PSD quer país a crescer mais, mas não apresentou propostas

Sociais-democratas marcaram debate potestativo sobre economia e emprego e desafiaram o PS a não alterar as leis laborais. Socialistas responderam que querem “estabilidade” nessa área.

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LUSA/MANUEL DE ALMEIDA
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Só faltou ao PSD usar o termo “poucochinho”: os sociais-democratas marcaram um debate potestativo sobre economia e emprego para criticar o Governo por não preparar o país para o futuro nem aproveitar a boa conjuntura internacional e para reclamar a necessidade de a economia crescer mais, assente numa agenda “reformista”. Emídio Guerreiro admitiu que o país está melhor na criação de riqueza, no emprego e nas exportações, e defendeu que o mote do debate era “olhar para a frente”, tendo vários deputados do seu partido perguntado insistentemente quais as políticas para a educação e a juventude do Governo. Mas os sociais-democratas também não levaram qualquer proposta para o debate, ao contrário do que é habitual nos partidos que promovem os debates.

O PSD disse a várias vozes que “as contas com o passado estão feitas”, mas acabou por receber como resposta da esquerda muitas críticas às políticas do Governo de Pedro Passos Coelho, que - insistiram -“empobreceram” o país, destruíram emprego e retiraram direitos aos trabalhadores. PS, BE, PCP e PEV fizeram, todos, a defesa da actual governação socialista, falando de medidas e indicadores. Defenderam que, com a devolução de rendimentos, o Governo “fechou a porta ao diabo” e provou que era possível uma “alternativa” que permitisse a recuperação da economia.

Houve, porém, um momento do debate em que estes partidos não terão gostado de um certo entendimento entre socialistas e sociais-democratas: desafiado por Virgílio Macedo (PSD) a dizer se podia dar uma “palavra de confiança” aos investidores estrangeiros sobre a não alteração da lei laboral, Hugo Costa (PS) disse que o partido tenciona “cumprir o seu programa” e que “podem contar com o PS para estabilidade nesta matéria”.

Emídio Guerreiro levou gráficos sobre o crescimento português e da UE, sobre o défice, o PIB per capita e a taxa de desemprego para fazer o retrato do país na última década – para apanhar os anos de Sócrates, de Passos e os de Costa. Admitiu que a economia está a crescer, que os números são bons no emprego e nas exportações, mas podiam ser melhores. “Não podemos viver à sombra de bons resultados (…) Este é o tempo de tomar decisões para o futuro. É o tempo para mais ambição!”. “Não podemos adormecer no conforto das reformas de ontem. A dinâmica dos novos tempos exige um permanente espírito reformista”, defendeu ainda o deputado.

A intenção do PSD era encaminhar a discussão para as questões laborais e tentar encontrar fissuras nesta área sensível entre o PS e os partidos que o apoiam. Insistiu-se na ideia de que os bons dados da economia (investimento e exportações) e do emprego se devem ao Código de Trabalho aprovado na era Passos.

Clara Marques Mendes criticou a “atitude de deslumbramento do PS e do Governo” e a sua “arrogância política e intelectual”, defendeu que a maioria dos países da UE estão a crescer mais de 3% e Portugal apenas 2,7%. Mas no caso português “sem a ajuda do Governo” e apenas por “mérito dos empresários, trabalhadores e condições favoráveis do exterior”. E classificou o Governo como um “cata-vento”, por tão depressa recusar a reforma laboral como logo a seguir admitir alterações. Joana Barata Lopes trouxe termos da realidade digital – sobretudo cool - para defender a necessidade de preparar os jovens. “Cool é mandá-los emigrar”, gritava a bloquista Mariana Mortágua. “Também não é cool a política dos deputados que acham que podem dizer tudo e não conseguem ouvir nada”, respondeu a deputada do PSD.

O CDS veio ajudar o PSD. Pedro Mota Soares vangloriou-se da “reforma profunda” da lei laboral aprovada no Governo que integrou como ministro do Trabalho, que “permitiu a inversão do ciclo de aumento de desemprego” e de que o PS está agora a colher os frutos. Filipe Anacoreta Correia citou contradições do Governo, que no exterior elogia a actual lei laboral e na administração pública dá o mau exemplo de aumentar a precariedade com contratos a prazo. “Corem de vergonha!”, atirou ao BE e PCP.

Durante todo o debate as cadeiras do Governo permaneceram vazias e, no início, o socialista Carlos Pereira até perguntou: “A sério que o PSD quer mesmo fazer este debate?”

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