Alentejo comemora em festa três anos de Património Mundial do Cante

Espetáculos de grupos corais, apresentações de álbuns e livros, conversas, exposições e cinema marcarão, a partir deste sábado, as comemorações no Alentejo do 3.º aniversário da classificação do cante alentejano como Património da Humanidade.

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Este fim-de-semana, grupos como Os Camponeses de Pias (na foto) serão ouvidos por todo o Alentejo Nuno Ferreira Santos

O cante alentejano, canto colectivo sem recurso a instrumentos, foi classificado há três anos, a 27 de Novembro de 2014, como Património Cultural Imaterial da Humanidade, pela UNESCO, graças a uma candidatura apresentada pela Câmara de Serpa e pela Entidade Regional de Turismo do Alentejo e Ribatejo. Para comemorar o 3.º aniversário, o município promove o 3.º Cante Fest, que tem como tema central "O Cante do Trabalho" e inclui várias iniciativas em Serpa, no distrito de Beja, desde este Sabado e até segunda-feira.

O destaque do Cante Fest vai para actuações de 60 grupos corais alentejanos, num total de mais de mil cantadores, sábado, das 14h30 às 22h00, e no domingo, das 14h30 às 21h00, no Pavilhão de Feiras e Exposições de Serpa.
Apresentações do Ensaio sobre o Cante Alentejano e a Experiência de Flow, de João Figueiredo, e do projecto do Museu do Cante, que irá nascer em Serpa, uma simulação do programa de rádio Modas Raras e a actuação do grupo Aqui Há Baile são as outras iniciativas previstas para hoje no pavilhão.

No domingo, o Cante Fest vai incluir as apresentações do livro Alentejo: Vozes e Estéticas em 1939/40, de Maria do Rosário Pestana, de álbuns dos grupos corais Os Arraianos e Madrigal e de uma medalha alusiva ao cante, uma conversa sobre o etnomusicólogo Michel Giacometti e a actuação do grupo Trigo Roxo.

Durante o Cante Fest, os visitantes vão poder ver, também no Pavilhão de Feiras e Exposições de Serpa, as exposições "O Cante e o Trabalho", com objectos de grupos corais alusivos ao trabalho, e Michel Giacometti e o Cante, uma mostra documental sobre o cante alentejano evocando a obra do etnomusicólogo.

O Cante Fest termina na segunda-feira com a cerimónia comemorativa dos três anos da classificação, que vai decorrer a partir das 21h, no Cineteatro Municipal de Serpa, e inclui entrega de medalhas aos grupos corais do concelho e exibição do documentário Os Cantadores de Paris, do realizador Tiago Pereira.

O documentário, que retrata ensaios de um grupo de cante alentejano em Paris e a sua viagem até Serpa, onde cantou com grupos corais locais, também é exibido hoje, a partir das 15h, no Cineteatro Municipal de Castro Verde, e no domingo, a partir das 18h, no Teatro Municipal Pax Julia, em Beja, no âmbito das comemorações dos três anos da classificação do cante promovidas pelos respectivos municípios.

As comemorações em Beja também vão integrar uma conversa sobre "O cante e os caminhos da patrimonialização" e actuações do Grupo Coral Os Mineiros de Aljustrel e do Grupo Coral de Beringel, este sábado, a partir das 21h30, no Centro UNESCO, e uma conversa com Tiago Pereira e a actuação do Grupo Coral Os Cantadores do Desassossego, no domingo, após a exibição do documentário.

Na aldeia de Cabeça Gorda, no concelho de Beja, decorre este sábado, a partir das 14h30, a 4.ª edição da iniciativa "Cabeça Gorda, Terra de Cante", promovida pela Associação Grupo Coral Moços da Aldêa e que vai incluir várias iniciativas, como uma rota com actuações de grupos corais alentejanos em cafés, bares e tabernas.

Em Castro Verde, as comemorações também vão incluir actuações de grupos corais, hoje, no cineteatro, e a iniciativa "O Cante no Concelho", que irá decorrer entre segunda-feira e dia 1 de dezembro, em várias localidades, com atividades dinamizadas pelos grupos corais locais, como um jantar e oficinas de cante, um ensaio aberto, actuações e um magusto.

"Há muito a fazer" para salvaguardar "novo atractivo" do Alentejo

O cante alentejano tornou-se um "novo atractivo" para o Alentejo com a classificação como Património da Humanidade, há três anos, que permitiu criar um movimento para o salvaguardar, mas "ainda há muito a fazer", segundo promotores da candidatura.

Graças à classificação, o cante, "um dos principais activos" e uma "expressão tão particular do povo alentejano, ganhou uma dimensão enorme" e o Alentejo, "por sua vez, acabou por ganhar um novo fator de atractividade", diz à agência Lusa o presidente da Câmara de Serpa, Tomé Pires.

Já o presidente da Turismo do Alentejo e Ribatejo, António Ceia da Silva, refere que as classificações atribuídas pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) a bens do Alentejo, como o cante, "têm dado um aporte muito importante para a promoção e a afirmação do Alentejo como destino turístico".

A questão da identidade é uma das apostas da estratégia da Turismo do Alentejo, porque "o turista quer destinos identitários e distintivos", e o cante tem "um peso muito forte a nível identitário" para a região, explica Ceia da Silva. As pessoas gostam de ir ao Alentejo porque "tem uma identidade e uma força cultural únicas" e, neste aspecto, "o cante alentejano ajudou claramente no processo de afirmação do destino", frisa, referindo que o trabalho à volta da identidade da região, no qual o cante tem "uma forte expressão", tem influenciado o crescimento do número de turistas.

Tomé Pires e Ceia da Silva fazem um balanço "muito positivo" dos três anos de classificação do cante alentejano, com o autarca a frisar que "andámos muito" para a conquistar, "mas valeu a pena, está a valer a pena. Sobretudo porque está criado um movimento para a salvaguarda do cante alentejano", que ganhou "força, rejuvenescimento e motivação", o que "leva à questão da responsabilidade de termos de manter toda esta dinâmica, porque não podemos baixar os braços e ainda há muito, mas muito trabalho a fazer", sublinha o autarca.

Segundo Tomé Pires, a classificação da UNESCO trouxe "reconhecimento, prestígio, afirmação, reforço da auto-estima, interesse, motivação" ao cante, o que é "evidente em vários níveis", nomeadamente na investigação e na "crescente procura" do cante em muitas actividades e interpretações artísticas, no turismo e no "interesse em visitar o Alentejo, percorrer as rotas do cante, provar os petiscos, partilhar experiências e conhecer a história e o património" da região.

"Havia um cante antes e passou a haver um cante depois da classificação, com mais força, dinâmica e impacto", refere Ceia da Silva, considerando também que "há muito a fazer e muito que vamos fazer [Turismo do Alentejo e outras entidades da região] em conjunto" para salvaguardar o cante, que "bem merece". Neste sentido, a Câmara de Serpa e a Turismo do Alentejo estão a gerir a implementação do plano de salvaguarda do cante, que fez parte da candidatura e inclui orientações genéricas para desenvolvimento de projetos por várias entidades para salvaguardar, valorizar, promover e transmitir às novas gerações o cante alentejano.

Segundo Tomé Pires, a Câmara de Serpa tem vindo a sensibilizar entidades e grupos corais do Alentejo para a realização de ações enquadráveis no plano e para a importância da promoção, da transmissão e da sustentabilidade do cante. No caso de Serpa, o município promove há 12 anos o ensino do cante em escolas básicas do concelho, criou a Casa e a Rota do Cante e o certame Cante Fest e, em parceria com a Direção Regional de Cultura do Alentejo, está a trabalhar na criação do Museu do Cante.

Já o Turismo do Alentejo está a preparar roteiros, guias e vendas específicas do destino Alentejo junto de operadores turísticos com base nos bens da região classificados como Património da Humanidade, refere Ceia da Silva.
Por outro lado, a Câmara de Serpa e a Turismo do Alentejo também têm um plano específico que pretendem executar nos próximos anos e prevê várias acções, como criação de roteiros e casas de cante.

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