Melões há muitos

O melão de Inverno dura até à festa de fim-de-ano. Mais do que uma lembrança do Verão é um anúncio das frescuras e verduras do Natal.

Anda Dezembro cada vez mais perto, a gelar-nos as canelas para ver se duram, congeladas, até à Primavera, e começa a brincadeira do melão.

A meados de Outubro comem-se as últimas fatias do melão de Agosto. O gosto está fanado pela doçura oca, pela falta de acidez e, sobretudo, pelos indigeríveis excessos de pepinismo.

É agora, já com as noites frias, que os restauradores nos pregam a partida que nunca falha. São dez da noite, acabámos de jantar um guisado fumegante e calorífero e a patroa vem à mesa, com um ar subversivo: "vai uma fatia de melão?"

"Melão?", respondemos, fora de nós, repetindo como se estivéssemos num cartoon de H.M.Bateman, "Melão diz vosselência? Com o Inverno à porta? Estais maluca ou acaso julgais que o maluco sou eu?"

Nisto a patroa fecha a boca, dá meia-volta e, como se ficasse ofendida, desaparece. Vemo-la 5 minutos depois a emergir da câmara frigorífica, a braços com um gigante melão de casca verde.

Cai-nos à frente uma fatia dele. Bufamos de desconfiança com o o vapor das narinas a acalentar estupidamente a polpa do bicho. Usamos os dentes do garfo para espicaçá-lo, a ver se confessa que não presta. Qual quê: sabe maravilhosamente.

Este melão é a consolação do Inverno e dura até à festa de fim-de-ano. É o preferido dos presuntos e a surpresa dos almocinhos com muito sol e pouco calor. Mais do que uma lembrança do Verão é um anúncio das frescuras e verduras do Natal.

Chama-se melão valenciano tendral tardio ou, para os entendidos, o de Inverno, o casca verde.

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