Emprego jovem: e, no entanto, ele move-se

Apesar da forte melhoria, há ainda demasiados jovens que procuram emprego.

Nos últimos dois anos, mesmo num mercado de trabalho muito dinâmico, o crescimento homólogo do emprego jovem foi quase sempre pelo menos duas vezes superior ao do total do emprego. Segundo os dados trimestrais do INE (3.º T), o emprego jovem cresceu quase 7%, mais do dobro do crescimento global de 3%, tendência aprofundada em outubro (8,6% vs. 3,2%).

Estes bons resultados não invalidam a prioridade que deve ser dada ao emprego jovem nas políticas públicas. A taxa de desemprego jovem está longe do máximo histórico de 42,5% (início de 2013) e dos 32,8% do final de 2015 e o rácio de desemprego nos 8%, longe do máximo de 14% (2012) e quase nos níveis pré-crise. Apesar da forte melhoria, há ainda, além de excessiva exposição a contratos não permanentes, demasiados jovens que procuram emprego.

É verdade que a transição dos jovens para o emprego é difícil à escala global. Não surpreenderá, pois, que também em Portugal, ao longo dos anos, quer o desemprego, quer a precariedade tenham nesta faixa etária especial incidência.

Acresce que, elemento importante, no Portugal das últimas décadas mudaram também as características e o universo dos que entram no mundo do emprego antes dos 25 anos. Mudou o universo porque há, desde logo, menos jovens, e uma parte menor no mercado de trabalho. Em 1998 havia um milhão e 500 mil jovens (15-24) em Portugal e mais de 720 mil estavam empregados ou à procura de emprego; passados apenas 20 anos, há pouco mais de um milhão de jovens e só 370 mil ativos.

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Neste quadro, e porque reporta apenas aos que são ativos e deixa de fora uma parte crescente deste grupo etário, a taxa de desemprego jovem reflete hoje pior a proporção de jovens que estão desempregados. Torna-se, assim, aconselhável olhar também para o rácio de desemprego jovem (face ao total de jovens).

De facto, o prolongamento das trajetórias escolares (crescimento do ensino superior, escolaridade mínima no 12.º ano e redução do abandono precoce) transformou a posição relativa dos jovens face ao emprego. Em 1998, só 45% das pessoas entre os 15 e os 24 estudavam sem ir trabalhar; 20 anos depois, em 2017, são mais de 60%. E a percentagem de jovens ativos que concluiu o ensino secundário subiu de 22% para 71%. Mesmo assim, quase 1/3 dos jovens hoje ativos não concluiu a atual escolaridade obrigatória.

Esta evolução somou complexidade à parte (decrescente) dos jovens que entram precocemente no mercado de trabalho: com menos experiência e, em média, menos qualificações que as gerações mais próximas, incluindo a sua, uma inserção bem-sucedida no emprego sem ter pelo menos o ensino secundário será cada vez mais difícil.

Menos jovens, menor taxa de atividade e qualificações mais altas disponíveis no mercado: eis o quadro que ajuda a explicar a subida estrutural da taxa de desemprego jovem (mesmo em quebra, ainda perto dos 25%), muito acima do rácio de desemprego cujo pico na crise foi de 14% e está agora nos 8% (face à população jovem total).

A esta luz, é ainda mais importante valorizar as dinâmicas atuais de forte crescimento do emprego jovem. Mas torna também indispensável uma correta calibragem de políticas públicas focalizadas no estímulo a qualificações mais elevadas e adequadas e em medidas ativas de emprego mais sustentáveis.

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