Tutela já identificou 25% dos nove mil doentes com VIH desaparecidos do sistema

Despacho do secretário de Estado Adjunto e da Saúde dá conta de que existem 42 mil pessoas no registo nacional da doenças, mas os hospitais só seguem 33 mil, disse o presidente do Grupo de Activistas em Tratamentos. Mais de metade já morreu, mas não tinha sido excluído das listas.

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Rastreio de VIH pode ser feito através de testes rápidos, em que o resultado é obtido numa hora guilherme marques

A Direcção do Programa Prioritário VIH/Sida já identificou 2250 pessoas, “cerca de 25%”, das nove mil listadas como doentes mas que não se encontram a ser seguidas nos hospitais públicos há mais de um ano. Depois da denúncia do presidente do GAT - Grupo de Activistas em Tratamentos, a secretaria de Estado Adjunta e da Saúde esclareceu que mais de metade já morreu, mas não tinha sido excluída das listas.

"O secretário de Estado Adjunto e da Saúde fez um despacho para perceber porque é que estão no registo nacional de pessoas diagnosticadas mais de 42 mil pessoas vivas e os hospitais reportam que só têm em seguimento 33 mil pessoas", disse Luís Mendão à Lusa a propósito Dia Mundial da Luta Contra a Sida, que se assinala no sábado. O último relatório do programa nacional para a doença actualiza o número de pessoas seguidas nos hospitais para 34.391.

No despacho referido por Luís Mendão, publicado no Diário da República no passado dia 25 Setembro, o secretário de Estado Fernando Araújo determina que, até 31 de Dezembro, será implementado um sistema informático para o VIH em todos os estabelecimentos hospitalares públicos que seguem pessoas infectadas com o vírus da imunodeficiência humana. 

O despacho esclarece ainda que “existe um conjunto de doentes que, estando diagnosticados e tendo os casos sido notificados, não há evidência de se encontraram em seguimento nas diferentes instituições hospitalares". Por isso, é necessário "um esforço na melhoria da qualidade da informação que assegura a fiabilidade e rastreabilidade dos dados", lê-se.

Segundo o presidente do GAT, são nove mil pessoas. "É um número brutal que compromete qualquer tentativa de controlo da epidemia se não se encontrar os que estiverem vivos e em Portugal e os trouxermos ao tratamento". É preciso saber "para onde foram, onde estão, se morreram, se emigraram, se estão simplesmente perdidos para seguimento, se abandonaram o tratamento e o seguimento hospitalar", defendeu.

Entretanto, a Direcção do Programa Prioritário VIH/SIDA já identificou 2250 doentes, ou seja, “cerca de 25%” dos que estão listados mas não se encontram a ser seguidos nos hospitais públicos há mais de um ano, garantiu a secretaria de Estado Adjunta e da Saúde.

Ao PÚBLICO, o gabinete de Fernando Araújo esclareceu que a maioria trata-se de pessoas que já morreram, mas não tinham sido excluídas das listas, devido à "não interoperabilidade entre o SIVIDA (sistema de acompanhamento dos doentes VIH) e o SICO (sistema de notificação de óbitos)” até ao mês de Setembro, lê-se na resposta escrita.

Dos doentes que não estão a ser seguidos nos hospitais e a que tutela já identificou, destacam-se ainda os de outras nacionalidades que voltaram ao país de origem. “Apenas cerca de 4% constituem abandonos de consulta”, garantiu o gabinete de Fernando Araújo, acrescentando que estas pessoas “estão a ser contactados e sensibilizados para a adesão às consultas do VIH”.

A tutela admitiu ainda que existe “um valor considerável que corresponde a erros de notificação, duplicações de registos (nomeadamente inter-hospitais) e a transferências entre serviços”.

“Investimento sério” nos sistemas

Apesar de estar ainda no início deste processo de rectificação das listas, a secretaria de Estado Adjunta e da Saúde adiantou que, a manter-se esta tendência, “poderá significar que o número de doentes VIH diagnosticados e o número de doentes VIH em tratamento é mais próximo do que o que se  pensava”. E Portugal fica assim mais “perto de ou mesmo já a cumprir” o objectivo para 2020 definido pela ONUSIDA: 90% dos doentes diagnosticados em tratamento.  

Mas para Luís Mendão, do GAT, importa agora fazer "um investimento sério" nos sistemas de informação e na monitorização da qualidade e na capacidade dos vários sistemas informáticos e bases de dados poderem comunicar uns com os outros, "garantindo o anonimato e a confidencialidade dos dados individuais de saúde".

"Portugal é o país que mais gasta em medicamentos por milhão de habitantes em VIH, portanto, é urgente que tenha informação absolutamente credível e correta de modo a poder definir políticas" de saúde, vincou.

Por melhores que sejam as intenções, "não é possível responder a uma epidemia sem a conhecer", mas também é necessário perceber onde se está a falhar e como se pode melhorar para pôr fim à epidemia do VIH e à epidemia da sida.

Segundo o relatório do Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças e da Organização Mundial da Saúde para a Europa, Portugal registou até hoje 56.001 diagnósticos de infecção VIH, 1030 dos quais em 2016.

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