“Nunca houve um Super-homem”, dizem procuradores

Alguns excertos do documento onde o Ministério Público brasileiro sustenta o pedido de prisão preventiva de Lula da Silva.

Foto
O poder de Lula “torna a sua possibilidade de evasão extremamente simples” REUTERS/Paulo Whitaker

Assim Falava Nietzsche

Os promotores começam por fundamentar o pedido de prisão preventiva com uma citação de Assim Falava Zaratustra, do filósofo alemão Friedrich Nietzsche, para explicitar que “a lei vale para todos”: “Nunca houve um Super-homem. Tenho visto a nu todos os homens, o maior e o menor. Parecem-se ainda demais uns com os outros: até o maior era demasiado humano." Escrevem os promotores: “Necessária a prisão cautelar, pois demonstrou-se que o acusado se vale da sua condição ex-Presidente da República para se colocar acima ou à margem da lei”.

Sofrido povo brasileiro

Lula “vale-se da sua força político-partidária para movimentar grupos de pessoas que promovem tumultos e confusões generalizadas, com agressões de outras pessoas, com evidente cunho de tentar blindá-lo do alvo de investigações e de eventuais processos criminais, trazendo verdadeiro caos para o tão sofrido povo brasileiro”.

Manobras

Lula “sempre buscou manobras para evitar que a investigação do Ministério Público não avançasse”. “Chegou a comemorar, de forma explícita na imprensa, como estivesse ‘a conseguir fugir da investigação’, demonstrando à população mais simples o seu poder político e ‘como se faz para conseguir evitar ser interrogado em investigações criminais”.

Marx e Hegel?

O ex-Presidente “protagonizou um verdadeiro ataque às instituições do sistema de Justiça, facto ocorrido em vídeo gravado pela deputada federal Jandira Feghali”, no qual “é possível ouvir Lula a dizer: ‘Eles que enfiem no cu todo este processo’”. “Mais não é preciso dizer. As actuais condutas do acusado Luiz Inácio Lula da Silva, que outrora chegou a emocionar o país ao tomar posse como Presidente da República em Janeiro de 2003, certamente deixariam Marx e Hegel envergonhados.”

A referência a Marx e Hegel — e, por conseguinte, à matriz ideológica do Partido dos Trabalhadores (PT) de Lula — foi muito comentada nas redes sociais brasileiras na quinta-feira à noite e até ridicularizada, por parecer provável que os promotores se tenham enganado, confundindo Friedrich Hegel com Friedrich Engels, co-autor, juntamente com Karl Marx, do Manifesto Comunista. A biografia de Hegel na Wikipedia brasileira chegou a ser reeditada com uma referência irónica ao episódio — “Grande parceiro de Karl Marx, segundo o Ministério Público de São Paulo” —, mas foi removida algum tempo depois.

Mau exemplo

“Ao expor a sua ira contra as instituições do sistema de Justiça”, Lula “leva todo e qualquer cidadão a sentir-se no mesmo e ‘igual’ direito de fazê-lo.”

Rede violenta

“Imprescindível também se mostra o decreto da prisão preventiva do acusado, pois os motivos são suficientes a permitir a conclusão de que movimentará ele toda a sua ‘rede’ violenta de apoio para evitar que o processo-crime que se inicia com a presente acção penal não tenha o seu curso natural, com probabilidade evidente de ameaças a vítimas e testemunhas e prejuízo na produção das demais provas do caso”.        

Risco de fuga     

“Necessário que seja segregado cautelarmente, pois sabidamente possui poder de ex-Presidente da República, o que torna a sua possibilidade de evasão extremamente simples.”

        

 

 

 

Sugerir correcção
Ler 1 comentários