Governo não quis discutir incêndios na concertação social

O presidente da CCP, João Vieira Lopes, propôs que as medidas para responder às consequências dos incêndios fossem debatidas na concertação social, mas o Governo ainda não colocou o tema na agenda.

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João Vieira Lopes, presidente da CCP, diz que esta é uma oportunidade para relançar a zona Centro do país. Miguel Manso

A CCP fez algum levantamento dos prejuízos causados pelos incêndios nos sectores que representa?
Estatisticamente não conseguimos fazer um levantamento, mas temos ideia de que houve muitos estabelecimentos atingidos e as propostas que fizemos [ao Governo] foi em diálogo com as associações das zonas afectadas.

As Finanças anunciaram que haverá uma dilatação dos prazos para o cumprimento de algumas obrigações fiscais até 1 de Dezembro. É suficiente? A CCP pedia seis meses.
É claramente insuficiente e não tem qualquer lógica. Há empresas que ficaram sem sistema informático, outras que não têm tesouraria para pagar nada, há quebras de negócios que vão demorar meses a recuperar. Aliás, há uma coisa que não percebo. Se França, num ano recente, usou como pretexto para não cumprir os objectivos do défice os atentados, Portugal, com uma catástrofe deste tipo, também devia ter folga. Quanto mais não fosse para a reconstrução destas zonas. Esta é uma oportunidade para se fazer um relançamento económico da zona centro. Independentemente de reparar os estragos, porque não aproveitar para repensar alguns aspectos das zonas afectadas?

A CCP tem estado envolvida neste debate?
Na última reunião da concertação social, a CCP propôs que as medidas do Governo fossem debatidas na concertação social e o Governo não agendou.

Não há então na concertação social nenhuma reunião prevista para debater estas questões?
Não.

O Governo está para durar ou a tensão entre o Presidente da República (PR) e o primeiro-ministro a propósito dos incêndios dá margem à oposição para ganhar terreno?
Fomos a única confederação que não se pronunciou sobre a formação deste Governo, o que, aliás teve consequências na degradação das relações com o PR de então [Cavaco Silva]. Sempre nos pareceu que esta solução tinha hipóteses de durar bastante, mas também sempre achámos que tinha fragilidades, devido às diferenças de opinião dos partidos em relação a temas estruturantes. Mas tinha um ponto forte que era, depois de um período em que houve um grande aumento das desigualdades e uma degradação das políticas sociais, durante um certo tempo período, enquanto essas políticas sociais fossem recuperadas, haveria tendência para haver um funcionamento em que quem saísse ficaria prejudicado. O PR sempre valorizou a estabilidade governativa e deixou funcionar este Governo. Claro que esta questão dos fogos introduziu um factor de perturbação.

O Governo respondeu bem aos incêndios?
O Governo respondeu mal em termos operativos, em termos de comunicação e em termos de sensibilidade. E isso, com um PR com estas características, tinha de dar alguma crispação. É evidente que, do mesmo modo que nunca acreditámos que a primeira fase do Governo não ia ser uma harmonia total, também achamos que esta segunda fase não vai ser uma desarmonia total. Quer o PR, quer o primeiro-ministro são pessoas com experiência política suficiente para encontrarem as plataformas melhores para o país. Digamos que é bastante provável que o Governo termine o mandato.

Também porque o PSD está desorganizado?
Não sou comentador político, mas naturalmente que uma equipa joga o que a outra deixa jogar. Os partidos que estão no Governo têm a liberdade de acção em função do tipo de oposição que lhe é feita. Se o principal partido da oposição está numa fase de mudança, durante esse período dificilmente fará uma oposição estruturada.

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