Mueller terá provas de que equipa de Trump tentou abrir canal com o Kremlin

Encontro em 2017, nas Seychelles, juntou empresário próximo de Trump e responsável do Fundo de Investimento estatal russo, diz o Washington Post.

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O procurador especial Robert Mueller, encarregado da investigação sobre a alegada interferência russa nas eleições presidenciais norte-americanas de 2016 Jonathan Ernst

O procurador especial Robert Mueller, encarregado da investigação sobre a alegada interferência russa nas eleições presidenciais norte-americanas de 2016, conseguiu reunir provas de que houve uma reunião secreta nas Seychelles, em Janeiro de 2017, entre um representante norte-americano e um russo, antes da tomada de posse de Donald Trump, com o objectivo de abrir um canal de comunicação entre a nova Administração norte-americana e o Kremlin. Isto é o que escreve o Washington Post, citando fontes anónimas próximas do processo. A confirmarem-se estas informações, as provas reunidas por Mueller contradizem o depoimento feito por um dos participantes nessa reunião às autoridades de Washington que investigam o caso.

Em Janeiro de 2017, Erik Prince, sócio de Trump e fundador da empresa de segurança privada Blackwater, encontrou-se com o director executivo do Fundo de Investimento Estatal russo, Kirill Dmitriev, nas Seychelles, depois de se reunir com empresários dos Emirados Árabes Unidos. Prince disse aos congressistas, durante um inquérito no âmbito desta investigação, que se tinha tratado de uma reunião não planeada, que durou cerca de 30 minutos, o tempo para tomar uma cerveja no bar do hotel de luxo onde estava hospedado. Afirmou que o objectivo não era discutir a abertura de qualquer tipo de comunicação entre os EUA e a Rússia.

Prince contou aos Serviços Secretos norte-americanos que se encontrava nas Seychelles para discutir a possibilidade de acordos económicos com representantes dos Emirados Árabes Unidos e que foram estes que sugeriram encontrar-se com Dmitriev. "No final, um dos representantes diz: "Aliás há um tipo russo com o qual lidámos antes. Também está aqui para ver alguém da delegação árabe. Devia conhecê-lo, é um tipo interessante de se conhecer, especialmente se se estiver interessado no sector do petróleo e do gás mineral", disse Prince aos congressistas, durante o inquérito a que foi sujeito.

“Falámos sobre tópicos que iam dos preços dos produtos até quanto ele gostaria que as relações comerciais com os EUA voltassem ao normal”, contou o empresário norte-americano, referindo-se às sanções impostas à Rússia pelos EUA, devido à invasão da Ucrânia em 2014. “Lembro-me de lhe ter dito que se Franklin Roosevelt conseguiu trabalhar com Joseph Estaline para derrotar o fascimo nazi, então Donald Trump poderia trabalhar com Vladimir Putin para derrotar o fascismo islâmico”.

No entanto, o empresário de origem libanesa, George Nader, que esteve na reunião e está actualmente a colaborar com os investigadores do caso como testemunha, contradisse a versão de Prince e adiantou que a reunião foi marcada com antecedência e de maneira a que um representante de Trump se pudesse encontrar com um enviado de Moscovo para discutir relações diplomáticas futuras, escreve o Post.

Nader começou a colaborar com Mueller na investigação sobre a alegada interferência russa nas presidenciais norte-americanas de 2016 depois de ter sido interceptado no Aeroporto de Dulles (Washington, EUA) e questionado pelo FBI. A sua relação com Prince é profissional. Nader é um empresário conhecido por manter boas relações com o Médio Oriente – especialmente com os Emirados Árabes Unidos. Prince contratou-o enquanto intermediário para iniciar relações comerciais com o governo iraquiano. De acordo com a CNN, Nader esteve em pelo menos duas reuniões antes das eleições e manteve contacto com membros da Administração Trump, como Bannon e Kushner, mesmo depois das presidenciais.

Prince nunca teve um papel formal na campanha de Trump nem durante a tomada de posse do Presidente norte-americano. Contudo, as fontes do Post contam que se apresentou na reunião de Seychelles como um enviado não-oficial de Trump aos árabes que o apresentaram a Dmitriev.

Contactados pelo Washington Post, nem Prince, nem Nader, nem os representantes da procuradoria especial quiseram comentar.

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