"Solução governativa nacional perturba a economia dos Açores"

Duarte Freitas, 50 anos, líder do PSD-Açores, vai pela primeira vez a votos na região. A sua missão de interromper a governação socialista, que leva 20 anos, não é fácil. Uma das suas promessas é admitir 1200 jovens na Administração Pública açoriana através do programa Gerações.

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Duarte Freitas é o líder do PSD-Açores Rui Soares

Pegou no PSD-Açores na ressaca da derrota eleitoral em 2012, quando os socialistas conquistaram nova maioria nos Açores. Sobreviveu às autárquicas do ano seguinte, conseguindo segurar a Câmara de Ponta Delgada, a maior do arquipélago, jogando agora tudo nas eleições regionais de 16 de Outubro. Duarte Freitas, líder dos social-democratas açorianos, defende em entrevista ao PÚBLICO, que o PSD é a única alternativa ao modelo do PS, que considera esgotado.

Existe um entendimento quase generalizado de que o PS irá vencer estas eleições nos Açores.
Somos a alternativa a uma governação do PS que já se arrasta há 20 anos e que falhou os seus compromissos em áreas fundamentais, como o emprego, a saúde, a educação e a coesão social. Liderei um trabalho de grande proximidade com a sociedade civil para, junto das pessoas, procurar soluções viáveis, responsáveis e capazes de abrir um novo ciclo nos Açores. Um ciclo inclusivo e respeitador da autonomia dos cidadãos.

Qual é a mensagem que está a ser passada aos açorianos?
O governo do PS-Açores está esgotado e sem capacidade de encontrar novas soluções para velhos problemas. Vasco Cordeiro falhou os objectivos que se propôs, no combate ao desemprego, ao abandono escolar e às listas de espera cirúrgicas. As desigualdades sociais agravaram-se. O PSD-Açores vai aumentar o rendimento disponível dos açorianos e dinamizar a economia açoriana. Vamos combater as causas do insucesso e abandono escolar, apostando num ensino que abra oportunidades de realização profissional e pessoal para os nossos jovens. Na administração pública vamos acabar com o domínio excessivo de qualquer governo sobre os funcionários públicos. O mérito e a competência serão os únicos critérios para o recrutamento e progressão na carreira.

Tem sido muito crítico em relação aos 20 anos de governação socialista.
Há 50 mil açorianos sem médico de família e mais de dez mil estão à espera de uma cirurgia. Na Educação temos os maiores índices de abandono escolar do país. Um terço dos jovens não termina o secundário. A agricultura vive a maior crise dos últimos quarenta anos, sobretudo no sector leiteiro. Nos últimos anos, mais de seis mil empresários agrícolas foram obrigados a abandonar a actividade. Uma parte dos pescadores açorianos têm rendimentos de apenas 100 euros por mês. Mais de um terço dos jovens açorianos estão desempregados.

Tem defendido um novo paradigma de desenvolvimento económico.
Pela primeira vez temos a UGT, a Federação Agrícola e Câmara do Comércio dos Açores a dizer, juntas, que o modelo do governo socialista não está a resultar. A um concurso para 73 lugares na Câmara de Ponta Delgada concorreram mais de 4000 pessoas. Imagine o desespero que estão a sentir milhares e milhares de açorianos que estão no desemprego ou com uma ocupação precária. O PSD-Açores já está a olhar para o futuro. Emprego, emprego, emprego é o nosso objectivo fundamental. Se ganharmos as eleições, o programa Gerações vai admitir 1200 jovens na Administração Pública, ao mesmo tempo em que se incentiva a aposentação voluntária de trabalhadores com mais de 60 anos. 

A convergência de esquerda que suporta o Governo na Assembleia da República é um argumento nestas eleições?
A solução governativa nacional, ao criar instabilidade e falta de confiança junto dos mercados e investidores, perturba a economia dos Açores. Durante o arrastar da greve dos estivadores do Porto de Lisboa, vimos a economia açoriana sofrer enormes prejuízos e um presidente do governo regional dos Açores a não fazer nada.

Na região, diz-se, que o PS-Açores e, em última análise, o governo açoriano é gerido em Lisboa por Carlos César.
Vasco Cordeiro fica para a história destes 20 anos de governação socialista nos Açores como o responsável pelo pior governo de todos. A sua liderança é fraca e condicionada. Vasco Cordeiro será recordado como o presidente que prescindiu de tomar decisões em áreas fundamentais como a Economia e o Emprego, que são tuteladas pelo seu vice-presidente que, aliás, chamou até si a tutela das Finanças, Orçamento e Administração Pública.

A entrada de companhias aéreas low-cost em São Miguel e na Terceira, coloca desafios ao turismo açoriano.
Eu e o PSD lutámos muito para que a abertura do espaço aéreo fosse uma realidade. No início de 2014 fui o primeiro responsável político açoriano a afirmar que a vinda das low-cost era uma inevitabilidade. Na altura, o governo regional e o PS não concordaram comigo. Mais: sempre lutaram contra isso! É com grande satisfação que vejo o turismo a crescer como está, por causa da abertura do espaço aéreo. Mas lanço desde já o aviso: não podemos estar a dormir à sombra deste boom turístico. Temos que investir na formação profissional nas mais variadas áreas desse sector para que isso fidelize os turistas e, deste modo, também se possa combater a sazonalidade. Queremos um turismo sustentável e não um turismo de massas.

No final do ano passado, o Governo Regional apresentou o Azores Business Center. Qual a posição do PSD-Açores sobre este projecto? É um caminho para atrair mais investimento privado para a região?
A criação de uma zona fiscal especial na área envolvente ao porto da Praia da Vitória e à Base das Lajes é uma proposta do PSD-Açores, que prontamente foi acolhida pelo anterior primeiro-ministro. Recordo que o anúncio dessa proposta foi feito pelo próprio Pedro Passos Coelho no ano passado. Infelizmente, o actual Governo da República do Partido Socialista não deu seguimento ao projecto e o governo regional desinteressou-se. Aliás, o Azores Business Center nem sequer consta do programa eleitoral do PS. Há quase um ano que este assunto caiu no esquecimento, em prejuízo da ilha Terceira.

A revitalização económica da ilha Terceira é um dossier fundamental para a região. O Plano apresentado pelo governo regional não agrada ao PSD? Quais as alternativas?
A esmagadora maioria das medidas que constam do Plano de Revitalização da Ilha Terceira (PREIT) são promessas não cumpridas pelo PS. Este plano é a confissão da incapacidade da governação do PS para combater a estagnação da economia da Terceira, cujos problemas vão muito além da redução do contingente militar norte-americano na Base das Lajes. Trata-se de um plano em que o governo regional mais não fez do que copiar e colar num só documento tudo o que constava de outros já existentes. Em suma, o PREIT é um conjunto de promessas não cumpridas pelo governo regional socialista e uma mera antecipação de medidas que já tinham sido anunciadas, como a criação da zona fiscal especial. Além disso, a concretização de muitas das medidas do PREIT está dependente de verbas de terceiros. Lamentavelmente, no Orçamento de Estado para 2016 não há um único cêntimo para o PREIT, apesar das promessas do PS.

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