Puigdemont diz que não volta sem garantias de julgamento justo

Carles Puigdemont foi à Bélgica europeizar a questão catalã. Denunciou a “politização da justiça espanhola” que quer "vingança".

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Carles Puigdemont diz que só regressa à Catalunha quando houver "garantias" de que terá "um tratamento justo" YVES HERMAN/Reuters

Numa sala apinhada em Bruxelas, com muitas dezenas de jornalistas, fotógrafos e câmaras de televisão da imprensa espanhola e internacional, o presidente deposto do Governo catalão, Carles Puigdemont, disse esta terça-feira que só volta à Catalunha quando houver garantias de que poderá ter um tratamento justo e independente por parte da Justiça, mas negou a intenção de pedir asilo político à Bélgica.

“Não estou aqui para pedir asilo político à Bélgica. Estou aqui por ser a capital da Europa. [A crise na Catalunha] é um assunto europeu. Estou aqui para agir em liberdade e segurança”, declarou numa conferência de imprensa no Press Club de Bruxelas, que lhe ofereceu um local para falar depois de outras portas se terem fechado – ou melhor, de não se terem aberto outras. 

Houve perguntas respondidas em quatro línguas e Puigdemont tinha a seu lado os seis conselheiros que partiram com ele para Bruxelas: Joaquim Forn, Meritxell Borràs, Dolors Bassa, Toni Comín, Meritxell Serret e Clara Ponsatí.

O presidente destituído denunciou o que considera ser a “politização da justiça espanhola” que persegue as “ideias” independentistas. “Estamos aqui à procura de garantias que, neste momento, não existem na Catalunha e em Espanha”, disse o ex-líder, acusado de rebelião pelas autoridades de Madrid e já intimado pela justiça espanhola a depor em tribunal na quinta-feira.

Não se sabe quando o grupo regressará a Espanha. Puigdemont disse que, da parte da Procuradoria espanhola, “não há desejo de justiça, mas de vingança” política. Sublinhou que não pretende “escapar à justiça”, mas só regressará quando souber que terá um “tratamento justo, independente e assente na separação de poderes”.

Afirmou que ele e a equipa que está consigo se sentem mais “seguros” em Bruxelas, pois Madrid retirou-lhes a protecção a que tinham direito como membros do Governo.

O ex-president defendeu que o seu Executivo optou pela não-violência, ao contrário do que considerou ser o “grave défice democrático do Estado espanhol”, e a “ofensiva altamente agressiva” de Madrid contra as instituições da Catalunha, ao accionar o artigo n.º 155 da Constituição, que destituiu o Governo autónomo.

Foi para evitar um confronto violento, explicou, que o Governo independentista decidiu, na sexta-feira à noite, levar o assunto a Bruxelas. Agora, espera apoios. 

“Peço à comunidade internacional e, em particular, à Europa, que reaja”. Tem como estratégia “europeizar” o conflito da Catalunha porque estão em causa os “valores europeus”.

Puigdemont afirmou que vai respeitar o resultado das eleições autonómicas de 21 de Dezembro e desafiou os partidos favoráveis à unidade de Espanha – PP, Socialistas e Cidadãos, que apelidou de “bloco do 155” – a dizerem se tencionam fazer o mesmo caso vença o bloco separatista.

No final da conferência de imprensa em Bruxelas, Puigdemont tinha vários manifestantes com bandeiras pró e anti-independência à sua espera na rua.

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