A roleta russa

O Ocidente está a começar a responder, e de forma concertada. Os próximos passos serão as sanções diplomáticas e comerciais, mas tudo pode entrar rapidamente em escalada.

Estes não são tempos de Guerra Fria, nem esses dias voltarão. A globalização matou qualquer hipótese de continuarem a existir (apenas) dois blocos com desejos de destruição mútua. Mas a reacção dura e conjunta da NATO e da União Europeia, apoiada numa declaração conjunta dos líderes dos Estados Unidos, da Alemanha, de França e do Reino Unido, mostra que há uma preocupação crescente com a postura internacional da Rússia. Os ataques cibernéticos de hackers a soldo do Kremlin e a intensificação da espionagem um pouco por toda a Europa aliam-se à desfaçatez das acções militares descaradas na zona de influência directa — e, para corolário, há toda a tentativa de influência nos actos eleitorais americanos e europeus através da manipulação nas redes sociais.

O Ocidente está a começar a responder, e de forma concertada. Os próximos passos serão as sanções diplomáticas e comerciais, mas tudo pode entrar rapidamente em escalada. O cerco está decerto a apertar-se e ainda falta perceber o que vai ser apurado na investigação do procurador americano Mueller. Que tudo isto se passe a cinco dias das eleições russas só acrescenta mais uma camada de estranheza a toda a situação.

Este é o jogo da Rússia, um desporto em que os políticos russos são mestres e que serve para continuar a distrair do essencial. Vladimir Putin é exímio no xadrez diplomático, colocando com mestria as peças a proteger os trunfos — e não há maior do que o veto no Conselho de Segurança, usado com frequência para proteger o aliado sírio.

Mas esta atitude só traz ganhos de curto prazo, arriscando colocar o país numa lista de indesejados nas relações internacionais. E convenhamos que a Rússia não tem grandes condições para sobreviver incólume a uma guerra de sanções que tenha consequências financeiras: desde logo porque não tem reservas financeiras que lhe permitam suster por muito tempo uma disputa comercial que limite as exportações para lá da zona de influência directa, especialmente no que toca ao petróleo. Depois, há outra forma de afectar directamente os próximos do Presidente: muitos dos milionários que se fizeram com Putin têm o dinheiro fora da Rússia e terão muito a perder, se o Ocidente decidir começar a limitar os bens originados em rublos. Entre as mansões londrinas, os palácios de Marbella e os bancos suíços estão fortunas capazes de rivalizar com o PIB de muitos países de média dimensão. A roleta de Putin é muito mais arriscada do que parece.

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