Número de empréstimos à habitação pagos superou o de novos contratos

Venda de casas explica boa parte das amortizações antecipadas. Reestruturações de crédito, por dificuldades de pagamento e outras, voltaram a subir em 2016.

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Venda de casas reduz total do crédito em dívida. Paulo Pimenta

A concessão de empréstimos às famílias, para aquisição de habitação e para outros fins (crédito ao consumo), cresceu de forma expressiva em 2016. Mas as amortizações de empréstimos também aumentaram, o que reduziu o saldo global de endividamento neste segmento em 2,1 mil milhões de euros, para 88,4 mil milhões de euros (90,5 mil milhões de euros em 2015).

A amortização de empréstimos é feita de forma automática, e as baixas taxas de juro aceleram esse processo. Mas a maior novidade vem do pagamento total dos empréstimos, que aumentou de forma significativa no ano passado, superando em número, mas não em valor, o de novos contratos.

De acordo com o Relatório de Acompanhamento dos Mercados Bancários de Retalho, relativo a 2016, divulgado esta quinta-feira, foram realizados 85.040 reembolsos antecipados totais, contra 57.912 contratos novos.

O crédito amortizado totalizou 3,2 mil milhões de euros, o que corresponde a um aumento de 45,4 % face a 2015. A explicar este número está aumento da venda de casas, ou a venda de uma para compra de nova, que se verifica desde 2015. Já número de reembolsos parciais diminuiu entre 2015 e 2016, o que se explica pelo facto de as taxas actuais, em mínimos históricos, não compensarem os abatimentos parciais da dívida.

Em montante, os novos empréstimos superaram o das amortizações (também porque estes já estavam parcialmente pagos). Ao longo do último ano foi concedido um montante de crédito de 5,5 mil milhões de euros, com o montante médio dos contratos a aumentar para os 94.224 euros (90.616 euros em 2015). Verificou-se igualmente um aumento do prazo médio por contrato, para 32,8 anos (32,1 anos em 2015).

A taxa de juro variável ou indexada à Euribor continuou a dominar, embora continue a perder terreno para outras modalidades. Foram contratados com taxa de juro variável 83,4 % dos empréstimos (89,5%, em 2015).

Relevante é o aumento de contratos celebrados a taxa de juro mista, que consiste em utilizar uma taxa fixa durante um período e variável noutro, que representou 11,7% (e que compara com 8 %, em 2015). Estes contratos apresentaram, em média, um período inicial de taxa fixa de seis anos e dez meses.

Os empréstimos que têm na sua base apenas a taxa fixa representaram 4,9%, ainda assim em crescimento face aos 2,5%, em 2015.

Boas notícias para os bancos

A maior amortização de empréstimos antigos é positiva para a banca, pela diferença dos spreads (margem comercial dos bancos acrescida à Euribor), que são mais elevados nas novas operações, mesmo com as quedas iniciadas em 2015. Os dados do relatório do Banco de Portugal mostram que o spread médio das operações contratadas no ano passado foi 1,98%, menos 33 pontos base do que em 2015. Esta média é idêntica à praticada em 2011, mas muito acima da margem cobrada antes da crise de 2008, em que muitos contactos ficaram abaixo de 0,5%.

Menos  positivo é o aumento de 6,9% das restruturações de crédito, contrariando a redução que se tinha verificado nesse capítulo em 2015, face ao ano anterior (menos 18,6%). Foram efectuadas 31.007 renegociações, envolvendo 28.209 contratos, com um montante médio por renegociação de 78.636 euros.

Do total de reestruturações, 11% estavam em situação de incumprimento na data da renegociação, uma percentagem inferior à verificada em 2015 (18,3%). As condições financeiras mais renegociadas foram a alteração do prazo, a alteração do tipo de taxa de juro (de variável para fixa) e a introdução ou alteração do período de carência de capital.

Crédito sobre rodas

O crédito ao consumo está a acelerar desde 2013. Em 2016, foram concedidos, em média, 497,4 milhões de euros por mês, o que correspondeu a um aumento de 17,5%, face a 2015, reforçando os aumentos de 23% e 11,5% registados em 2015 e 2014, respectivamente. “O total de empréstimos ultrapassou os valores de 2010, ano que precedeu a contracção do mercado de crédito aos consumidores”, refere o relatório.

O aumento foi transversal aos três segmentos de crédito aos consumidores, continuando a destacar-se o crédito automóvel (27,1%), seguido do crédito pessoal (16,1%). O segmento de crédito revolving (renovação automática, como o dos cartões de crédito) foi o que apresentou um crescimento do montante concedido menos significativo (3,6%, face a 2015). A maioria do crédito (52,7%) foi concedida por instituições com actividade especializada, ao contrário do que aconteceu em 2015, ano em que existia uma distribuição equitativa entre os dois tipos de instituições. A provar o crescimento destas sociedades, em 2014 representavam menos de metade do montante de crédito concedido (45,8%).

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