Baleia Azul: “Escolas têm de falar abertamente do tema”

Especialista em cibercrime defende que prevenção e divulgação pública das consequências do jogo são mais eficazes do que a repressão.

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Sites e links ligados ao jogo podem em breve vir a ser bloqueados pelas autoridades Rui Gaudencio

As escolas devem falar abertamente do jogo Baleia Azul, porque a prevenção é, neste caso, melhor remédio do que a repressão. Quem o diz é o coordenador do gabinete do cibercrime da Procuradoria-Geral da República, Pedro Verdelho, para quem o trabalho desenvolvido pela imprensa nos últimos dias sobre o problema “constitui um importante alerta para o perigo” que constitui este fenómeno online.

“As escolas têm que pegar neste tema e falar abertamente dele. O que pressupõe falar nos casos que sucederam”, observa o magistrado. "Neste caso, a prevenção e a divulgação pública são muito mais importantes que a repressão. O foco não deve ser posto nos processos judiciais” entretanto desencadeados, resultantes de o incitamento ao suicídio ser crime, advoga Pedro Verdelho.

Até esta terça-feira a Procuradoria-Geral da República tinha aberto três investigações relativas a outros tantos jovens aliciados para o jogo. Um deles, uma rapariga algarvia, tinha tentado o suicídio, enquanto outro se havia cortado no corpo. Não são conhecidos pormenores sobre a terceira vítima, que é de Portalegre. Posteriormente surgiu um quarto caso em Matosinhos, também de autolesão, que se encontra igualmente a ser investigado pelas autoridades. 

A Procuradoria-Geral da República equaciona o bloqueio dos sites e links ligados ao jogo aos quais acederam as vítimas já identificadas, o que pode ser feito de várias formas. Se se tratar de sites alojados em servidores portugueses, basta às autoridades nacionais deslocarem-se aos locais onde se encontram e desactivá-los. Não é necessária autorização de um juiz para tal, adianta o mesmo magistrado. Tudo se passa como se de uma apreensão se tratasse.

Já no que diz respeito a servidores localizados fora do país, o Ministério Público pode optar por notificar as operadoras nacionais de telecomunicações para bloquearem o acesso a estes links ou então por enviar cartas rogatórias às suas congéneres internacionais pedindo-lhes para tornarem os conteúdos dos sites inacessíveis. 

Pedro Verdelho não tem a certeza de que esta seja mais uma moda efémera do mundo virtual, como sucedeu com tantas outras, mas espera que sim. “Porque a Internet vive da inovação, e tudo é possível online: a web está cheia de coisas terríveis como a pornografia infantil ou a venda de armas.”

Banir de forma definitiva é quase impossível

Mas banir, de forma definitiva, os conteúdos online associados ao jogo da Baleia Azul é virtualmente impossível, avisa o responsável pela Unidade Nacional de Combate ao Cibercrime da Polícia Judiciária, Carlos Cabreiro. "Isto é como alguém que resolve distribuir panfletos à saída do metro", compara. "Podemos impedir que o faça na estação A ou B, mas amanhã já está na estação ao lado."

Como as regras do desafio suicida não se encontram alojadas apenas em determinados sites ou perfis das redes sociais, sendo replicadas ou transmitidas nas conversas entre os utilizadores da Internet, bloquear este ou aquele link não resolve o problema, refere o mesmo director da Judiciária, muito embora isso possa realmente vir a ser feito pelas autoridades. "Mas nada garante que depois disso o mesmo utilizador não vá republicar esse conteúdo noutra plataforma", avisa Carlos Cabreiro, que tal como Pedro Verdelho diz que a palavra de ordem é prevenir. O que implica supervisão parental sobre os conteúdos acedidos pelos jovens, acrescenta, e também firmeza daqueles que já entraram no jogo, mas querem desistir, e que crêem serem reais as ameaças feitas às suas famílias caso não continuem a jogar. Não são.

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