros de conselhos de administração de hospitais públicos e privados, bem como representantes de vários institutos e centros de investigação.

A AJOMED explica que a formação médica passa pela realização de seis anos de curso numa faculdade de Medicina, mas não termina aí. Os recém-formados têm de realizar provas, ser aceites e concretizar um ano de internato comum, num hospital, por forma a complementaram a sua formação. Posteriormente, deverão ingressar no internato de especialidade, o que poderá durar entre quatro a seis anos a concluir, de acordo com a especialidade médica em causa. No total, a formação de um médico pode demorar até 13 anos.

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