Parcaixa tem 700 milhões “parados” na CGD

A holding que foi criada em 2012 pela CGD e pela Parpública vai agora passar para as mãos do banco público com a recapitalização.

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CGD detém 19% do grupo Águas de Portugal Mara Carvalho

A Parcaixa, a holding que vai passar a ser detida a 100% pela CGD com o plano de recapitalização, tem quase 700 milhões de euros “parados” no banco público, em depósitos a prazo com uma taxa de juro média de 0,59%. As suas participações, que agora vão fugir das mãos da já esvaziada Parpública, resumem-se a seis empresas, entre as quais a Águas de Portugal, a Inapa e a Caixa Leasing e Factoring.

O relatório e contas da Parcaixa, que foi criada em 2012 numa parceria entre a CGD (51%) e a Parpública (49%), revela que, do activo total de 1024 milhões de euros, mais de 68% referem-se aplicações em instituições financeiras. Estes 700,1 milhões, mostra ainda o documento, são depósitos a prazo que “encontram-se constituídos junto da CGD”, com prazo até 320 dias. A taxa de juro, que no final do ano passado não chegou a 0,6%, piorou substancialmente face a 2014, ano em que os quase 690 milhões depositados a prazo no banco público rendiam 1,55%.

O valor cresceu significativamente desde que a holding foi criada com o objectivo de reorganizar as participações da CGD e da Parpública e de racionalizar recursos. Em 2010 este tipo de aplicações valia 489 milhões, tendo crescido para 657 milhões no ano seguinte e mantendo sempre o banco público como fiel depositário. A aplicação de montantes tão elevados na instituição financeira que passará a ser presidida por António Domingues só poderá ter-lhe sido benéfica, dando-lhe um importante balão de oxigénio para ajudar a conceder financiamento. Além de depósitos a prazo, a Parcaixa tinha à ordem na CGD mais 13,5 milhões no final do ano passado.

Desde 2012, ao mesmo tempo que os montantes a prazo cresciam, o valor das participações da Parcaixa em empresas foi caindo: dos 367 milhões (em activos para negociação e venda e em investimentos em filiais) que constavam no relatório e contas de 2012 para os 268 milhões espelhados no documento do ano passado.

Neste momento, a holding detém participações em seis empresas. No relatório refere ter 33% da Inapa, embora a empresa de papel refira que 8% destas acções são detidas directamente pela Parpública, bem como 19,5% da Sagesecur, uma sociedade de titularização de créditos, e 19% do grupo Águas de Portugal. Da lista fazem ainda parte os 5% no OMIP – Operador de Mercado Ibérico e 0,13% da Galp. A holding detém também a totalidade da Caixa Leasing e Factoring.

Um reflexo directo da transferência de acções da Parcaixa no valor de 500 milhões para a CGD, como prevê o plano de recapitalização, será um ainda maior esvaziamento da Parpública. Esse montante corresponde a metade do capital social, o que significa que a Parpública, também estatal, deixará de controlar 49% da holding que criou em conjunto com o banco público. E, logo, perderá as participações que esta detém.

O PÚBLICO contactou a Parpública para obter mais esclarecimentos sobre o tema, mas não foi possível obter uma resposta. Mas a verdade é que esta empresa já tem vindo a sofrer um esvaziamento nos últimos anos, fruto das consecutivas privatizações. A perda dos 500 milhões de euros a transferir para a CGD terão impacto no seu activo, que em 2015 era de cerca de 8000 milhões. 

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