Incêndios: deputados identificam "muita dificuldade" no apoio às populações

Os autarcas da região compararam a situação dos incêndios que deflagraram a 15 de Outubro a "uma espécie de bombardeamento".

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Oitenta por cento do Pinhal de Leiria ardeu nestes incêndios LUSA/MIGUEL A. LOPES

A Comissão Parlamentar de Ambiente, Ordenamento do Território, Descentralização, Poder Local e Habitação visitou vários concelhos da região Centro afectados pelos incêndios e identificou "muita dificuldade" no apoio às populações afectadas, disse o seu presidente, o deputado Pedro Soares, nesta segunda-feira.

"Os meios que têm sido anunciados para responder a essas necessidades, nomeadamente por parte do Governo, há muita dificuldade em que cheguem com urgência às pessoas que necessitam, têm sido normalmente as autarquias a procurar resolver isso com uma intervenção muito directa", nomeadamente na área da alimentação e da habitação, declarou à Lusa.

Os deputados desta comissão parlamentar visitaram no sábado e no domingo os municípios afectados pelos incêndios de 15 de Outubro em Gouveia, Oliveira do Hospital e Leiria, reunindo-se com autarcas e sempre acompanhados por dirigentes do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), da Autoridade Nacional de Protecção Civil (ANPC) e da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro (CCDR Centro).

"Tivemos a oportunidade de fazer uma apreciação muito aprofundada das consequências e também, de certo modo, das razões que levaram a estes incêndios tão severos e tão dramáticos em termos sociais, económicos e ambientais", disse o deputado Pedro Soares (BE), concluindo que, "ao nível da resposta do ataque directo aos incêndios, houve insuficiência de meios e houve frequentemente descoordenação da utilização dos meios".

Nos concelhos de Gouveia e de Oliveira do Hospital verificam-se "perdas muito significativas em termos do território florestal, mas também de património, de habitações e até mesmo de vidas humanas", referiu o deputado, acrescentando que houve também "perdas importantes em termos de empresas e de postos de trabalho", em que foram muito afectadas a actividade agrícola e a actividade pecuária.

De acordo com o presidente da comissão parlamentar, os autarcas compararam a situação dos incêndios que deflagraram a 15 de Outubro a "uma espécie de bombardeamento, em que sucessivamente várias habitações iam começando a arder e com a incapacidade dos bombeiros para acudir a tantas situações".

"Talvez um dos casos mais dramáticos tenha sido mesmo o de Oliveira do Hospital, onde morreram 12 pessoas", considerou Pedro Soares, revelando que se verificou neste município "um aumento muito significativo de problemas na área psicológica", nomeadamente depressões.

Neste âmbito, os deputados defendem "uma intervenção muito mais ampla por parte do Serviço Nacional de Saúde" no apoio às populações, através da deslocação de médicos para as zonas afectadas pelos incêndios.

A comissão parlamentar vai ainda intervir no âmbito do debate na especialidade do Orçamento do Estado para que sejam tomadas "medidas imediatas" para apoiar os municípios afectados pelos incêndios.

"O esforço financeiro que as autarquias têm estado a fazer para acudir a situações de emergência tem que, necessariamente, ter compensação por parte do Orçamento do Estado", avançou o presidente da comissão parlamentar, propondo ainda que as despesas devidas aos fogos "não contem para os limites de endividamento das autarquias".

Outra das preocupações identificadas pelos deputados são as pessoas não registadas como agricultores, que têm "pensões muito baixas, na ordem dos 200 euros", e que perderam pequenas culturas agrícolas e pequenas actividades pecuárias que lhes permitiam ter "condições de vida mínimas de sobrevivência", e que vão ficar excluídas dos apoios que vão surgir.

A questão da madeira ardida é também uma preocupação, nomeadamente no Pinhal de Leiria, onde dos cerca de 11 mil hectares, arderam mais de nove mil hectares, afirmou Pedro Soares, referindo que é preciso impedir a descida do preço da madeira.

As centenas de incêndios que deflagraram no dia 15 de Outubro, o pior dia de fogos do ano segundo as autoridades, provocaram 45 mortos e cerca de 70 feridos, perto de uma dezena dos quais graves. Os fogos obrigaram a evacuar localidades, a realojar as populações e a cortar o trânsito em dezenas de estradas, sobretudo nas regiões Norte e Centro.

Esta é a segunda situação mais grave de incêndios com mortos em Portugal, depois de Pedrógão Grande, em Junho deste ano, em que um fogo alastrou a outros municípios e provocou, segundo a contabilização oficial, 64 mortos e mais de 250 feridos. Registou-se ainda a morte de uma mulher que foi atropelada quando fugia deste fogo.

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