Em defesa de Caracas, ex-mayor de Londres diz que Chávez não quis "matar todos os oligarcas"

Ken Livingstone, suspenso do Labour por anti-semitismo, culpa a oposição e os seus apoiantes pelo caos na Venezuela.

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Livingston diz que “há pessoas que estão a tentar derrubar o governo, opositores armados a matar pessoas” Francois Lenoir/Reuters

O antigo mayor de Londres Ken Livingstone saiu esta quinta-feira em defesa do regime venezuelano, de que é um apoiante de longa data, afirmando que a recusa do antigo Presidente Hugo Chávez “em matar todos os oligarcas” é uma das razões para o actual caos político.

Esta é a última controvérsia a envolver o conhecido militante da ala mais à esquerda do Labour, partido de que voltou a ser suspenso em Abril, depois de ter dito (e reafirmado) que Hitler terá apoiado o movimento sionista antes do início da II Guerra Mundial, defendendo a criação de um Estado judaico.

Agora, na mesma altura em que aumenta a pressão sobre Jeremy Corbin, o líder trabalhista britânico que é também de há muito um apoiante do regime bolivariano, Livingstone regressa às tiradas polémicas. “Uma das coisas que Chávez fez quando chegou ao poder foi não matar todos os oligarcas. Cerca de 200 famílias controlavam cerca de 80% da riqueza na Venezuela. Ele deixou-os viver, deixou-os continuar. Suspeito que muitos deles estão a usar o seu poder e a controlar as importações e exportações para dificultar as coisas e minar Maduro”, afirmou numa entrevista à Talk Radio.

Livingstone, que quando foi mayor de Londres firmou um acordo com Caracas para o fornecimento de petróleo mais barato para os transportes da capital britânica, lamenta que o Governo venezuelano não tenha seguido o seu conselho para tornar a economia menos dependente da flutuação do preço do petróleo e garante que seria o primeiro a distanciar-se “se houvesse qualquer prova de que Maduro quer impor um regime de partido único”.

Disse ainda que as notícias da detenção de dois dos principais opositores, Leopoldo López e Antonio Ledezma, não passam de “propaganda a circular pelo mundo”. O que há, diz, são “pessoas que estão a tentar derrubar o governo, opositores armados a matar pessoas” e um “bloqueio [às importações] de comida e medicamentos”.

Corbyn sob pressão

Estas declarações surgem na mesma altura em que algumas vozes dentro do Partido Trabalhista pedem a Corbyn que assuma uma posição mais dura em relação às acções do regime venezuelano que, no domingo, avançou com a eleição de uma nova assembleia constituinte, rejeitada pela oposição e criticada pela maioria na América Latina e Europa. O líder trabalhista, membro também da ala mais à esquerda do Labour, ainda em 2013 dizia que o falecido ex-Presidente Hugo Chávez “era uma inspiração para todos os que lutam contra a austeridade e a economia liberal na Europa” e foi classificado por Maduro como “um amigo da Venezuela”.

Corbyn ainda não se pronunciou, mas nos últimos dias alguns membros do seu “governo sombra” vieram criticar a actuação de Caracas: a responsável pela pasta do Negócios Estrangeiros, Emily Thornberry, afirmou que Caracas precisa de dar resposta às preocupações levantadas sobre a “governação crescentemente autoritária” no país. A sua vice, Liz McInnes, considerou prioritário que o regime “reconheça as suas responsabilidades na protecção dos direitos humanos, liberdade de expressão e respeito pela lei”. 

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