FMI: baixa rentabilidade e capital fraco desafiam bancos portugueses

Fundo Monetário Internacional defende ainda que a banca precisa de mais políticas que promovam o crescimento económico.

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AFP/ZACH GIBSON

O Fundo Monetário Internacional (FMI) alerta para os principais riscos que enfrenta a banca portuguesa, apontando para a baixa rentabilidade e o baixo nível de capital, mas também para a forte exposição ao Estado.

"Os bancos portugueses enfrentam uma série semelhante [à dos bancos italianos] de desafios relacionados com o capital e os ganhos fracos, com ainda maior exposição ao soberano", lê-se no Relatório de Estabilidade Financeira Global do FMI, libertado esta quarta-feira.

Os especialistas do FMI destacam que, no primeiro trimestre do ano, os bancos portugueses tinham o rácio de capital 'common equity tier 1' mais baixo da União Europeia, conjuntamente com os bancos italianos, na ordem dos 11,4%.

"A exposição ao crédito malparado estava entre as mais altas na União Europeia (15,7%)", assinala o relatório, acrescentando que os rácios 'return on assets' e 'return on equity' eram no final de Março os mais baixos da União Europeia, fixados nos -0,2% e -2,5%, respectivamente.

"As responsabilidades contingentes decorrentes dos apoios de Estado de que beneficiou o sector bancário podem ter um impacto significativo na posição orçamental do país, aumentando o risco de um efeito adverso da ligação entre bancos e o soberano", remata o FMI.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) considera ainda que o setor bancário, a nível global, necessita de uma combinação de políticas que promovam o crescimento económico e a estabilidade financeira para sair reforçado e beneficiar do aumento de confiança.

"É necessária uma combinação de políticas mais potentes e balanceadas para promover um caminho mais forte para o crescimento e para a estabilidade financeira", lê-se no relatório.

"Há uma urgente necessidade de acelerar o crescimento económico global, reforçando as fundações do sistema financeiro global e aumentando a confiança", destacam os especialistas do FMI.

Segundo o relatório, "os riscos de curto prazo para a estabilidade financeira esbateram-se desde Abril". Tal foi possível, na opinião do FMI, devido à recuperação dos preços das matérias-primas dos seus valores mínimos, a par dos ajustamentos em curso nos mercados emergentes, que deram suporte à recuperação dos fluxos de capital.
Além disso, sublinha, "as preocupações imediatas com um abrandamento na China diminuíram" devido às políticas tomadas pelas autoridades de Pequim.

Apesar da descida dos riscos de curto prazo, o relatório indica que "os riscos de médio prazo prosseguem". E especifica: "O ambiente político não está consolidado em vários países, o que torna mais difícil atacar os problemas existentes".

Apontando para o choque inicial do “Brexit” nos mercados, o FMI vinca que "os mercados têm vindo a ajustar-se suavemente às preocupações sobre os riscos de emagrecimento da economia do Reino Unido e as suas respectivas implicações".

O FMI aponta também para os desafios que enfrenta o sector bancário nas economias mais desenvolvidas, onde há uma baixa rentabilidade – derivada das baixas taxas de juro diretoras – que pode ir 'minando' as almofadas de capital entretanto construídas e prejudicar a sua capacidade de financiar a economia real.

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