Incêndios e vontade política

Já não basta mais dinheiro e mais meios para apagar os fogos

Nos últimos anos, a formação de bombeiros e os meios de combate aos incêndios já atingiram um patamar suficientemente elevado ao ponto de tanto o presidente da Liga de Bombeiros Portugueses como o presidente do Centro de Estudos e Intervenção em Protecção Civil (CEIPC), respectivamente, Jaime Soares e Duarte Caldeira, considerarem que, nestes aspectos, pouco mais há a fazer. “Em Portugal, estamos muito bem organizados em termos de combate aos fogos florestais, mas quando as coisas ultrapassam determinada dimensão… O nosso dispositivo está preparado para 200 a 250 fogos por dia. (…) 250 incêndios por dia já é uma loucura, agora imagine-se quando passam para 500”, disse Jaime Soares. No domingo, refira-se, houve 455 fogos.

Mas este não é o único ponto sobre o qual os dois reconhecidos especialistas nesta matéria estão de acordo. Para ambos, o grande problema dos incêndios continua a assentar na falta de prevenção. O diagnóstico não é novo e, invariavelmente, todos os anos quem está no terreno e quem estuda e analisa os dossiers aponta na mesma direcção. Há um perfil meteorológico específico do país, mas também há os incendiários – só este ano já foram detidos 16 até Julho – e a floresta abandonada, face visível da falta de “ordenamento estrutural” do espaço rural, como bem nota Duarte Caldeira. Há “uma floresta disseminada por pequenos proprietários que impede a sua regeneração”, diz. Jaime Soares apela a soluções “que passam pelo associativismo, por legislação em que o colectivo se sobreponha ao individual”. Ou seja, o futuro não se resolve com mais dinheiro porque se trata de um problema político, que só com vontade política poderá ter uma saída. No final da época de incêndios se verá que avaliação fará o Governo e que propostas trará para contraria o flagelo. Infelizmente, as palavras do ministro do Ambiente não são para sossegar ninguém. Para já, João Matos Fernandes só fala em “prevenir” e em “reforçar meios”. Mas isso não chega, senhor ministro.

 

Sugerir correcção
Ler 1 comentários