Trump realiza audições mas futuro secretário de Estado ainda não passou à fase seguinte

Presidente eleito falou com candidatos a vários cargos num dos seus clubes de golfe, com as televisões a filmarem as chegadas. Está dividido entre Rudolph Giuliani e Mitt Romney para o cargo mais importante da Administração.

Foto
Donald Trump reuniu-se com Mitt Romney, um dos seus maiores críticos durante a campanha Drew Angerer/AFP

Numa aposta na continuidade, e para não causar uma surpresa de fazer cair o queixo, o Presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, está a gerir a sua entrada na Casa Branca de uma forma pouco comum na história moderna do país. Num ritual mais próximo do formato de um reality show, Trump recebeu no último fim-de-semana vários candidatos aos empregos por preencher na sua equipa sob o olhar das câmaras de televisão, e foi fazendo pequenos comentários sobre os méritos de alguns deles enquanto dividia o tempo com críticas no Twitter ao elenco da peça Hamilton e aos méritos humorísticos do programa Saturday Night Live.

"O elenco e os produtores de Hamilton, que ouvi dizer que é muito sobrevalorizado, deviam pedir imediatamente desculpas a Mike Pence pelo seu terrível comportamento", escreveu Donald Trump na sua conta na rede social Twitter no sábado à noite. Foi a terceira mensagem em apenas dois dias que o próximo Presidente dedicou a uma mensagem lida por um dos actores da peça Hamilton, dirigida ao futuro vice-presidente, Mike Pence, que estava na assistência na passada sexta-feira.

Poucas horas depois, já na madrugada de domingo, Donald Trump queixou-se do episódio do programa humorístico Saturday Night Live a que tinha acabado de assistir pela televisão: "Vi partes do Saturday Night Live na noite passada. É um programa totalmente parcial – e não tem piada nenhuma. Tempo igual para nós?", perguntou o Presidente eleito, reivindicando que os guionistas também escrevam piadas sobre os seus adversários.

Mas, apenas sete minutos depois, a avalancha de tweets sobre peças de teatro e programas de humor deu lugar à primeira mensagem do dia sobre um dos possíveis futuros secretários da Defesa – um dos postos mais importantes da Administração norte-americana: "O general James 'Mad Dog' Mattis, que está a ser considerado para secretário da Defesa, foi impressionante ontem. Um autêntico general dos generais!"

Secretismo ficou no passado

Em anos passados, antes da chegada de Donald Trump ao mundo da política, os Presidentes eleitos esforçavam-se por manter em segredo os nomes dos potenciais candidatos aos mais importantes cargos da Administração – a ideia era garantir uma margem para uma saída airosa a quem fazia a proposta e a quem a ouvia. Mas com Donald Trump quase tudo tem sido diferente, e havia poucas razões para pensar que o processo de escolha da sua equipa seria diferente.

Ao longo do fim-de-semana, várias personalidades da política norte-americana foram entrando e saindo do clube de golfe Trump National, em Bedminster, no estado de Nova Jérsia. À porta estava o Presidente eleito para recebê-los, e depois para dizer-lhes adeus, perante as câmaras de televisão e as máquinas fotográficas.

Depois de ter nomeado o senador Jeff Sessions para o cargo de procurador-geral; o tenente-general Michael Flynn para conselheiro de segurança nacional; e o congressista Mike Pompeo para director da CIA, na quinta-feira da semana passada, chegava a hora de anunciar dois dos cargos mais importantes – secretário da Defesa e secretário de Estado. Ou talvez não. “Acho que sim, acho que sim. Pode muito bem acontecer”, respondeu Donald Trump quando lhe perguntaram se iria anunciar os nomes ainda no domingo.

Pelo menos até ao início da noite de segunda-feira em Portugal (mais cinco horas do que no clube de golfe Trump National, em Nova Jérsia, e na Trump Tower, em Nova Iorque), não houve anúncios nenhuns, mas o Presidente eleito já tinha deixado boas indicações no Twitter quanto ao futuro do general Mattis na Secretaria da Defesa – um militar de 66 anos muito experiente, conhecido por alcunhas como “Mad Dog”, “Chaos” e "Warrior Monk", e que foi nomeado por Barack Obama comandante do Comando Central dos EUA em 2010. Saiu em 2013 por diferenças irreconciliáveis com o ainda Presidente norte-americano: Mattis queria continuar com todas as armas apontadas ao Irão enquanto Obama estava sentado à mesa de negociações para um acordo sobre o programa nuclear.

Batalha entre Giuliani e Romney

Mas as visitas de fim-de-semana que causaram mais sensação foram as dos dois principais candidatos ao cargo de secretário de Estado – os homens que vão suceder a Hillary Clinton e a John Kerry na gestão da política externa norte-americana.

As dúvidas de Donald Trump são uma repetição do que aconteceu com a escolha para chefe de gabinete – neste caso, dividido entre a lealdade de Steve Bannon e a concessão ao establishment que representava Reince Priebus, Trump pôs o primeiro como principal estratego e o segundo como chefe de gabinete.

Mas em relação à secretaria de Estado não é possível fazer algo semelhante. De um lado está o antigo mayor de Nova Iorque Rudolph Giuliani, que esteve sempre ao lado de Donald Trump durante a campanha e que nunca escondeu a vontade de ter o destino da política externa norte-americana nas suas mãos; do outro está Mitt Romney, o candidato do Partido Republicano em 2012 e que este ano acusou Donald Trump de quase tudo menos de ser um bom candidato do Partido Republicano.

Mais uma vez, Trump vê-se perante uma difícil e reveladora escolha – ou premeia o seu fiel escudeiro, ou tenta sossegar os republicanos mais tradicionais e premeia o homem que o chamou "impostor" e "fraude".

No início de Março, quando uma ala republicana mais próxima da família Bush do que do estilo de Donald Trump ainda tentava travar a nomeação do magnata do imobiliário, Mitt Romney lançou um apelo ao voto em qualquer um menos Trump –  Ted Cruz, Marco Rubio ou John Kasich, qualquer um servia para fechar as portas da Casa Branca a Donald Trump.

"O sr. Trump está a canalizar a nossa fúria para objectivos menos do que nobres. Ele faz dos imigrantes muçulmanos e mexicanos bodes expiatórios. Defende o recurso à tortura. Apela à morte de filhos e outros familiares de terroristas. Regozija-se com ataques a manifestantes. Aplaude a ideia de torcer a Constituição para limitar a Primeira Emenda sobre a liberdade de imprensa. Donald Trump é um impostor, uma fraude. As promessas dele valem menos do que um grau académico na Universidade Trump", acusou Mitt Romney há nove meses.

No final do encontro entre os dois, no sábado, depois de uma recepção calorosa com direito a aperto de mão e pancadinha no ombro, o vice-presidente eleito, Mike Pence, revelou que Mit Romney está “a equacionar de forma activa e séria servir como secretário de Estado dos Estados Unidos”. A uni-los – Romney e Trump – está a oposição ao acordo nuclear patrocinado por Hillary Clinton e John Kerry e assinado por Barack Obama.

Sugerir correcção
Comentar