Luis Miguel Cintra regressa ao teatro com Um D. João Português

Três meses depois do fecho do Teatro da Cornucópia, o encenador reúne 16 actores e população local para uma peça a apresentar em quatro cidades. O trabalho tem uma pré-apresentação já este sábado, no Montijo.

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NUNO FERREIRA SANTOS
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Um ensaio de leitura da peça no Montijo DR

O encenador Luis Miguel Cintra regressa ao teatro, três meses depois do encerramento da Cornucópia, com Um D. João Português, peça que será feita em quatro partes noutras tantas cidades portuguesas e que será representada, na totalidade, em Janeiro de 2018, disse à agência Lusa Levi Martins, da Companhia Mascarenhas-Martins, do Montijo, que produzirá a peça.

Dezasseis actores que trabalharam com o Teatro da Cornucópia totalizam o elenco fixo de Um D. João Português, que contará ainda com intérpretes das quatro cidades onde a peça será representada parcialmente. Certas estão já as participações do Montijo, de Viseu e de Guimarães, encontrando-se a companhia em negociações com Setúbal. Em cada uma haverá uma residência artística de duas semanas, na qual Luis Miguel Cintra trabalhará com os actores e com amadores que integrarão o elenco local.

Este novo projecto de Luis Miguel Cintra, que esteve 43 anos à frente do Teatro da Cornucópia até ao seu fecho, em 17 de Dezembro último, será apresentado no próximo sábado, 1 de Abril, no Pólo da Junta de Freguesia do Afonsoeiro, no Montijo, cidade onde será representada uma parte da peça durante este ano e na qual já está confirmada a integral da obra em 2018, acrescentou Levi Martins.

"O espectáculo Um D. João Português é elaborado a partir da tradução portuguesa divulgada no teatro de cordel setecentista de D. João, obra-prima de Molière, e será construído ao longo de 2017, em quatro cidades, tendo como objectivo partilhar o processo de trabalho com grupos de espectadores locais", disse Levi Martins à Lusa, acrescentando que no sábado será lido o primeiro bloco de trabalho, intitulado Na estrada (da vida). No sábado será também anunciada a data de estreia da peça, que decorrerá no Montijo; o terceiro bloco será apresentado no Teatro Viriato, em Viseu, e o quarto em Guimarães.

"A ideia é fazer um trabalho muito partilhado com o espectador, em que este o discute e o partilha", disse Levi Martins, reportando-se a uma nota de Luis Miguel Cintra sobre o espectáculo.

Nesta reflexão, o encenador escreve que "a ideia é, mais do que apresentar um produto cultural pronto a ser consumido, contactar verdadeiramente com a comunidade local em várias cidades, em diálogo e com a colaboração de estruturas ou entidades existentes, sejam grupos de teatro locais, escolas, associações culturais, teatros municipais, centros culturais, autarquias, ou até grupos desportivos".

"Este projecto consiste, então (...), numa partilha de sessões de trabalho das diferentes fases de preparação de um espectáculo com os espectadores interessados", lê-se na nota de trabalho de Cintra, na qual sublinha que as "formas de diálogo deverão estar adequadas aos hábitos e às necessidades do público envolvido em cada um dos locais visitados".

Na versão trabalhada por Luis Miguel Cintra, D. João e Esganarelo surgem como marginais da sociedade, sempre em fuga, quase como num road movie.

"Tudo neste espectáculo a que chamei Um D. João Português é imperfeito, ou melhor, inacabado, bastardo, hesitante, incerto", antecipa Luis Miguel Cintra.     

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