Quatro dias de cinema italiano, quatro dias de festa

De 10 a 13 de Maio, o cinema Passos Manuel recebe a 5.ª edição do 8 ½ Festa do Cinema Italiano. O P3 falou com o director Stefano Savio que realça o sucesso do festival e a crescente adesão do público português às produções transalpinas

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Corpo Celeste faz parte da sessão competitiva DR
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Corpo Celeste faz parte da sessão competitiva DR

A Festa do Cinema Italiano, que estreou em Lisboa a 12 de Abril e passou pelo Funchal, Coimbra e Guimarães, chega agora ao Porto e promete satisfazer os cinéfilos mais ávidos com o que de melhor se criou em Itália no ano de 2011.

Desafiado a eleger as obras mais entusiasmantes deste festival no Porto, Stefano Savio, director do 8 ½ (alusão ao filme de Federico Fellini com o mesmo nome) faz uma menção particular ao filme de abertura “Corpo Celeste”, esta quinta-feira, e a “Sette Opere di Misericordia”, o último a ser exibido, no domingo.

“Corpo Celeste é um filme que gerou bastante discussão em Itália; indaga inteligentemente como a Igreja Católica, no sul do país, nas comunidades mais pequenas, ainda não é uma força educativa válida”, conta. “Sette Opere di Misericordia é visivelmente muito forte, inspirado na obra com o mesmo nome de Caravaggio (pintor barroco), criado em 7 actos e fala na solidão dos personagens, numa situação-limite”.

Mas há outros motivos para dar um salto ao cinema Passos Manuel entre 10 e 13 de Maio e assistir às produções italianas em ascensão, por 3,50 euros. Na edição deste ano, é abordada a problemática da integração cultural de forma crua e “aprofundada”, focando a vida das comunidades imigrantes em Itália.

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Altra Europa, documentário de Rossella Schillaci DR

Em “Là-Bas”, o ponto de partida é o ataque de um grupo de camorristas (máfia napolitana) a uma alfaiataria de imigrantes africanos, enquanto o documentário “Altra Europa” narra a história de cerca de 300 refugiados somalis e sudaneses que ocupam uma clínica abandonada num histórico bairro operário de Turim. A ideia é suscitar a reflexão do espectador sobre uma “Itália, onde a imigração e o confronto de culturas ainda é um grande problema”, afirma Stefano Savio.

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Altra Europa, documentário de Rossella Schillaci DR

No programa, há lugar ainda para a exibição de seis curtas-metragens, da autoria do colectivo de artistas plásticos e vídeo-artistas “Flatform”, cujo trabalho incide na relação indissociável, mas desconcertante, entre acção, lugar e tempo, algo que pode desencadear um sentimento cúmplice com o espectador. “No Porto, a arquitectura e o design têm mais peso e achámos que era uma associação importante. Lisboa é uma cidade mais ligada ao cinema”. “Era uma das coisas mais importantes no festival, não fecharmos as fronteiras do cinema”, conclui.

O trunfo do cinema

Stefano Savio considera que o cinema italiano “ainda tem muito charme” e atrai tanto os mais velhos como o público jovem, daí o êxito da 5.ª edição do festival, que “foi para além das expectativas”. Para o director do 8 ½, o sucesso resulta de uma das principais virtudes da cinematografia italiana: “A vontade de comunicar através das personagens, de uma empatia entre o protagonista do filme e o protagonismo do cinema que é o espectador”.

Além da preponderância dada ao espectador, Stefano enaltece a “capacidade de narrar pensamentos” de um modo peculiar, a meio caminho entre “o cinema de espectáculo americano e o cinema de autor europeu”, esclarece.

As perspectivas de distribuição em Portugal são cada vez mais risonhas e Stefano Savio acredita que o festival é a “plataforma” ideal em termos de promoção. O próximo passo será dinamizar outros festivais e mostras, adoptando como veículo privilegiado os cineclubes nacionais, com o objectivo de “enraizar o cinema italiano” nos hábitos culturais dos portugueses.

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