Números revistos em alta: no ano passado houve 1030 novos diagnósticos de VIH

Portugal vai disponibilizar muito em breve estratégias de prevenção, como os testes de auto-diagnóstico e o tratamento profiláctico “pré-exposição” ao VIH, recomendadas pelos especialistas da OMS, num relatório divulgado nesta terça-feira.

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OMS aconselha recurso aos testes de auto-diagnóstico como forma de travar o contágio Guilherme Marques

Portugal registou 1030 novos casos de infecção por VIH no ano passado, segundo um relatório divulgado nesta terça-feira pela Organização Mundial de Saúde. É um número bastante acima dos 841 novos casos reportados, em Maio, pelo programa nacional para a infecção VIH, Sida e Tuberculose.

A discrepância, diz a directora do programa, Isabel Aldir, deve-se ao desfasamento na introdução dos dados no programa de vigilância epidemiológica. Numa altura em que a OMS se mostra preocupada com o número recorde de novos diagnósticos, sobretudo nos países de Leste, Isabel Aldir prefere salientar a tendência decrescente e “consistente” dos novos casos de contágio em Portugal, desde 2000.

No relatório da OMS, os especialistas reclamam estratégias mais eficazes para travar o contágio, como o recurso a testes de auto-diagnóstico e a inclusão de tratamento profiláctico “pré-exposição” ao vírus VIH. São medidas que estão à beira de se tornarem uma realidade em Portugal, segundo Aldir.

A publicação da norma que regula o acesso à profilaxia pré-exposição “está por dias”, adianta aquela responsável, para acrescentar que os auto-testes estão igualmente a ser alvo de análise pelo Infarmed.

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“São medidas muito pertinentes que fazem todo o sentido na nossa realidade e que serão introduzidas muito em breve”, assegura a directora do programa nacional. “Temos também tentado promover e diversificar a forma de realizar o teste. Para além de estar nos centros de saúde e nas organizações de base comunitária, vai também passar a estar disponível nas farmácias."

Explosão de casos no Leste da Europa

O relatório conjunto do Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC, na sigla em inglês) e da Delegação Regional da OMS para a Europa é claro: longe de estar controlada, a epidemia continua a fazer novas vítimas, sobretudo entre os países do Leste da Europa. No ano passado, mais de 160 mil pessoas foram diagnosticadas com o VIH. É o maior número de novas infecções alguma vez registado em apenas um ano, desde que a evolução da doença começou a ser monitorizada, no início da década de 1980.

A Rússia e a Ucrânia contribuíram com 73% para os 160.453 novos casos diagnosticados no ano passado (a infografia da OMS que reproduzimos neste texto não contabiliza os dados de alguns países como Rússia, daí que os totais apresentados sejam diferentes destes).

Mas, independentemente das variações regionais, o principal problema é extensível às restantes regiões europeias: 51% dos novos diagnósticos foram feitos numa fase avançada da doença. “O diagnóstico tardio verifica-se em todos os países, mesmo nos ditos mais desenvolvidos”, observa Aldir, confirmando ser esse também o caso português.

No conjunto dos países analisados, decorreram em média três anos entre o momento do contágio e o do diagnóstico, segundo os especialistas europeus. “É demasiado tempo”, lê-se no relatório, nomeadamente porque o diagnóstico tardio, além de diminuir a qualidade de vida dos portadores da doença, “aumenta o risco de transmissão do VIH”.

No caso da União Europeia, 68% dos novos casos de sida foram diagnosticados com um intervalo de apenas três meses após o diagnóstico de contágio por VIH, o que evidencia que estas pessoas conviveram com a infecção silenciosa durante muitos anos, tendo, muito provavelmente, infectado outras pessoas nesse intervalo temporal.

Casos acumulados sobem para os 2,2 milhões

Se nos ativermos apenas aos países que compõem o Espaço Económico Europeu, os novos casos fixam-se nos 29.444, tendo registado um decréscimo face aos 32.568 de 2015.

Mas, independentemente de a epidemia estar a alastrar a um ritmo muito mais galopante nos países de Leste, responsáveis por quase 80% dos novos diagnósticos, os casos acumulados tinham subido para perto dos 2,2 milhões, no final de 2016. E o que poderá estar em causa é a impossibilidade de cumprir a meta definida nos Objectivos do Desenvolvimento Sustentável de acabar com a epidemia em 2030, conforme alertou a directora regional da OMS para a Europa, Zsuzsanna Jakab. “Quanto mais tarde for feito o diagnóstico, mais provável é que as pessoas desenvolvam sida, que conduz a mais sofrimento e mais mortes”, acrescentou aquela responsável, apelando a que todos os países adoptem medidas urgentes para reverter esta epidemia.

A publicação mostra que 65% dos novos diagnósticos tardios incidiram em pessoas com 50 e mais anos de idade, o que leva os autores do relatório a considerar que a despistagem do VIH deve passar a ser feita por rotina, sempre que a pessoa apresente outros problemas de saúde tais como tuberculose, hepatites virais, outras doenças sexualmente transmissíveis e certos tipos de cancro, por exemplo.

Além de diminuir o risco de desenvolver a doença, o diagnóstico precoce é fundamental para diminuir os contágios e contrariar, por exemplo, o risco de contrair tuberculose. Além na incorporação nas estratégias nacionais dos testes de auto-diagnóstico e da ponderação da profilaxia, os especialistas europeus lembram que é preciso que os países continuem a insistir nas campanhas de sensibilização para a necessidade de fazer sexo seguro, garantindo acesso fácil a preservativos e a programas de troca de seringas.

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