A música continua em Manchester. “Vemo-nos no sábado”

Os Simple Minds tocaram para uma sala muito composta, mas com centenas de lugares vazios. Os Take That cancelaram os concertos previstos para este fim-de-semana. Os Courteeners chegam no sábado.

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Jim Kerr, vocalista dos Simple Minds, num concerto em Portugal, em 2015 Paulo Pimenta

Foi com os Simple Minds que o público de Manchester voltou terça-feira aos concertos, apenas um dia depois do atentado terrorista na principal sala de espectáculos daquela cidade inglesa, um ataque que fez 22 mortos e 59 feridos.

A banda de rock escocesa recusou-se a cancelar o concerto previsto porque, explicou o vocalista Jim Kerr ao público do Bridgewater Hall, os seus membros se teriam sentido “cobardes” se simplesmente tivessem decidido deixar a cidade.

Muitos dos que tinham bilhete para ouvir esta formação que fez sucesso nos anos 80 ficaram em casa, como seria de esperar, escreve a BBC. A sala, que antes dos acontecimentos de segunda-feira se anunciava esgotada, tinha centenas de lugares vazios.

Lindsay Hunt foi uma das pessoas que ficaram em casa. “Não posso acreditar que este concerto vá para a frente”, disse. “É demasiado cedo. As nossas cadeiras ficarão vazias porque os meus filhos ainda estão em choque com o que aconteceu na noite passada.”

Entre os que decidiram ir ouvir os escoceses, esteve Diane Barber, que falou à BBC: “Seria muito fácil não vir. Tem sido difícil, mas temos de o fazer. Manchester tem uma coisa – é muito forte. Por que deixaríamos que estas pessoas nos vencessem?”

Ciente de que a decisão de manter o concerto podia dividir as águas, Kerr começou a noite a falar do dilema com que se confrontaram pós-atentado: tocar ou não tocar? “Quando começámos a falar entre nós e a ouvir a equipa, toda a gente quis tocar. Não havia nenhuma dúvida em relação a isso”, disse o vocalista, citado pela televisão pública britânica.

O público do Bridgewater Hall levantou-se espontaneamente e permaneceu em silêncio mal Kerr propôs que tirassem um minuto para pensar nas vítimas e nas suas famílias.  

Os Take That, que deveriam voltar a tocar na cidade este fim-de-semana, optaram por cancelar os concertos. Mais, adiaram até a apresentação prevista para Liverpool, na última terça-feira, “por respeito” pelas vítimas e pelas suas famílias.

Mesmo sem os Take That, Manchester, como diria a já citada Diane Barber, não parece disposta a render-se ao terror. Muitos concertos têm vindo a realizar-se e os clubes e discotecas continuam abertos. A cidade está destroçada mas resiste – sair para ouvir música e dançar é, neste caso, uma forma de resistência.

No sábado, um dos grandes acontecimentos do ano do cartaz cultural da cidade continua na agenda e promete reunir no Estádio de Old Trafford, com capacidade para 50 mil pessoas, uma multidão para ouvir The Courteeners, uma banda inglesa de indie rock que terá a seu lado outras formações locais como The Charlatans e Blossoms.

“A união, o espírito e o sentido de comunidade correm nas veias e inundam as ruas da cidade”, escreveu na terça-feira na rede social Twitter o rosto dos Courteeners, Liam Fray. “Vejo-o todos os dias desde que passei a ter idade suficiente para compreender o que são a compaixão e a empatia. Na noite passada testemunhámo-lo a um nível que nunca julgámos ser necessário. Em circunstâncias trágicas, Manchester manteve-se unida. Porque isso é o que nós fazemos.” E acrescentou: “Isto vai doer durante muito tempo. Mas hoje, enquanto andarem pela cidade, tentem não baixar a cabeça, olhem para o céu. Vemo-nos no sábado.”

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