Janeiro, mais um mês de recordes climáticos

A temperatura global atingiu um recorde ao mesmo tempo que o gelo do Árctico está com uma extensão de Inverno mínima.

Foto
Calor em Atenas em Fevereiro Louisa Goulimaki/AFP

Depois de 2015 ter sido o ano mais quente desde que se iniciaram os registos de temperaturas, o primeiro mês de 2016 já forneceu novos recordes. O relatório mensal dos Centros Nacionais para a Informação Ambiental (mais conhecidos por NOAA) mostra que Janeiro de 2016 foi o Janeiro mais quente desde há 137 anos, quando os registos se iniciaram. O Árctico foi uma das regiões especialmente afectadas, onde a temperatura subiu seis graus acima da média, o que se reflectiu negativamente no aumento de gelo típico no Inverno naquela região: Janeiro atingiu um recorde mínimo em termos de área de gelo.

“A extensão do gelo em Janeiro foi em média de 13,53 milhões de quilómetros quadrados, o que é 1,04 milhões de quilómetros quadrados abaixo da média entre 1981 e 2010”, segundo o relatório do Centro Nacional de Informação do Gelo e da Neve. “Este foi o Janeiro com a extensão mínima [de gelo] registado pelos satélites, 90.000 quilómetros quadrados abaixo do recorde anterior ocorrido em 2011.”

Apesar de se dar mais atenção à área de gelo mínima anual, que ocorre em meados de Setembro, o certo é que a área de gelo máxima – que se atinge nas primeiras semanas de Março – tem vindo a diminuir nas últimas décadas. A diminuição da área de gelo tem sido de 3,2% por década. Em 1979, o primeiro ano em que houve registos de satélite, a área máxima de gelo para aquele mês era cerca de 15,5 milhões de quilómetros quadrados, mais dois milhões de quilómetros quadrados do que a de 2016.

A causa para este Janeiro particularmente quente no Árctico deveu-se ao facto de a pressão atmosférica por cima do Pólo Norte (fenómeno conhecido como Oscilação do Árctico) ter sido negativa, o que permitiu as correntes de ar frio do Árctico fugirem mais para Sul. Durante o mês de Fevereiro, a área de gelo do Árctico continua muito abaixo da média, indicando que se poderá atingir nas próximas semanas o recorde mínimo de Inverno desde de que há registo.

Os recordes de temperatura do mês passado estão ligados ao forte fenómeno do El Niño, o aumento da temperatura das águas superficiais do oceano Pacífico, que se fez sentir nos últimos meses e que se sobrepõe ao aquecimento global. “As temperaturas médias globais à superfície dos continentes e dos oceanos em Janeiro de 2016 foram de 1,04 graus Celsius acima da temperatura média de 12 graus Celsius do século XX, as mais altas para Janeiro no registo dos últimos 137 anos, ultrapassando por 0,16 graus Celsius o recorde anterior atingido em 2007”, explica o relatório do NOAA. Este é o segundo maior registo mensal de sempre, “só superado por Dezembro de 2012, em que as temperaturas foram 1,11 graus Celsius acima da média”. Janeiro foi também o nono mês consecutivo em que as temperaturas de cada mês bateram recordes em relação ao registo dos anos passados para o mesmo mês.

Os cientistas não sabem dizer qual, ou se há, uma relação entre o El Niño e a Oscilação do Árctico. Apesar de haver uma tendência para o aumento de temperatura amplificar-se nas latitudes mais a norte, o mês passado foi “absurdamente quente em todo o Oceano Árctico”, disse Mark Serreze, director do Centro Nacional de Informação do Gelo e da Neve, citado pelo jornal norte-americano Washington Post.

Outras regiões especialmente quentes foram o Norte da Sibéria, onde a temperatura aumentou cinco graus acima da média, assim como partes do Sudeste e Sudoeste asiático, do Médio Oriente, uma região importante no Sul de África e regiões na América do Sul e na América Central.

Mas também houve regiões que estiveram anormalmente frias, mostrando que nas ciências climáticas nada é homogéneo. O Norte do México, a Península Escandinava, a Ásia Central perto da Mongólia e a região do oceano Atlântico a sul da Gronelândia registaram temperaturas abaixo da média para aquele mês.  

Sugerir correcção
Comentar